sábado, 31 de julho de 2021

Porque não podemos esquecer as duras lições da pandemia

Por Badi Shams.


Alguns países estão gradualmente a levantar as restrições contra a pandemia do COVID-19, e esperemos que em breve a vida volte ao normal. Mas como será o “novo normal”?

Por muito dolorosa e desafiadora que seja a pandemia, ela trouxe para a ribalta muitas questões para a humanidade ponderar e resolver. É óbvio que não tratámos adequadamente estes problemas no passado. Mas como as pessoas falam sobre voltar à “vida do costume” quando deixarmos de ter medo do COVID-19, temo que as lições que a pandemia nos trouxe serão rapidamente esquecidas.

Fragilidade Humana – e a nossa Resistência Espiritual

A crise do COVID mostrou-nos que não somos invencíveis. Não importa quantas invenções e descobertas façamos ou quantos aparelhos criamos para tornar a vida mais fácil, não podemos proteger-nos de futuras pandemias que matarão milhões de pessoas se não nos unirmos e superarmos as nossas diferenças. Um minúsculo vírus, sabemos agora, pode colocar em risco a sobrevivência da humanidade. Este facto chocante foi um despertar agreste para muitas pessoas.

No entanto, a pandemia também demonstrou a genialidade e resiliência do espírito humano que nos foi dado por Deus, enquanto nos apressávamos a curar os doentes, a desenvolver e distribuir vacinas e apoiar-nos uns aos outros durante uma crise económica global.

Esta resiliência ajudou a humanidade a progredir desde o início da sua existência como espécie, quando enfrentávamos animais ferozes, passavam por fomes e suportávamos guerras. O espírito humano pode resolver problemas por muito difíceis e complexos que sejam. ’Abdu’l-Bahá – filho e sucessor de Bahá’u’lláh, o fundador da Fé Bahá’í – escreveu:

Não olheis ao princípio dos vossos problemas; prendei os vossos corações aos fins e aos resultados. O período actual é um tempo de sementeira. Está, sem dúvida, repleto de perigos e dificuldades, mas no futuro muitas colheitas serão recolhidas, e os benefícios e resultados tornar-se-ão aparentes. Quando se considera o problema e o fim, despontam alegria e felicidade inesgotáveis.

A Beleza e a Sensibilidade da Humanidade

Considerávamos muitas coisas como garantidas até que a pandemia nos lembrou como elas são vitais para o nosso bem-estar emocional e fisiológico

Para mim, a maior perda foram os sorrisos. Adoro sorrir e costumo dizer – em tom de brincadeira – que os meus sorrisos se perderam, porque estavam tapados pela minha máscara. Foi uma tragédia não tocar ou abraçar os nossos familiares, e espero que nunca esqueçamos como isso é essencial para a nossa felicidade.

À medida que percebemos que existem outras coisas na vida, o dinheiro torna-se menos importante. Passámos a preocupar-nos menos com as aparências físicas. Foi interessante para mim ver tantos cantores que admirei actuar em espectáculos virtuais sem todas as ferramentas que melhoram a qualidade das suas vozes. Pude ouvir as suas vozes naturais e apreciá-las mais do que as versões produzidas profissionalmente. Esperemos que estes tempos nos tenham ajudado a aceitarmo-nos a nós próprios e aos outros tal como somos.



A Importância da Natureza

Esta lição foi interessante por dois motivos: primeiro, afirmou os benefícios dos poderes curativos da natureza para a psique e a felicidade dos humanos; segundo, recordou-nos do poder da natureza de se curar a si própria. Durante a pandemia, a natureza teve uma recuperação notável, provando que podemos resolver a nossa crise ambiental se tomarmos medidas para reduzir a nossa pegada de carbono.

Espero que ao vermos essas mudanças nos tenha tornado mais sensíveis às necessidades da natureza e mais motivados para tentar proteger o nosso meio ambiente antes que seja demasiado tarde. As escrituras dizem:

Os elementos e os organismos inferiores estão sincronizados no grande plano da vida. Irá o homem – que tem condição infinitamente superior – ser antagónico e destruir essa perfeição?

“Estamos juntos nisto”

As pessoas comuns e os políticos têm repetido esta frase vezes sem conta. Alguns usam-na como slogan sem perceber plenamente as suas implicações.

A pandemia deu maior visibilidade às disparidades em termos oportunidades, saúde e segurança financeira nas comunidades de diferentes raças e género, entre as pessoas activas. Pessoas de cor sofreram uma taxa de infecção maior e tiveram mais problemas económicos – a juntar a uma nova onda de violência racial nos Estados Unidos - enquanto as mulheres numa taxa maior que os homens. Embora supostamente estivéssemos todos juntos nisto, muitos perceberam que estavam em desvantagem. Os apoiantes da mudança comunicam que o tempo do diálogo já passou e que precisamos tomar medidas para corrigir os erros do passado.

Também aprendemos que não podemos estar dependentes das fronteiras nacionais para resolver o problema da pandemia. Embora apliquemos restrições ao movimento, as restrições existem porque todos sabemos que enquanto as pessoas não forem todas vacinadas, o problema não será resolvido.

Perdemos muito durante esta pandemia. Milhões de vidas foram interrompidas. Milhares de milhões de dólares foram gastos e mais serão gastos na recuperação económica. Existem cicatrizes emocionais para curar. Seria ainda mais trágico se todo o sofrimento fosse em vão e as lições fossem esquecidas.

A importância da Oração e da Meditação

Durante os momentos mais difíceis da pandemia, muitos de nós encontramos conforto na oração e nos ligámo-nos novamente com as nossas rotinas de meditação. Muitos adotaram a meditação nas suas vidas diárias ou sentiram fortemente a necessidade de orações para a sua saúde espiritual - mesmo aqueles que antes não consideravam a oração como uma opção para sua saúde espiritual.

Para mim, meditação e oração tornaram-se parte essencial da minha rotina diária. Estas palavras de 'Abdu'l-Bahá tranquilizaram-me e ajudaram-me a ver a luz no fundo do túnel, enquanto eu me esforçava por manter uma atitude positiva:

A escuridão desta noite sombria terminará. Mais uma vez, o Sol da Realidade surgirá no horizonte dos corações. Sejam pacientes, esperem, mas não fiquem parados; trabalhem enquanto esperam; sorriam quando estiverem cansados da monotonia; sejam firmes enquanto tudo à vossa volta for abalado; alegrem-se quando a cara feia do desespero sorrir para vós; falem em voz alta quando as forças malévolas do mundo inferior tentarem esmagar as vossas mentes; sejam valentes e corajosos quando os homens à vossa volta se encolhem de medo e cobardia ... Sigam o vosso caminho até ao fim. O dia brilhante está a chegar.

A subitaneidade da pandemia e a velocidade com que se espalhou fez-nos perceber como a vida é incerta, e como o nosso mundo pode mudar drasticamente, a qualquer momento. Deu-nos um vislumbre dos problemas que se poderiam desenvolver se os países não trabalhassem juntos para resolver os problemas, pondo de parte a ganância política e financeira, e mostrou-nos como nos podemos preparar para esses eventos futuros.

Espero que - mesmo se voltarmos totalmente ao “normal” - em breve, possamos lembrar essas lições para que a tragédia seja evitada e possamos criar um mundo mais pacífico e unido.

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Texto original: Why We Can’t Forget the Pandemic’s Hard-Earned Lessons (www.bahaiteachings.org)


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Badi Shams é um professor reformado que vive na ilha de Vancouver (Canadá). Tem um interesse especial pela área da economia, tendo publicado as obras "Economics of the Future" e mais recentemente "Economics of the Future Begins Today". O seu website sobre economia de inspiração Bahá’í é www.badishams.net.

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