sábado, 6 de fevereiro de 2021

O Futuro da Nossa Eternidade

Por David Langness.


Ó FILHO DO ESPÍRITO!
Nobre eu te criei, mas tu tens-te rebaixado. Ergue-te, pois, para aquilo que foste criado. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #22)

O belíssimo conceito da nobreza humana surge em repetidas ocasiões nos ensinamentos Bahá’ís:

…todas as coisas, na sua mais íntima realidade, testemunham a revelação dos nomes e atributos de Deus dentro de si próprias. Cada uma, de acordo com a sua capacidade, mostra e expressa o conhecimento de Deus. Tão poderosa e universal é esta revelação, que envolveu todas as coisas, visíveis e invisíveis… O homem, a mais nobre e perfeita de todas as coisas criadas, superou-as a todas na intensidade desta revelação e é uma expressão plena da sua glória. (Bahá’u’lláh, O Livro da Certeza, ¶109)

Ao contrário de algumas tradições e dogmas, os ensinamentos Bahá’ís não consideram os seres humanos como inerentemente pecadores, perversos ou imorais. Os ensinamentos Bahá’ís não dizem que o ser humano tenha caído em desgraça em tempos passados. E os Bahá’ís rejeitam conceitos como pecado original e culpa colectiva. Os Bahá’ís rejeitam categoricamente a ideia de que os seres humanos sejam naturalmente maldosos ou malignos.

Pelo contrário, tal como indicado nesta Palavra Oculta de Bahá’u’lláh, os Bahá’ís acreditam que Deus criou os humanos como criaturas nobres, inerentemente espirituais e com um enorme potencial de bondade.

Os ensinamentos Bahá'ís dizem que cada um de nós tem uma natureza dupla. Nesta natureza há uma tendência proveniente do mundo material, onde se afirmam os nossos instintos animais naturais dos nossos corpos, e as nossas origens como mamíferos. E existe uma outra tendência que vem do reino espiritual; com o seu desenvolvimento, podemos despertar o nosso potencial interior e os nossos instintos superiores – amor, felicidade eterna, bondade, paciência, esperança, fé, etc.

Necessitamos destes dois poderes para nos realizarmos neste mundo, dizem-nos as Escrituras Bahá’ís. E é óbvio que esta existência material pode influenciar negativamente o nosso carácter, permitindo uma predominância da nossa natureza inferior, e a supressão da natureza espiritual superior. A nossa natureza inferior sempre aspira aos prazeres materiais e aos confortos deste mundo; e a nossa natureza espiritual deseja os benefícios intangíveis e mais elevados do amor, do altruísmo, e da unidade com os outros. Os Bahá’ís acreditam que em cada pessoa se enfrentam constantemente estas duas forças. A ascendência da nossa natureza espiritual, diz-nos Bahá’u’lláh, define o nosso propósito aqui na terra:

Os Profetas e Eleitos foram todos incumbidos pelo Deus Uno e Verdadeiro, magnificada seja a Sua glória, de nutrir as árvores da existência humana com as águas vivificadoras da rectidão e da compreensão, para ali possa surgir o que Deus depositou no mais íntimo dos seus seres. Como bem pode ser observado, cada árvore produz um certo fruto, e uma árvore estéril só serve para o fogo. O objetivo desses Educadores, em tudo o que disseram e ensinaram, foi preservar a excelsa posição do homem. (Kitab-i-Aqdas, Perguntas e Respostas, #106)

Esta Palavra Oculta, ao contrastar a nobreza e o rebaixamento, resume o dilema humano. Se desenvolvemos o nosso lado espiritual, aproximamo-nos de Deus. Se vivemos apenas para os aspectos físicos do mundo, corremos o risco de atrofiar o nosso crescimento espiritual. Se desejamos apenas as coisas materiais, caímos na ganância, na crueldade, na injustiça – tudo produtos da nossa natureza inferior. Se vivemos para os objectivos mais elevados da vida, podemos gradualmente expor a nossa natureza divina, mostrando amor, misericórdia, verdade e justiça. Todas as qualidades nobres e bons hábitos pertencem à natureza espiritual do ser humano, e todas as nossas infelicidades, imperfeições, pecados e actos maldosos pertencem à nossa natureza material. Cada um de nós tem o poder, a liberdade de escolha e o de constante de decidir que caminho quer seguir.

Este conceito que é transversal aos ensinamentos Bahá’ís, reflecte-se nos ensinamentos centrais do Budismo sobre as Quatro Nobres Verdades, que circulam em torno da ideia de dukkha, ou sofrimento humano. Os ensinamentos Budistas, tal como os ensinamentos Bahá’ís, salientam que a existência humana implica sempre sofrimento; e que o único verdadeiro remédio para o inevitável sofrimento nesta vida material é o desenvolvimento da nobreza espiritual. Devido à constante instabilidade de toda a alegria material, Buda e Bahá’u’lláh dizem-nos que o caminho do esclarecimento envolve a ascensão em direcção ao nosso verdadeiro destino espiritual.

Este conselho espiritual profundo - que é apresentado por todas as religiões – sugere que devemos ter uma vida que eleve as nossas almas, em vez de nos rebaixarmos, focando-nos apenas na vida apenas material. Se a nossa natureza espiritual é dominante, podemos ascender à luz; se a nossa natureza material é dominante, se rejeitamos as nossas almas, se ignoramos os mensageiros de Deus e permitimos que os nossos desejos mais baixos nos conquistem, então podemos cair nas trevas.

O desenvolvimento da nossa natureza material tem uma data limite de validade; mas o desenvolvimento da nossa natureza espiritual não tem limite temporal. Podemos continuar a progredir, aprender e a crescer espiritualmente ao longo da eternidade – e as Escrituras Bahá’ís pedem-nos que esforcemos para conseguir um desenvolvimento espiritual interminável. Quando trabalhamos para aumentar a nossa sensibilidade espiritual, para desenvolver as nossas almas e alargar os nossos horizontes espirituais, promovemos a nossa existência eterna e investimos no futuro da nossa eternidade.

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Texto original: The Future of Our Forever (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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