sábado, 21 de maio de 2022

Oração Diária, Meditação, Reflexão

Por David Langness.
 

Ó FILHO DO SER!
Examina-te a ti próprio, a cada dia, antes de seres chamado a prestar contas, pois a morte, inesperadamente, te chegará e serás chamado a responder pelos teus actos. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #31)

Os ensinamentos Bahá'ís pedem a cada um de nós que reflicta, todos os dias, sobre a sua vida espiritual. Os Bahá'ís meditam e oram diariamente, e nesta impressionante frase das Palavras Ocultas, Bahá'u'lláh pede a cada pessoa que se prepare para a transição deste plano físico para o reino do espírito, prestando contas "a cada dia".

Abdu'l-Aziz
Essa mensagem profunda - uma lembrança da nossa mortalidade e de uma prática espiritual consistente, que Bahá'u'lláh pede a todos que adoptemos - foi dirigida directamente ao sultão do Império Otomano, Abdu'l-Aziz. Ele era um soberano poderoso, responsável por vários exílios de Bahá'u'lláh; Abdu'l-Aziz foi também um dos destinatários da famosa Epístola aos Reis, revelada de Bahá'u'lláh no final da década de 1860. Essa epístola pedia justiça para os pobres, advertia o sultão sobre a grande disparidade entre riqueza e pobreza que Bahá'u'lláh viu no seu reino, e pediu-lhe que "temesse os suspiros dos pobres":

Não ultrapasses os limites da moderação e trata com justiça aqueles que te servem. Gratifica-os de acordo com as suas necessidades e não ao ponto de lhes permitir acumular riquezas para si próprios, adornar as suas pessoas, embelezar as suas casas, adquirir coisas que em nada lhes são benéficas, e serem contados entre os extravagantes. Tratai-os com justiça firme, de modo que nenhum deles sofra privações, ou fique mal-habituado com luxos. Isto é apenas justiça manifesta. Não permitais que os abjetos governem e dominem aqueles que são nobres e dignos de honra, nem deixes os magnânimos à mercê dos indignos e desprezíveis, pois foi o que vimos ao chegarmos à Cidade (Constantinopla), e disso damos testemunho. Encontrámos entre os seus habitantes alguns que possuíam fortunas abundantes e viviam no meio de riqueza excessiva, enquanto outros estavam em privação extrema e pobreza abjecta. Isso é impróprio da tua soberania e indigno da tua condição.

Aceita os Meus conselhos e esforça-te por governar com equidade entre os homens, para que Deus exalte o teu nome e espalhe a fama da tua justiça em todo o mundo. Acautela-te, para não engrandeceres os teus ministros à custa dos teus súditos. Teme os suspiros dos pobres e dos justos de coração, os quais, ao nascer de cada do dia, lamentam a sua condição, e sê para eles um soberano benigno. Eles, em verdade, são os teus tesouros na terra. Compete-te, portanto, proteger os teus tesouros dos ataques daqueles que te desejam roubar. Indaga sobre os seus assuntos e verifica, todos os anos, ou melhor, todos os meses, sobre as suas condições, e não sejas dos que descuidam o seu dever.

Coloca diante dos teus olhos a infalível Balança de Deus e, como se estivesses na Sua Presença, pesa nesta Balança as tuas acções cada dia, em cada momento de tua vida. Avalia-te a ti próprio antes de seres chamado para o juízo, no Dia em que nenhum homem terá as forças para se manter de pé por temor a Deus, o Dia em que os corações dos desatentos haverão de tremer. (Bahá’u’lláh, The Proclamation of Baha’u’llah, p. 49)

Poucos anos depois de receber esta epístola histórica de Bahá'u'lláh, o sultão teve o seu momento para prestar contas. Em 1876, os efeitos de uma grande seca e quebra de colheitas, combinados com as enormes quantias que o sultão gastara no seu exército e em novos palácios sumptuosos, provocaram uma tremenda dívida pública, e levaram os seus súditos e os seus ministros a depô-lo de forma violenta. Abdu'l-Aziz morreu na prisão alguns dias depois.

As advertências e conselhos que Bahá'u'lláh deu ao Sultão podem beneficiar qualquer pessoa – avaliar as nossas próprias acções todos os dias usando uma balança espiritual; tratar os que nos rodeiam com amor, equidade e justiça; cuidar dos pobres entre nós; e prepararmo-nos para prestar contas.

Todos chegaremos a esse dia e seremos chamados a prestar contas:

Levantai-vos, ó povo, e, com a grandeza do poder de Deus, decidi-vos a alcançar a vitória sobre vós próprios, para que, porventura, toda a terra se possa livrar e santificar da sua sujeição aos deuses das suas fantasias - deuses que já infligiram enormes danos e são responsáveis pela miséria dos seus infelizes adoradores. Esses ídolos formam o obstáculo que se opõem ao homem nos seus esforços para avançar no caminho da perfeição. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XLIII)

-----------------------------
Texto original: Daily Prayer, Meditation and Reflection (www.bahaiteachings.org)


- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

Sem comentários: