Ó Filho do Homem! Para tudo há um sinal. O sinal do amor é a firmeza sob o Meu decreto e a paciência sob as Minhas provações.
Ó Filho do Homem! O verdadeiro amante anseia pela tribulação, tal como o rebelde pelo perdão e o pecador pela misericórdia. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #48, #49)
Nesta série de artigos sobre As Palavras Ocultas, a obra mística de Bahá’u’lláh, explorámos os mistérios da linguagem elevada do livro, a compreensão espiritual dos Seus conselhos nobres e os significados das Suas metáforas e alusões.
Ficámos a saber que cada frase deste belo livro poético tem múltiplos significados. Vimos como as leituras mais literais d’ As Palavras Ocultas não estão à altura da elevada paisagem verbal das muitas camadas simbólicas de consequências e intenção do livro. Tentámos descobrir algumas destas camadas de significados e compreender pelo menos parte do que a voz profética de Bahá’u’lláh nos deu.
Mas aqui, nestes dois aforismos simples e curtos, o significado místico das palavras de Bahá’u’lláh parece tão profundo que resiste a qualquer explicação.
“O sinal do amor é a firmeza sob o Meu decreto e a paciência sob as Minhas provações” e “O verdadeiro amante anseia pela tribulação”, ambas ligam o amor às dificuldades, às provações e à tolerância.
No mundo material, nem sempre pensamos no amor desta forma. Muitas pessoas têm uma visão romântica do amor como um mar calmo e tranquilo de estabilidade emocional. Mas, na verdade, o amor pode trazer turbulência, problemas e lágrimas. O verdadeiro amor por outra pessoa significa, geralmente, que o amante sacrificaria qualquer coisa – paz, prosperidade, vida – pela pessoa amada:
Um dos requisitos do verdadeiro amor é a prontidão para suportar todo o sofrimento e tribulação que ocorreu no passado ou que possa ocorrer no futuro. Consequentemente, um amante apaixonado está sempre manchado de sangue, e aquele que anseia por encontrar o Amado é um peregrino constante. (Bahá’u’lláh, Fire and Light, p. 25)
O amor traz consigo mais do que apenas um pequeno incómodo, diz-nos Bahá’u’lláh. Em vez disso, produz provações e tribulações, sofrimento, dor e agitação emocional.
Buda afirmou que existir é sofrer. De muitas maneiras, a existência moderna aparentemente mitigou grande parte do sofrimento físico da vida – com a nossa electrónica, os nossos transportes, a forma como obtemos os nossos alimentos, os milagres da medicina moderna, a relativa tranquilidade da nossa vida quotidiana.
Mas cada um de nós, não importa quem somos ou como vivemos, sofre por dentro. Nenhuma vida prossegue sem dor. Espiritualmente, esta dor faz-nos ansiar por uma ligação profunda para além deste plano físico. Estimula-nos na nossa busca por significado e faz-nos desejar uma compreensão duradoura das nossas próprias almas.
Então, o nosso sofrimento tem significado?
Os ensinamentos Bahá’ís dizem que sim – que a tristeza e o sofrimento encontram o seu significado no poder de transformar a alma individual de um ser material num ser espiritual. O nosso sofrimento, se o olharmos à luz de um processo educativo, tem o potencial de nos refazer.
Os grandes poetas sufis, Hafez e Rumi, recordavam-nos constantemente esta poderosa verdade metafórica: “O amor vem com uma faca, não com uma pergunta tímida”, e também “O amor é um louco, a trabalhar nos seus esquemas loucos”.
Bahá’u’lláh utiliza um conceito ainda mais surpreendente quando diz: “O verdadeiro amante anseia pela tribulação”.
Os ensinamentos Bahá'ís encaram as provações e o sofrimento como uma dádiva para o espírito humano:
Para a alma leal, um teste não é mais do que a graça e o favor de Deus; pois o valente avança alegremente para a batalha furiosa no campo da angústia, quando o cobarde, chorando de medo, ficará agitado e estremecerá. Da mesma forma, o aluno hábil, que com grande competência dominou as suas matérias e as memorizou, exibirá alegremente as suas capacidades perante os seus examinadores no dia dos seus testes. Da mesma forma, o ouro maciço brilhará maravilhosamente e ficará resplandecnete no fogo do ensaiador.
É claro, portanto, que os testes e as provações são, para as almas santificadas, apenas a generosidade e a graça de Deus… ('Abdu’l-Bahá, Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, pp. 181-182)
A nossa atracção e amor pelo divino, pelo espiritual, pelo transcendente e pelo semelhante a Deus, irão inevitavelmente testar-nos, parecem dizer estas Palavras Ocultas. Se verdadeiramente amamos a realidade espiritual da vida, desejaremos prová-lo. Assim, o fogo destas provações revelará, tal como o ouro faz quando aquecido pelo fogo, a verdadeira natureza e pureza do nosso amor.
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Texto original: Fortitude, Patience and Love (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
2 comentários:
Obrigado por essaa palavras de Baha'u'llah, 🥰❤️ me sinto melhor agora...
❤️❤️❤️
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