sábado, 24 de fevereiro de 2024

Jejuar como um Bahá'í

Por David Langness.


Todos os anos, por esta altura, vários amigos perguntam-me: “Se eu quiser participar no jejum Bahá'í, posso fazê-lo?” “Claro”, é a minha resposta.

E há dois dias, outro amigo perguntou-me: “Tenho de ser Bahá’í para fazer jejum?” “Não, não é preciso”, foi a minha resposta.

Tendo em conta este nível de interesse em jejuar com os Bahá'ís, pensei que seria útil resumir as implicações do jejum bahá'í e esclarecer todos sobre o que é necessário para jejuar como um Bahá'í.

Mas primeiro é útil compreender que o jejum Bahá'í não é apenas um acto físico – é principalmente um exercício espiritual. No Seu Livro da Certeza, Bahá'u'lláh escreveu:

E tal como o sol e a lua constituem os mais proeminentes luminares nos céus, similarmente no céu da religião de Deus foram prescritos dois corpos celestiais: jejum e oração. (O Livro da Certeza, ¶40)

O jejum não é apenas uma prática Bahá'í, como se deduz desta citação. Em vez disso, teve um lugar de destaque nas práticas de todas as religiões. Então, vamos ver como – e porquê – os Bahá’ís em todo o mundo se abstêm de comer e beber durante o dia, ao longo de 19 dias consecutivos.

Abster-se de Comida e Bebida durante o Dia

O jejum Bahá'í ocorre durante o mês Bahá'í que antecede o Ano Novo Bahá'í (chamado Naw-Ruz, em persa) no Equinócio de Março. Durante aqueles 19 dias do ano, os Bahá'ís de todo o mundo abstêm-se de comer e beber durante o dia.

Os Bahá'ís jejuam desta forma, seguindo o mandamento de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í, desde os primórdios da Fé no século XIX. Os Bahá'ís acreditam que o jejum simboliza o desprendimento do mundo físico, desenvolve empatia pelos pobres e famintos, e gera o desenvolvimento e crescimento da alma.

O jejum Bahá'í tem enormes benefícios físicos, embora o seu objectivo principal seja espiritual.

Os Benefícios Físicos do Jejum

Os seres humanos começaram por ser caçadores e colectores. Os nossos antepassados passavam várias horas por dia à procura comida. O seu estilo de vida exigia isso, porque a comida nem sempre era abundante e, às vezes, nem estava disponível. Isso significava que as pessoas geralmente jejuavam involuntariamente – e depois, quando encontravam comida, regalavam-se.

Como resultado, os humanos desenvolveram gradualmente um código genético, um genótipo, que permitiu que os seus corpos prosperassem, adaptando-se a estes ciclos de abundância e jejum. Ainda temos connosco esse código genético, embora, hoje, a maioria das culturas do mundo desenvolvido se alimente regularmente, consumindo duas ou três refeições por dia, além de lanches e sobremesas, sem interrupções.

Investigações científicas recentes, porém, demonstram os benefícios para a saúde de vários padrões intermitentes de jejum e abstinência voluntária. E porque este padrão reproduz o regime alimentar de abundância/fome dos nossos antepassados, muitos investigadores citam agora as vantagens de esvaziar periodicamente o sistema digestivo humano, e permitir-lhe limpar-se e purificar-se sem a presença constante de alimentos.

Esses estudos mostram que um padrão regular de restrição calórica, no qual as pessoas reduzem a ingestão rotineira de nutrientes com um jejum recorrente, pode proporcionar alguns benefícios de saúde muito significativos. O jejum intermitente reduz os factores de risco para múltiplas doenças crónicas em animais e humanos, e aumenta dramaticamente o tempo de vida, segundo vários estudos realizados com animais. Em Julho de 2013, a revista Scientific American noticiava que:

As religiões há muito que sustentam que o jejum é bom para a alma, mas os seus benefícios corporais só foram amplamente reconhecidos no início dos anos 1900, quando os médicos começaram a recomendá-lo para tratar vários distúrbios – como diabetes, obesidade e epilepsia.

Pesquisas relacionadas com restrições calóricas surgiram na década de 1930, quando Clive McCay, nutricionista da Universidade Cornell, descobriu que ratos submetidos a dietas diárias rigorosas desde tenra idade viviam mais e tinham menos probabilidade de desenvolver cancro e outras doenças à medida que envelheciam, em comparação com animais que comiam à vontade. As pesquisas sobre restrição calórica e jejum periódico cruzaram-se em 1945, quando cientistas da Universidade de Chicago divulgaram que a alimentação em dias alternados prolongava a vida dos ratos tanto quanto a dieta diária nas experiências anteriores de McCay. Além disso, o jejum intermitente “parece atrasar o desenvolvimento dos distúrbios que levam à morte”, escreveram os investigadores de Chicago.

Sabemos que as pessoas que jejuam regularmente apresentam um prolongamento considerável da esperança de vida, juntamente com uma redução de doenças físicas e mentais crónicas comuns na velhice; e que o jejum aumenta a autofagia, uma espécie de sistema de eliminação de lixo nas células que elimina moléculas danificadas, incluindo aquelas que foram anteriormente associadas à doença de Alzheimer, Parkinson e outras doenças neurológicas.

Os Benefícios Espirituais do Jejum

Todas as evidências científicas crescentes sobre os benefícios do jejum para a saúde ajudam a explicar porque é que grupos de pessoas que jejuam regularmente – Budistas, Mórmons, Bahá’ís – tendem a viver vidas mais longas e saudáveis. Mas os ensinamentos Bahá’ís enfatizam os benefícios espirituais do jejum, por isso os Bahá’ís não jejuam simplesmente por razões dietéticas ou relacionadas com a saúde.

Na verdade, os Bahá’ís jejuam principalmente pelos benefícios espirituais. O jejum Bahá’í anual ocorre durante um mês Bahá’í de 19 dias para meditação e oração adicionais, para reflexão e rejuvenescimento. Jejuar desta forma proporciona um período de recuperação espiritual, para refrescar e revigorar a alma, como escreveu 'Abdu'l-Bahá:

...este jejum material é um símbolo exterior do jejum espiritual; é um símbolo do autodomínio, da abstinência de todos os apetites do eu, do assumir as características do espírito, de se deixar levar pelos sopros do céu, e de se inflamar com o amor de Deus. (Selections From the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 35)

Portanto, quem quiser jejuar como um Bahá’í, deve simplesmente renunciar a comer e beber durante o dia, de 2 a 20 de Março deste ano. Aproveite o tempo extra que você normalmente usaria para preparar e comer a refeição do meio-dia, para nutrir e refrescar a sua alma, com reflexão, meditação e oração. Pense no ano inteiro e pergunte-se: “O que posso fazer neste próximo ano para melhorar a minha vida e a vida dos outros? Como posso servir a humanidade?

Depois deixe o seu espírito - como escreveu 'Abdu'l-Bahá - “associar-se com as Fragrâncias da Santidade”:

Ó Deus! Como estou a jejuar dos apetites do corpo e não ocupado a comer e beber, purifica e santifica o meu coração e a minha vida de qualquer outra coisa, excepto o Teu Amor, e protege e preserva a minha alma das suas próprias paixões e das características animais. Assim possa o espírito associar-se com as Fragrâncias da Santidade e jejuar de tudo o resto, salvo a Tua menção. (Selections From the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, nº 35)

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Texto original: How to Fast Like a Baha’i (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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