sábado, 16 de julho de 2022

Os Russos também amam os seus Filhos

Por Badi Shams.
 

O conhecido músico Sting publicou um tema profundo intitulada “Russians” (Russos) durante os últimos anos da Guerra Fria, quando o nível de medo e ódio aos russos atingiu o auge.

A música de Sting recordava-nos gentilmente um facto fundamental de que, independentemente do país a que pertencemos ou ideologia política que seguimos, primeiramente somos seres humanos.

A letra da música diz-nos que todos temos as mesmas emoções humanas básicas, como o amor pelos nossos filhos:

Na Europa e na América há um sentimento crescente de histeria
Condicionado para responder a todas as ameaças
Nos discursos retóricos dos soviéticos
O senhor Khrushchev disse: “Vamos enterrar-vos”
Eu não apoio este ponto de vista
Seria fazer uma coisa tão ignorante
Se os russos também amam os seus filhos
Como posso salvar o meu pequeno filho do brinquedo mortal de Oppenheimer?


Não há um monopólio do bom senso
Em ambos os lados da divisória política
Partilhamos a mesma biologia, independentemente da ideologia
Acreditem quando vos digo
Espero que os russos também amem os seus filhos


Não há um precedente histórico
Em colocar palavras na boca do presidente
Não existe uma guerra que possa ser vencida
É uma mentira em que já não acreditamos

O senhor Reagan diz: Nós vamos proteger-vos
Eu não apoio este ponto de vista
Acreditem quando vos digo
Espero que os russos também amem os seus filhos

Partilhamos a mesma biologia, independentemente da ideologia
Mas o que pode nos salvar, a vocês e a mim,
É se os russos também amarem os seus filhos.


A letra desta música parece agora desactualizada, mas a mensagem permanece forte e clara. Leva-nos a facto universal: em toda a parte, os pais amam os seus filhos, preocupam-se com o seu futuro e temem perdê-los.

Nos dias passados da Guerra Fria, reinavam o medo, a paranóia e a desconfiança. Os demagogos alimentavam esses medos. Os americanos suspeitavam que outros americanos fossem espiões ou simpatizantes da União Soviética. Investigações governamentais fizeram com que muitos americanos perdessem os seus empregos na indústria das artes e do entretenimento, e alguns até foram presos.

Hoje, mais uma vez, os mesmos tipos de ódio e sentimentos negativos estão presentes no mundo – particularmente devido à guerra e destruição na Ucrânia.

Na comunicação social do Ocidente, a cobertura desta guerra devastadora parece abrangente e detalhada, especialmente nas suas reportagens de mortes e bombardeamentos. São relatadas muitas histórias de sofrimento dos ucranianos.

Infelizmente, no Ocidente não conseguimos ver os rostos dos que sofrem do outro lado – como a mãe e o pai do soldado russo morto, que nem sequer sabem onde está o corpo do filho. Esses soldados foram forçados a sair de casa para travar uma guerra que provavelmente não queriam e foram mortos, provocando um grande desgosto aos seus pais enlutados. A comunicação social ocidental não tem acesso a esses soldados ou aos seus pais para que possam partilhar a sua dor e agonia, e isso é uma tragédia porque “os russos também amam os seus filhos”.

Qualquer morte humana é uma tragédia. Não importa se eles são ucranianos, russos, americanos ou alemães – a selvageria da guerra tem que parar. Numa palestra que fez nos Estados Unidos em 1912, 'Abdu'l-Bahá disse-nos o motivo:

Durante milhares de anos homens e nações avançaram para o campo de batalha para resolver as suas diferenças. A causa disto tem sido a ignorância e a degeneração. Louvado seja Deus! Neste século radiante as mentes desenvolveram-se, os entendimentos tornaram-se mais profundos, os olhos ficaram iluminados e os ouvidos atentos. Por isso, será impossível que a guerra continue. Considerai a ignorância e a inconsistência do homem. Um homem que mata outro é punido com a execução, mas um génio militar que mata cem mil dos seus semelhantes é imortalizado como herói. Um homem rouba uma pequena quantia em dinheiro e é preso como ladrão. Um outro saqueia uma nação inteira e é homenageado como patriota e conquistador. Uma única falsidade é motivo de repreensão e censura, mas as artimanhas de políticos e diplomatas despertam a admiração e o elogio de uma nação. Considerai a ignorância e a inconsistência da humanidade. Quão sombrios e selvagens são os instintos da humanidade! (The Promulgation of Universal Peace, p. 288)

Quanto tempo mais a humanidade precisa para perceber que não há vitória para aqueles que perdem as suas vidas e cujas famílias sofrerão? Infelizmente, são principalmente os jovens, que têm toda a vida pela frente, que devem pagar o preço final em cada guerra.

Por quanto tempo mais glorificaremos as chacinas nas nossas psiques e nas nossas culturas através de músicas e filmes? Em vez disso, deveríamos colocar todas essas energias educando a humanidade sobre as maneiras de resolver disputas através do raciocínio e de métodos pacíficos. Ao mesmo tempo, podemos trabalhar para unir os nossos governos, para que consigam levantar-se contra os agressores e detê-los.

Nas Suas Escrituras, Bahá’u’lláh sugeriu o caminho que a humanidade deve seguir:

Virá o tempo em que a necessidade imperativa de realizar uma vasta e ampla assembleia de homens será universalmente percebida. Os governantes e reis da terra devem estar presentes e, participando nas suas deliberações, considerar as formas e os meios que estabelecerão as fundações da Grande Paz mundial entre os homens. Essa paz exige que as Grandes Potências resolvam, para bem da tranquilidade dos povos da terra, reconciliar-se plenamente entre si. Se algum rei pegar em armas contra outro, todos se devem levantar unidos e impedi-lo. Se isto for feito, as nações do mundo não necessitarão de quaisquer armamentos, salvo com o propósito de salvaguardar a segurança dos seus reinos e de manter a ordem interna nos seus territórios. Isto garantirá a paz e a serenidade de todos os povos, governos e nações. (Baha’u’llah, Tablets of Baha’u’llah, p.164)

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Texto original: Russians Love Their Children, Too (www.bahaiteachings.org)


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Badi Shams é um professor reformado que vive na ilha de Vancouver (Canadá). Tem um interesse especial pela área da economia, tendo publicado as obras "Economics of the Future" e mais recentemente "Economics of the Future Begins Today". O seu website sobre economia de inspiração Bahá’í é www.badishams.net.

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