sábado, 15 de maio de 2021

Quando Constantino se converteu ao Cristianismo

Por Tom Tai-Seale.


O mundo mudou quando Constantino (272-337 d.C.), o Imperador Romano, se tornou cristão. Mas ele converteu-se?

Sob a sua autoridade - que se iniciou começou três séculos após a vida de Cristo - Constantino acabou com a perseguição aos Cristãos; ofereceu apoio imperial à igreja; financiou grandes projetos de construções cristãs; e tentou unir os teólogos da Igreja que pregavam "desavenças ...", como ele escreveu, "sobre assuntos pequenos e muito triviais." Infelizmente, essas “questões triviais” – aquilo a que agora chamamos de controvérsia ariana - acabariam por envolver um continente inteiro e destruir milhares de vidas.

A controvérsia ariana provocou um dos primeiros grandes cismas no Cristianismo. Envolveu uma série de argumentos teológicos que surgiram entre Ário (um sacerdote que enfatizou as diferenças entre Deus e Cristo) e Atanásio de Alexandria (que acreditava na doutrina da trindade, que Deus o pai era totalmente "personificado" por "Deus filho"). Essa doutrina trinitária, que é hoje a doutrina oficial da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa Oriental, gerou muita confusão entre os cristãos da época e, por fim, foi motivo de perseguição e conflito violento.

A doutrina da trindade é explicada metaforicamente pelos ensinamentos Bahá'ís, como podemos ler no livro "Respostas a Algumas Perguntas" por ‘Abdu'l-Bahá, o filho e sucessor de Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í:

...a realidade de Cristo era um espelho límpido onde o Sol da Verdade – isto é, a Essência divina – apareceu e brilhou com perfeições e atributos infinitos. Não é que o Sol da Verdade, que é a Essência da Divindade, alguma vez se tenha dividido ou multiplicado – porque permanece uno – mas tornou-se manifesto no espelho. É por isso que Cristo disse “O Pai está no Filho”, significando que aquele Sol está manifesto e visível neste espelho… (SAQ 27:7-9)

O imperador Constantino tentou unir as opiniões divergentes de arianos e trinitários para que se pudesse definir uma versão oficialmente aprovada do Cristianismo em todo o Império Romano. Ele ordenou que se realizasse o Primeiro Concílio de Niceia onde foi aprovada uma doutrina oficial – o Credo Niceno – que tem prevalecido desde então.

Um Militar feito Imperador


Constantino foi um governante romano, filho do imperador Constâncio; desde cedo desejou tornar-se imperador. Sendo um soldado criado segundo a mentalidade combativa do seu pai, lutou para se impor aos inimigos em batalhas por todo o império para atingir o seu objectivo. Em 306, usando a intriga política, tornou-se vice-imperador - um César - do império ocidental, e mais tarde proclamou-se “Imperador Augusto” embora já houvesse dois imperadores titulares.

Numa jogada política em 311, ofereceu a sua meia-irmã em casamento ao Imperador do Ocidente (Licínio) e enfrentou Maxêncio, um dos grandes inimigos de Licínio. Maxêncio ambicionava tornar-se imperador, pois era filho do imperador ocidental que governou antes do pai de Constantino. Constantino derrotou Maxêncio (já bastante enfraquecido) na famosa batalha da Ponte Mílvia (312 d.C.). Nesse mesmo ano, entrou em Roma e ter-se-á convertido ao Cristianismo.

A sinceridade da conversão de Constantino há muito que é debatida entre os investigadores. Não há nada de santidade na forma como ele se tornou imperador; a sua conversão ao Cristianismo não mudou os aspectos essenciais do seu comportamento político, nem o impediu de continuar ou iniciar novas guerras. Em 313, Licínio tornou-se imperador do Oriente, enquanto Constantino era aclamado Imperador do Ocidente. Inicialmente os dois imperadores mantinham boas relações e ambos assinaram o Édito de Milão que dava protecção legal aos Cristãos.

Não demorou muito para que Constantino e Licínio se desentendessem e se envolvessem em batalhas por todo o império; Constantino alcançou a vitória final na batalha final em Crisópolis, no lado asiático do Bósforo, em 324. Constantino prometeu segurança e protecção a Licínio, mas no ano seguinte matou-o, juntamente com o filho (sobrinho de Constantino). Constantino tornou-se assim o único governante do Império Romano - Oriente e Ocidente. Mas ainda iria enfrentar sérias provações. Em 326 matou o seu filho mais velho, Crispo, acusando-o falsamente de imoralidade; depois matou a sua segunda esposa, Fausta, culpando-a de o ter incitado contra Crispo. As vidas dos imperadores romanos sempre estiveram cheias de intrigas, batalhas e chacinas; e também usaram a força nos assuntos religiosos, em total violação dos ensinamentos de Cristo.

Esta “conquista” governamental da teologia e da prática cristãs resultou num casamento profano entre governantes e poder papal que acabou por levar a guerras terríveis onde se invocava o nome de Cristo, conforme explicado por 'Abdu'l-Bahá no seu livro “O Segredo da Civilização Divina”:

...no final do século V da Hégira, o Papa, ou o Chefe da Cristandade, levantou um grande protesto e clamor pelo facto dos lugares sagrados para os cristãos, tais como Jerusalém, Belém e Nazaré, terem caído sob domínio Muçulmano, e incitou os reis e plebeus da Europa a empreender o que ele considerou uma guerra santa. O seu clamor apaixonado tornou-se tão audível que todos os países da Europa responderam, e reis cruzados, encabeçando inumeráveis exércitos, atravessaram o Mar de Marmara e tomaram o seu caminho no continente Asiático. Naqueles tempos, os califas fatímidas governavam o Egito e alguns países do Ocidente, e a maior parte do tempo os reis da Síria, isto é, os seljúcidas, também estavam sob o seu domínio. Em resumo, os reis do Ocidente, com os seus incontáveis exércitos, lançaram-se sobre a Síria e o Egito, e houve guerra ininterrupta entre os soberanos sírios e aqueles da Europa durante duzentos e três anos. Os reforços estavam sempre a chegar da Europa, e repetidas vezes os soberanos ocidentais atacaram e tomaram todos os castelos na Síria e, muitas vezes, os reis do Islão libertaram-nos das suas mãos. Por fim, Saladino, no ano 693 A.H., expulsou os reis europeus e os seus exércitos do Egipto e da costa síria. Definitivamente vencidos, eles regressaram à Europa. No decorrer destas guerras das Cruzadas, milhões de seres humanos pereceram.

Podemos acabar com este tipo de violência relacionada com a religião, afirma a mensagem central dos ensinamentos Bahá’ís, assim que reconhecermos e agirmos de acordo com o princípio de Bahá'u'lláh da unidade essencial de todas as crenças.

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Texto Original: When Constantine Converted to Christianity (www.bahaiteachings.org)


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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas AM University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahá’í: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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