sábado, 9 de novembro de 2024

Com o Fogo testamos o Ouro

Por David Langness.


Ó Filho do Ser! Não te ocupes com este mundo, pois com fogo testamos o ouro, e com ouro testamos os nossos servos.

Ó Filho do Homem! Tu desejas o ouro e eu desejo que te libertes dele. Tu consideras-te rico ao possuí-lo, e eu reconheço a tua riqueza ao santificares-te dele. Pela Minha vida! Este é o Meu conhecimento, e essa é a tua fantasia; como pode a Minha vontade estar em harmonia com a tua?

Ó Filho do Homem! Concede a Minha riqueza aos Meus pobres, para que no céu possas obter abundância de esplendor imperecível e tesouros de glória imortal. Mas pela Minha vida! Ofereceres a tua alma é a coisa mais gloriosa, se apenas o pudesses ver com os Meus olhos. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, #55, #56, #57)

Estes três excertos do livro místico de Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, centram-se na enorme diferença entre a riqueza mundana e as verdadeiras riquezas, entre a atracção temporária pelo ouro e o brilho permanente da alma pura.

Vivo no sopé da Sierra Nevada, no norte da Califórnia, na região conhecida como Gold Country, onde houve a histórica corrida ao ouro no final da década de 1840. Estudando essa época da história, aprendi que os incontáveis de mineiros e exploradores que em meados de 1800 que vieram para o oeste em busca de ouro, encontraram grupos de índios nativos americanos que sabiam há séculos sobre as brilhantes pepitas de metal que cobriam o chão. Para os índios aquelas pepitas de ouro não tinham qualquer valor; mas para os mineiros, a riqueza material representada pelo ouro fez com que morressem aos milhares quando chegaram à Califórnia; e depois mataram à fome e massacraram os índios que eram um obstáculo na sua “febre do ouro”. Como resultado, seguiram-se massacres e fome em massa, com a população nativa da Califórnia a cair a pique – de 150.000 pessoas em 1845 para 30.000 em 1870. Os historiadores concordam agora que a Corrida ao Ouro se transformou num genocídio.

Após a criação de um estado em 1850, o primeiro governador da Califórnia, Peter Burnett, declarou o Estado como um campo de batalha entre brancos e índios, dizendo: “É de esperar que uma guerra de extermínio continuará a ser travada entre as duas raças até que a raça indígena seja extinta”.

Ainda se pode ver o brilho das manchas douradas incrustadas entre o granito e o quartzo nas montanhas aqui próximas. Estas grandes pepitas de ouro, outrora encontradas no solo à vista de todos, desapareceram, tal como a maioria dos povos nativos, cujas culturas, se tivessem prosperado, poderiam ter temperado e moderado o materialismo desenfreado do Estado Dourado de hoje.


As Escrituras Bahá’ís dizem: “Tu desejas o ouro e eu desejo que te libertes dele.” Cada profeta de todas as grandes religiões reiterou este tema do desprendimento da riqueza material para a humanidade:

A vida do além nunca surge diante dos olhos da criança descuidada, iludida pela ilusão da riqueza. “Este é o mundo”, pensa, “não há outro”. Assim, cai repetidamente sob o meu domínio. (A Morte a Falar, do Katha Upanishad Hindu)

Quem ama o dinheiro nunca tem dinheiro suficiente; quem ama a riqueza nunca está satisfeito com o seu rendimento. (Ecclesiastes 5:10)

Há pessoas que é necessário considerar ricas - uma é aquela que é perfeita em sabedoria; a segunda é aquela cujo corpo é saudável e vive sem medo; a terceira é a que está contente com o que aconteceu; a quarta é aquela cujo destino é um ajudante na virtude; a quinta é aque é famosa aos olhos das coisas sagradas, e pelas línguas dos bons; a sexta é aquela cuja confiança está na religião pura e boa … e a sétima é aquela cuja riqueza provém da honestidade. (Zoroastro, Zend-Avesta.)

Fé é riqueza! Obediência é riqueza! Modéstia também é riqueza! Ouvir é riqueza e caridade também! (Gautama Buddha, The Dhammapada)

Porém os que desejam enriquecer caem na tentação e na armadilha, e são vítimas de muitos desejos insensatos e prejudiciais, fazendo com que se afundem na ruína e na perdição. A raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. (1 Timóteo 6:9-10)

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. (Mateus 19:24)

As riquezas não provêm de uma abundância de bens materiais, mas de uma mente satisfeita. É difícil a um homem carregado de riquezas subir o caminho íngreme que conduz à felicidade. (The Sayings of Muhammad)

O mérito do homem reside no serviço e na virtude e não na ostentação de bens e riquezas. (Tablets of Baha’u’llah, p. 138)

Este tema consistente, que está presente em todas as religiões, pede-nos que olhemos para além da riqueza material transitória deste mundo e em direcção à riqueza espiritual duradoura do mundo da alma.

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Texto original: With Fire We Test the Gold (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA

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