sábado, 1 de julho de 2023

Falsidade ou realidade: como aumentar o nosso poder de compreensão

Por Richard Meier.
 

O poder da compreensão – a nossa notável e única faculdade intelectual humana – processa as informações recebidas, e aceita-as como parte da realidade, ou rejeita-as como ficção.

De acordo com Bahá’u’lláh, a primeira dádiva:

... que o Omnipotente conferiu ao homem é o dom do [poder da] compreensão. Esse dom dá ao homem o poder de discernir a verdade em todas as coisas, leva-o ao que é certo e ajuda-o a descobrir os segredos da criação.

A capacidade para distinguir entre a falsidade e os factos parece uma aptidão perdida por algumas pessoas na atmosfera social de hoje. Como resultado, são muitos os que ficam desanimados e com medo.

Com todas as afirmações contrárias e altamente politizadas que ouvimos hoje, como podemos dizer o que é verdadeiro e o que é falso? Só podemos saber confiando no nosso poder de compreensão. Este poder é parte integrante dos seres humanos. 'Abdu'l-Bahá afirma que as faculdades da mente:

... são apenas as propriedades inerentes da alma, como o poder de compreensão, de imaginação, de pensamento; poderes que são os requisitos essenciais da realidade do homem. O templo do homem é como um espelho, a sua alma é como o sol e as suas faculdades mentais são como os raios que emanam dessa fonte de luz. O raio pode deixar de incidir sobre o espelho, mas de modo algum pode dissociar-se do sol.

Com o poder da compreensão, preenchemos a mente com conhecimento. Cada vez que deparamos com alguma informação nova, o nosso poder de compreensão funciona como um filtro que separa a ficção da realidade. Ao utilizar esse poder, construímos a nossa visão do mundo, sem medo nem pavor. Como consequência, protegemos a nossa integridade contra a desinformação ou a manipulação.

Conhecer a verdade prende-nos à realidade. Informações factuais fornecem a base para cada um de nós se sentir confiante e seguro de si próprio.

Ao seguir o caminho da vida, somos bombardeados com informações provenientes dos nossos pais, irmãos, professores e muitos outros. O fluxo de entrada é interminável e desse fluxo vamos absorvendo diferentes crenças. Algumas serão verdadeiras, outras serão falsas. Nada é permanente – o que significa que toda crença pode ser rejeitada ou substituída. No entanto, as crenças falsas têm consequências, porque podem facilmente poluir a nossa consciência e, posteriormente, as nossas acções. O poder da compreensão permite-nos olhar para as nossas escolhas com mais cuidado. A capacidade para fazer as escolhas certas, de nos responsabilizarmos a nós e aos outros, requer veracidade.

David Hawkins, no seu livro Truth vs. Falsehood: How to Tell the Difference, afirma que o propósito da veracidade é:

... o alívio do sofrimento ao substituir a falsidade pela verdade e partilhar o conhecimento sobre como chegar à verdade por conta própria, pois o caminho para a sua fonte está dentro de nós. Para quem está alinhado com a verdade, o caminho ilumina-se; para aqueles que o recusam, o caminho é sombrio. Todos nós somos livres para escolher.

Então, como determinamos o que é verdade? É necessário aquilo a que os ensinamentos Bahá'ís chamam “investigação independente da verdade”:

Deus criou no homem o poder da razão, com o qual ele está capacitado para investigar a realidade. Deus não pretende que o homem imite cegamente os seus pais e antepassados. Ele dotou-o com a mente, ou a faculdade de raciocinar, com cujo exercício ele deve investigar e descobrir a verdade, e aquilo que ele considera real e verdadeiro, ele deve aceitar. Ele não deve ser um imitador ou seguidor cego de qualquer alma. Ele não deve confiar implicitamente na opinião de qualquer homem sem investigação; não, cada alma deve procurar de forma inteligente e independente, chegando a uma conclusão real e limitada apenas por essa realidade.

Um amigo meu não estava a sentir-se bem. O diagnóstico do seu médico de cuidados primários foi uma arritmia cardíaca. Depois, ele consultou uma cardiologista e ela disse: “É apenas um ataque de ansiedade, o seu coração está bem”. Então procurou uma terceira opinião médica – definitivamente taquicardia atrial. Ao invés de pensar que alguém estava a mentir, ele usou o seu poder de compreensão, e percebeu que o diagnóstico de cada médico era moldado pela sua especialidade, e isso influenciava a sua percepção da realidade. Para determinar a verdade, ele fez mais alguns exames, escolheu o tratamento e hoje está livre de sintomas.

Embora eu acredite na evolução, no facto da Terra ser redonda e na existência de átomos, não posso provar a evolução, nunca fui ao espaço para ver a Terra redonda, e nunca vi um átomo. Em vez disso, o meu poder de compreensão deu-me a conhecer os factos científicos que dão origem às minhas crenças. Isto vem da minha tentativa de examinar rigorosamente tudo o que passa pelos meus sentidos e chega ao meu cérebro antes de ser aceite como verdade.

A nível social, adopto a unidade da humanidade, acredito que ajudar os outros é uma coisa boa, penso que a igualdade de género é uma verdade inegável e aceito que adquirir as competências certas é um bilhete para o sucesso na vida. Fontes credíveis, experiência pessoal e o meu próprio poder de compreensão permitiram-me aceitar essas ideias. Se esperamos encontrar a verdade num mundo cheio de ideias contraditórias, precisamos fazer uso de todos os recursos disponíveis: ciência, história, experiência, sagrada escritura e nosso próprio mecanismo de descoberta, o poder da compreensão.

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Texto original: Fake or Fact: How to Increase Your Power of Understanding (www.bahaiteachings.org)


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Richard tornou-se Bahá'í em 1966 em Lincoln, no Nebraska (EUA). Uma semana depois de participar na sua primeiro reunião bahá'í, teve uma epifania ao ver uma foto do Santuário do Báb. Foi membro da Assembléia Espiritual Local de Lincoln, Nebraska e Amherst, Massachusetts, viveu nas Reservas Indígenas Winnebago e Santee Sioux e agora vive em Charlotte, Carolina do Norte. Ele frequentou a Universidade de Massachusetts em Amherst, obteve um mestrado em formação de professores e um diploma de especialista em administração educativa. Na Universidade de Nebraska, obteve um diploma de bacharel com especialização dupla em inglês e ciências.

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