sábado, 13 de agosto de 2022

O que faria Cristo no lugar de Muhammad?

Por Tom Tai-Seale.


Se os exércitos romanos tivessem atacado os primeiros cristãos, com o objectivo de destruir cada um deles, o que teria feito Cristo? Teria “oferecido a outra face” ou defendido o Seu rebanho inocente?

Os ensinamentos Bahá'ís têm uma resposta fascinante para este cenário. 'Abdu'l-Bahá colocou essa importante questão no seu livro Respostas a Algumas Perguntas, e chegou a uma conclusão fascinante:

Devemos considerar com equidade o seguinte: Se o próprio Cristo tivesse sido colocado em circunstâncias semelhantes entre essas tribos bárbaras e sem lei; se durante treze anos Ele e os Seus discípulos suportassem pacientemente todo tipo de crueldade às suas mãos; se eles fossem forçados devido a essa opressão a abandonar a sua terra natal e ir para o deserto; e se essas tribos sem lei ainda continuassem a persegui-los com o objetivo de massacrar os homens, saquear os seus bens e raptar suas mulheres e filhos – como é que Cristo teria lidado com eles?

É claro que, 'Abdu'l-Bahá aqui está a referir-Se à perseguição e guerra genocida enfrentada não por Cristo, mas por Muhammad. Para aqueles que consideram o Islão uma “religião violenta”, os ensinamentos Bahá'ís perguntam: “O que teria feito Cristo na situação de Muhammad?” Na Sua resposta, 'Abdu'l-Bahá disse:

Se essa opressão fosse dirigida apenas a [Cristo], Ele tê-los-ia perdoado, e esse acto de perdão teria sido muito aceitável e louvável; mas se Ele tivesse visto que assassinos cruéis e sanguinários tinham a intenção de matar, pilhar e atormentar um grande número de almas indefesas e capturar mulheres e crianças, é certo que Ele teria defendido os oprimidos e detido a mão dos opressores.

Que objecção, pois, podemos levantar a Muhammad? (…) Se Cristo tivesse sido colocado em circunstâncias semelhantes, Ele sem dúvida teria libertado, através de um poder conquistador, aqueles homens, mulheres e crianças das garras daqueles lobos ferozes.

Claro, já conhecemos sabemos que a violência defensiva desse tipo, contra um inimigo implacável determinado a destruir, é comum na Bíblia e em toda a história humana.

Basta recordar a conquista judaica de Canaã, onde a Bíblia relata que em Hesbom os Judeus lutaram contra os Amorreus e após a batalha, Moisés diz (em Deuteronómio 2:34) aos combatentes Judeus que “tomamos todas as suas cidades e a cada uma destruímos com os seus homens, mulheres e crianças; não deixamos sobrevivente algum”. Este é o mesmo Deus que enviou Muhammad para lutar contra os idólatras de Meca que queriam aniquilar o Islão, mas desta vez a retribuição foi mais limitada: mulheres e crianças geralmente eram poupadas nos ataques muçulmanos.

Pode todo um povo ou um país oferecer a outra face?


Para começar: não há conselho de Jesus que diga aos líderes de comunidades de Fé que devam oferecer a outra face quando os seus inimigos tentam eliminar as suas comunidades. Essa regra só se aplica a indivíduos agreidos. Nenhum governante Cristão permitiu alguma vez que o seu povo fosse triturado pelo agressor; nem deveriam. Em vez disso, os governantes Cristãos, como todos os governantes, têm o dever de proteger os que estão sob os seus cuidados.

Hoje, na Ucrânia, estamos a ver isso a acontecer.

Pois foi precisamente isso que Muhammad fez. Na Arábia, Ele fez ataques preventivos contra Meca para proteger a sua comunidade contra os próximos ataques de um inimigo muito mais poderoso e implacável. Isso deve soar familiar para nós, mas não nos dá licença para realizar uma intervenção violenta sem mais nem menos. Quando não há profeta para nos guiar, a opção pela violência deve ser o último recurso e deve ser considerada à luz do argumento moral.

Os ensinamentos Bahá'ís também nos oferecem uma resposta a essa desconcertante pergunta moderna. Bahá'u'lláh apelou ao estabelecimento de uma comunidade mundial, concebida para criar um parlamento global democraticamente eleito com poderes para parar todas as guerras:

A unidade da raça humana, tal como antecipada por Bahá'u'lláh, implica o estabelecimento de uma comunidade mundial em que todas as nações, raças, credos e classes estão íntima e permanentemente unidas, e em que a autonomia dos seus Estados membros, e a liberdade e iniciativa pessoais dos indivíduos que as compõem, estão definitiva e completamente salvaguardadas. Esta comunidade deve, tanto quanto a podemos visualizar, incluir um parlamento mundial, cujos membros, enquanto fideicomissários de toda a humanidade, irão, em última análise, controlar todos os recursos de todas as nações que a integram, e promulgar leis que sejam necessárias para regular a vida, satisfazer as necessidades e organizar as relações entre todas as raças e povos. Um executivo mundial, apoiado por uma força internacional, executará as decisões e aplicará as leis promulgadas por este parlamento mundial, e protegerá a unidade orgânica de toda a comunidade mundial. Um tribunal mundial julgará e emitirá o seu veredicto vinculativo e final em todas e quaisquer disputas que possam surgir entre os vários elementos que constituam este sistema universal.

Esta notável descrição surge no livro “A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh”, um livro de Shoghi Effendi publicado em 1938, onde se delineia a visão Bahá’í do futuro pacífico do planeta. Nela, o Guardião da Fé Bahá’í estabelece claramente a arquitectura e a evolução de uma humanidade unida, antecipada por Bahá’u’lláh que virá pôr um fim à violência do passado.

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Texto Original: What Would Christ Have Done in Muhammad’s Situation? (www.bahaiteachings.org)


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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas AM University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahá’í: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.

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