sábado, 26 de março de 2022

Acabar com a tirania e a opressão

Por Rodney Richards.


Estou zangado. Sei que devo transformar esta raiva em amor e compreensão, ou pelo menos, em paciência e esperança de mudança, de acordo com os ensinamentos Bahá'ís:

...o meu primeiro conselho é este: associai-vos uns com os outros com a maior bondade; sede como uma única família; continuem nesse caminho. Que as vossas intenções sejam uma única: que o amor impregne e comova os corações dos outros, de modo que eles possam crescer para se amar uns aos outros, e todos alcancem esta condição de unicidade. (The Promulgation of Universal Peace, p.336-337)

Tento seguir este belo conselho de 'Abdu'l-Bahá. Por vezes, consigo. No entanto, sou humano e, como todos os humanos, fico zangado.

Ainda não adquiri a capacidade natural de controlar as minhas emoções e transformar os sentimentos negativos em sentimentos positivos. Ainda estou a desenvolver essa virtude espiritual. Falar, ler textos inspiradores e orar deixa-me calmo, e fico animado com os passos iluminados de muitas pessoas que desejam e trabalham pela paz.

Mas estou farto e cansado de derramamento de sangue causado por homens megalómanos que agem como líderes dos seus povos. As suas ações deixam claro que eles querem o poder apenas para si, de forma legitima ou não. Eu odeio as suas guerras e ameaças de guerra. E desprezo a discórdia, a opressão, a subjugação e a restrição das liberdades que eles impõem, seja nos seus próprios países ou noutras nações. Para eles, o poder significa apenas um espaço maior para adquirir riqueza, prestígio e capacidade de expandir a sua influência. Para nós, significa morte e destruição.

Aí está! Já disse o pior!

Acho difícil dar a outra face quando se trata de sofrimento humano desnecessário causado, principalmente, por homens sedentos de poder. Como homem, não vejo, e não sinto, necessidade de dominar os outros, independentemente da sua posição ou relacionamento comigo. Fui educado pela minha mãe e por outros a mostrar respeito e a não julgar as condições dos outros, e a não me elevar acima das necessidades dos outros. Mas ainda tenho que desenvolver a capacidade 100% natural de transformar pensamentos de raiva em pensamentos pacíficos, tal como ‘Abdu'l-Bahá nos ordenou:

Exorto a cada um de vós que concentre todos os pensamentos do vosso coração no amor e na unidade. Quando surgir um pensamento de guerra, fazei-lhe oposição com um pensamento mais forte de paz.
Um pensamento de ódio deve ser destruído por um pensamento mais poderoso de amor.
Pensamentos de guerra trazem destruição a toda harmonia, bem-estar, tranquilidade e contentamento.
Pensamentos de amor constroem a fraternidade, a paz, a amizade e a felicidade.
Quando os soldados do mundo sacam as suas espadas para matar, os soldados de Deus apertam as mãos uns dos outros!

Neste momento, tal como estive ao longo da minha vida, estou cansado de tiranos que nos assustam e pior, mutilam e matam os seus próprios cidadãos ou os de outras nações, dando ordens aos seus exércitos de soldados e máquinas de matar. Não quero vê-los mortos, mas em legítima defesa, permitida por Deus, eu e outros devemos agir contra as políticas anti-humanas ou agressões físicas ou seremos todos subjugados, mutilados, deslocados e destruídos.

O que posso eu fazer? Eu não aguento mais, e não entendo por que motivo eu ou qualquer outra pessoa devemos aguentar isto. Porque deixamos estes tiranos controlar o mundo? O mundo não precisa de outro Holocausto, mas agora está acontecendo diariamente em menores dimensões.

Sejamos claros: os ensinamentos Bahá'ís dizem repetidamente que a guerra é uma abominação e que as acções de tiranos e belicistas são malignas. As figuras centrais da Fé Bahá'í denunciaram e chamaram todos eles a prestar contas pelas suas acções que matam a civilização. Sempre que parece que estamos a avançar nos nossos esforços pela paz, prosperidade e cooperação, os tiranos destroem tudo e fazem o mundo regredir.

Abdu’l-Bahá chegou a dizer o seguinte:

E se ele dirigisse a sua raiva e ira contra os tiranos sanguinários que são como bestas ferozes, isso também seria muito louvável. Mas se ele mostrar essas qualidades noutras condições, isso seria merecedor de censura.

Assim, os Bahá'ís acreditam que eu, você, todos nós, o mundo inteiro, podemos agir. Podemos e devemos amar a paz e a cooperação, e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para as construir e manter. Ao nível individual, nós mesmos podemos demonstrar amor e paz para com os outros. Podemos ajudar as causas que combatem a injustiça e as perseguições tirânicas. Podemos levantar as nossas vozes e apoiar movimentos e políticas que promovam os direitos humanos e a democracia, como a Declaração de Direitos Humanos da ONU, e encorajar os nossos representantes eleitos a fazer cumprir os tratados de paz.

Podemos derrotar esses tiranos, se nos unirmos. Nesse sentido, possivelmente a maior acção que podemos tomar é trabalhar para garantir que as nações se esforçam para servir humilde e generosamente os seus cidadãos, e também não invadem outras nações soberanas. Para esse fim – enfatizam os ensinamentos Bahá'ís – podemos unir-nos a outros que se dedicam a construir uma estrutura de governação global – como os Bahá'ís do mundo fazem todos os dias.

Bahá'u'lláh escreveu: "A terra é um só país e a humanidade os seus cidadãos". Para acabar com a tirania, Bahá'u'lláh também disse, devemos tornar o nosso apelo à unidade numa realidade global:

Nestes dias, o tabernáculo da justiça caiu nas garras da tirania e da opressão. Suplicai ao Deus Uno e Verdadeiro - exaltada seja a Sua glória - que não prive a humanidade do oceano da verdadeira compreensão, pois fossem os homens apenas prestar atenção, apreciariam prontamente que tudo o que emanou e foi enviado pela Pena da Glória é como o sol para o mundo inteiro, e que nisso baseiam-se o bem-estar, a segurança e os verdadeiros interesses de todos os homens; de outra forma, a terra será atormentada por uma nova calamidade em cada dia e surgirão distúrbios sem precedentes. Deus permita que os povos do mundo sejam benevolamente ajudados a preservar a luz dos Seus afectuosos conselhos no globo da sabedoria. Nutrimos a esperança de que cada um se possa adornar com as vestes da verdadeira sabedoria, a base do governo do mundo. (Bahá’u’lláh, Epístola a Maqsud, ¶11)


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Texto original: May Tyranny and Oppression Cease (www.bahaiteachings.org)

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Rodney Richards é escritor técnico de profissão e trabalhou durante 39 anos para o Governo Estadual de New Jersey. Reformou-se em 2009 e dedicou-se à escrita (prosa e poesia), tendo publicado o seu primeiro livro de memórias Episodes: A poetic memoir. É casado, orgulha-se dos seus filhos adultos, e permanece um elemento activo na sua comunidade.

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