sábado, 19 de junho de 2021

Cercar os pobres com ternura

Por David Langness.


Ó FILHO DO ESPÍRITO!
Não te vanglories acima do pobre, pois Eu guio-o no seu caminho, enquanto te vejo na tua condição perversa e te confundo para sempre. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #25)

Os ensinamentos Bahá’ís têm enorme simpatia, cuidado e preocupação com os pobres. Tal como o Budismo, o Cristianismo e todas as outras grandes religiões, a Fé Bahá’í acredita que os pobres merecem, precisam e beneficiam com o nosso amor e serviço.

O nosso mundo contemporâneo, especialmente algumas sociedades capitalistas, tem muitas formas para tratar os pobres com um desprezo, como se eles merecessem a sua situação. Bahá’u’lláh ensina exactamente o oposto:

Se encontrardes os humilhados ou os oprimidos, não vos afasteis desdenhosamente deles, pois o Rei da Glória sempre olha por eles e cerca-os com uma tal ternura que ninguém pode sondar, salvo aqueles que permitiram que as suas vontades e os seus desejos se fundissem na Vontade do vosso Senhor, o Misericordioso, o Sapientíssimo. Ó vós, os ricos na terra! Não fujais da face do pobre que jaz no pó; pelo contrário, criai amizade com ele e deixai-o contar a história das desgraças com que o insondável Decreto de Deus o afligiu. Pela retidão de Deus! Enquanto conviveres com ele, a Assembleia no alto estará a olhar por vós, a interceder por vós, a enaltecer os vossos nomes e a glorificar a vossa acção. (Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, CXLV)

E também:

Sabei que os pobres são a responsabilidade de Deus entre vós. Acautelai-vos para não trair a Sua confiança, para não agir de forma injusta com eles, e que não sigais nos caminhos dos traiçoeiros. (The Proclamation of Baha'u'llah, p. 9)

Na verdade, na vida de Bahá'u'lláh vemos exemplos desse ensinamento. Nascido numa família nobre cujas raízes se estendiam às grandes dinastias do passado imperial da Pérsia, Bahá’u’lláh recusou uma função governamental – contrariando as expectativas dos Seus familiares. Em vez disso, quando jovem, Bahá’u’lláh decidiu dedicar as Suas energias a uma série de causas humanitárias, que no início da década de 1840 Lhe valeram ser conhecido na Pérsia como o "Pai dos Pobres". Vários parentes temiam que Bahá’u’lláh gastasse completamente os recursos da Sua família, com o Seu empenho no apoio e protecção aos pobres do Seu país.

Mas tudo isto mudaria em 1844, quando Bahá’u’lláh se tornou um dos principais apoiantes da recém-nascida Fé Bábi. Esse novo movimento revolucionário mudou o rumo da história da Pérsia. Alterou a vida de milhões de pessoas, desafiou abertamente a corrupta hierarquia islâmica - e resultou em quarenta anos de exílio, tortura e prisão ao próprio Bahá’u’lláh.

Hoje, em todo o mundo, a Fé Bahá’í coloca uma enorme ênfase na abordagem e resolução do problema da pobreza.

Em muitos aspectos, os Bahá’ís pensam na pobreza de forma diferente da maioria das pessoas. A pobreza material – falta de comida, água, trabalho, meios de subsistência básicos – pode ter um tremendo impacto negativo, e os Bahá’ís trabalham para diminuir e eliminar a pobreza material, trazendo os ensinamentos progressistas de Bahá’u’lláh para as suas vidas e para as vidas dos outros; e também aplicando os princípios Bahá’ís aos problemas mundiais.

Mas os ensinamentos descrevem a pobreza espiritual – a falta de alegria, felicidade, vida com sentido, alma radiante, e crença num Criador amoroso – como uma condição ainda mais dolorosa:

A essência da compreensão é testemunhar a própria pobreza, e submeter-se à vontade do Senhor, o Soberano, o Misericordioso, o Omnipotente...
A essência da caridade é para o servo relatar as bênçãos do seu Senhor, e dar graças a Ele em todos os momentos e sob todas as condições.
A essência da riqueza é o amor a Mim. Quem Me ama é o possuídor de todas as coisas, e quem não Me ama é, na verdade, um dos pobres e necessitados. Isto é o que o Dedo da Glória revelou… (Bahá'u'lláh, Baha'i World Faith, p. 141)

A pobreza espiritual - descrita aqui por Bahá’u’lláh como falta de amor – pode afectar todos nós. Talvez seja esse o significado das misteriosas palavras finais na frase das Palavras Ocultas, quando afirma (na perspectiva do Criador) que nos “confundirá para sempre”. Numa oração, Ele expressa a mesma ideia, dirigindo-Se a Deus e dizendo “confundirá a alma daquele que procura as coisas que são contrárias à Tua Vontade” (Prayers and Meditations by Baha'u'llah, CLXXVIII). Se seguirmos a vontade de Deus – amarmo-nos uns aos outros e amar toda a humanidade – as riquezas espirituais criadas pelo amor sustentar-nos-ão nesta vida e na vindoura. Bahá’u’lláh promete que a verdadeira riqueza da nossa vida interior, que podemos manter quando a nossa existência material termina, ficará connosco durante toda a eternidade.

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Texto original: Surround the Poor With (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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