sábado, 29 de agosto de 2020

A Revelação Divina terminou?

Por Maya Bohnhoff.


O Propósito do Deus Uno e Verdadeiro - exaltada seja a Sua Glória - em revelar-Se aos homens, é pôr à mostra aquelas joias que jazem ocultas na mina dos seus próprios verdadeiros e mais íntimos seres. Que às diversas comunhões da terra e aos múltiplos sistemas de crença nunca seja permitido fomentar sentimentos de animosidade entre os homens é, neste Dia, a Essência da Fé de Deus e da Sua Religião. Estes princípios e leis, estes sistemas firmemente estabelecidos e poderosos, proveem de uma única Origem e são os raios de uma única Luz. O facto de que diferirem uns dos outros deve ser atribuído aos diversos requisitos das épocas em que foram promulgados. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CXXXII)
Recentemente um leitor apresentou-me uma série de questões de um amigo Cristão que falava ao coração das crenças Bahá’ís. As questões focavam-se especificamente nos ensinamentos de Bahá’u’lláh que descrevem a Fé de Deus como revelando-se progressivamente e de acordo com a nossa capacidade, em contraste com a crença prevalecente entre o Cristianismo de que Jesus é, para todo o sempre, a única fonte de orientação divina.

A primeira pergunta: se os Bahá’ís acreditam em todas estas religiões anteriores, como explicam as inconsistências entre elas? Não podem ser todas verdadeiras, pois não?

A segunda pergunta: Jesus disse várias vezes aos Seus seguidores que Ele era o único caminho para conhecer Deus; então como pode existir outro caminho?

Estou bastante familiarizada com estas perguntas - porque são as mesmas que coloquei quando ouvi falar da Fé Bahá’í pela primeira vez. Fiquei surpreendida com as respostas e com o local onde as encontrei: a Bíblia.

Como Cristã, eu entendia que aquilo a que eu chamava Antigo Testamento era a Tanakh da fé Judaica. Esta escritura é constituída pela Lei (a Torá), os Profetas (Neviim) e as Escrituras (Ketuvim). O principal Profeta da fé Judaica é Moisés. E também entendia o seguinte: apesar dos teólogos Judaicos terem considerado a mensagem de Jesus como sendo contraditória com a fé ensinada por Moisés, Jesus não considerava a Sua fé dessa forma. E nem eu, nem nenhum Cristão considerávamos contraditória. Pelo contrário, acreditávamos que Jesus cumprira a fé de Moisés.

De facto, é o próprio Jesus que o afirma: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.” (Mt 5:17)
Assim, isto levanta uma outra pergunta: serão o Judaísmo e o Cristianismo religiões diferentes ou fases diferentes da mesma religião?

No mínimo, os Cristãos concordam que não estão em conflito – Moisés não era falso porque Jesus era verdadeiro e vice-versa. E agora temos ainda mais uma pergunta: porque é que têm ensinamentos diferentes? Porque é que Jesus manteve algumas coisas – os mandamentos essenciais de amar a Deus e aos nossos semelhantes – e alterou outras – as leis do divórcio e do Sábado?

Esta questão não requer interpretação: Jesus explica-a em Mateus 19:7-9 quando os Fariseus perguntaram porque é que Moisés lhes deu uma lei de divórcio diferente. Ele diz: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio.

É isto que Bahá’u’lláh pretende dizer quando fala de revelação progressiva. Moisés ensinou uma coisa devido à dureza do coração humano (isto é, a falta de capacidade espiritual num certo momento); Jesus ensinou algo diferente, não porque Deus mudou, mas porque nós mudámos. Além disso, Jesus diz aos Seus discípulos que não lhes deu um conhecimento completo, porque eles não o poderiam suportar. João 16: 12-13 afirma: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a verdade…

Por este motivo, a Bíblia ilustra uma única fé, progressivamente revelada por Moisés e Jesus – mensageiros ungidos de um único Deus. Existe continuidade: Moisés ensinou certas coisas, algumas das quais Cristo continuaria a ensinar e outras iria alterar. E Cristo omitiu coisas porque nem os Seus próprios discípulos as poderiam compreender, e prometeu que outro Mensageiro (o Espírito da Verdade) virá ensinar mais tarde.

Isto, em parte, explica as diferenças entre a fé ensinada por Moisés e a fé ensinada por Jesus. Estas focam-se em diferentes necessidades e capacidades. Da mesma forma que um professor não ensina as mesmas coisas a alunos do primeiro e do nono ano, também Moisés e Cristo ensinaram coisas diferentes aos Seus alunos. Bahá’u’lláh descreve isso desta maneira:
O Médico Omnisciente tem o Seu dedo no pulso da humanidade. Ele percebe a doença e, na Sua sabedoria infalível, prescreve o remédio. Cada era tem o seu próprio problema, e cada alma a sua aspiração particular. O remédio que o mundo necessita nas suas aflições actuais nunca poderá ser o mesmo exigido numa era posterior. Preocupai-vos impacientemente com as necessidades da era em que viveis e concentrai as vossas deliberações nas suas exigências e nos seus requisitos. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CVI)
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Texto original: Has Revelation Ceased? (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.




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