No debate actual entre tradição cultural e mudança cultural, podemos questionar qual destas oferece maior benefício a um povo.
A tradição defende que transmite os valores de um povo de geração em geração, e com isso transporta a sua força espiritual para o futuro; a mudança cultural, por seu lado, declara que faz evoluir os valores de um povo em resposta às alterações das circunstâncias, por vezes drásticas, preservando assim a força espiritual de um povo para se adaptar.
Poderíamos resolver este debate atribuindo à tradição o papel de preservar os princípios eternos e atribuído à mudança a função de encontrar práticas adequadas às circunstâncias. Assim, ambas – tradição e mudança – podem dar o seu contributo para a força espiritual de uma nação.
O Conceito de Nação em Evolução
Mas... toda esta lógica anterior baseia-se num povo que permanece junto, apesar das condições ao seu redor poderem mudar. E se parte desse povo decidisse permanecer onde está e outra parte decidisse migrar? Esta tem sido a nossa experiência global nos séculos XX e XXI.
Fomes, guerras, epidemias e colapso económico levaram muitos milhões de pessoas a abandonar as suas terras e nações de origem. Para todos nós, em qualquer país que estejamos a viver – quer tenhamos chegado aqui devido a alguma tragédia ou oportunidade, ou vivido aqui desde tempos imemoriais – estamos hoje a criar uma nação que exige uma nova força espiritual. Que nova mística, ethos, visão, valores e objectivos identificarão a nossa nação e lhe darão força espiritual?
Na natureza, as coisas mais complexas surgem porque a união beneficia os elementos envolvidos. Ao nível da sociedade humana, o estado-nação surge e mantém-se, essencialmente porque protege e ajuda todos os povos no interior das suas fronteiras. Mas reciprocamente, o próprio estado-nação beneficia com os talentos complementares de todos os seus povos. Esta é a relação de sinergia latente que deve ser desenvolvida entre indivíduos e o seu estado-nação.
Mas como pode uma nação alcançar um nível de desenvolvimento bem-sucedido se estiver a ser constantemente transformada por vagas de migrações?
Já em 1875, ‘Abdu’l-Bahá delineou um novo modelo de nação baseado na educação universal, que antecipava os posteriores movimentos europeus e americanos que defendiam a educação de adultos e a educação permanente. Anos mais tarde, dois documentos preparados por instituições Bahá’ís apresentaram uma imagem ampliada de desenvolvimento das nações: Liberdade e Direitos Individuais na Ordem Mundial de Bahá’u’lláh e A Visão da Unidade Racial: o Maior Desafio da América (The Vision of Race Unity: America’s Most Challenging Issue).
Nestes dois documentos, aparecem vários assuntos que nos ajudam a definir a influencia espiritual global de qualquer nação:
- o processo de amadurecimento humano aplica-se a uma nação;
- a reciprocidade entre indivíduos e a sua nação;
- a necessidade de unidade racial e harmonia como benefício para a nação;
- a contribuição única de cada nação para a comunidade mundial.
Comportamento das Nações: Adolescência, Maturidade e Senilidade
No caso das nações, a maturidade refere-se ao surgimento de sabedoria e padrões de nobreza, pacifismo e comportamento construtivo – algo difícil de imaginar quando as nações “entram em acção”.
Num período da história dominado por energia crescente – o espírito rebelde e actividade frenética da adolescência – é difícil identificar características distintivas de uma sociedade matura para a qual Bahá’u’lláh chama toda a humanidade. (A Casa Universal de Justiça, Individual Rights and Freedoms, p. 20)Para os adolescentes (e nações adolescentes) a noção de moderação ou auto-controle pode parecer semelhante a controle externo, semelhante à detestável censura. O princípio de auto-controlo baseia-se no reconhecimento de que qualquer acção, incluindo as benéficas, podem ser prejudiciais se levadas a um extremo. Isto aplica-se a acções físicas, como exercício ou condução de viaturas, ou acções culturais, como linguagem e literatura, ou ao vestuário ou comportamento público.
Do ponto de vista Bahá’í, o exercício da liberdade de expressão deve necessariamente ser disciplinado por uma compreensão profunda sobre as dimensões positivas e negativas da liberdade, por um lado, e da expressão, por outro. (Idem, p. 22)O subtil equilíbrio moral implícito nestas observações sobre liberdade de expressão é apenas uma das muitas instâncias de tensão criativa entre os valores que a sociedade deve assimilar à medida que amadurece. Como podemos reconciliar estas antigas tensões existentes entre os desejos dos indivíduos e as necessidades da sua cultura como um todo? Os Bahá’ís encontram o equilíbrio ao seguir o princípio de preferir o benefício superior quando o desejo do individuo e o bem-estar da sociedade entram em conflito.
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Texto Original: How Do Nations Evolve? (www.bahaiteachings.org)
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Elaine McCreary é uma professora que se tornou Bahá’í há 25 anos. Serviu no Centro Mundial Baha’i e vive no Canadá, onde é representante Bahá’í na equipa de capelanias multi-religiosa da Universidade de Victoria.
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