sábado, 15 de novembro de 2025

Por que razão procuramos a fama?

Por David Langness.


O que motiva as pessoas que procuram e desejam a fama? Quem, como eu, já viveu em Hollywood pode começar a acreditar que ser famoso representa um desejo universal, comum a todos.

Isto pode explicar porque é que grandes concentrações de sedentos de fama se reúnem nas capitais do entretenimento.

Quando vivi e trabalhei em Hollywood, o encontro com tantas pessoas desejosas de celebridade pública fez-me pensar: porque é que aqueles que procuram incansavelmente a fama têm um desejo tão ardente de aprovação, de renome, pelo ruído estrondoso da aprovação e dos aplausos, tudo isto vindo de grandes multidões de desconhecidos? O que os motiva a procurar a fama com tanta determinação? Porque é que as pessoas precisam tão desesperadamente de amor, aprovação ou validação pelas massas?

Uma actriz famosa que dá aulas de teatro em Los Angeles contou-me uma vez esta história ilustrativa sobre a busca pela fama: numa das suas aulas, pediu a todos os seus 17 jovens alunos que explicassem honestamente porque queriam ser actores, e cada um deles deu alguma variante de "porque gostava de ser amplamente conhecido".

Ela perguntou então: “Quantos de vocês vieram de famílias disfuncionais ou alcoólicos?

Dezasseis deles — todos os alunos, excepto um — levantaram a mão. Seguidamente, todos os que tinham a mão levantada olharam de soslaio para o aluno que restava, que disse "Estou lixado!", e levantou lentamente a mão.

Será possível que todos procuremos o amor de formas diferentes, e que aqueles que fazem da fama o seu principal objectivo procurem o amor de todos? Será que a falta de amor e de atenção dos pais ou de outras pessoas na infância contribui, na idade adulta, para uma forte necessidade de fama, honra e do "amor" generalizado de muitos?

Estas questões podem ser respondidas com um categórico sim, dizem os especialistas. O psicólogo Alfie Kohn, num artigo da revista Psychology Today, definiu o comportamento de procura de fama como uma procura de validação social:

A fama, mais do que a riqueza, tem a ver com validação social, e este facto realça a triste ironia de que as pessoas que a desejam tendem a sentir-se isoladas e alienadas. Tal como a fome de aplausos de um artista, a autoestima de quem procura a fama depende da forma como é visto pelos outros.

Este tipo de validação externa — procurar a aclamação, a visibilidade e o prestígio que acreditamos que a fama e a celebridade proporcionarão — impulsiona e motiva um número cada vez maior de pessoas na nossa cultura obcecada por celebridades nos dias de hoje. Esta atracção — se for famoso, todos o vão adorar, admirar e invejar — funciona como um chamariz para quem se sente rejeitado e abandonado.

Mas os ensinamentos Bahá’ís alertam que agir apenas com base nesse desejo resultará inevitavelmente num desfecho infeliz. Bahá'u'lláh afirmou:

Acautelai-vos para não vos apegueis àquilo que possuís, nem vos orgulheis da vossa fama e prestígio. O que vos convém é desapegar-vos completamente de tudo o que está nos céus e na terra. Assim foi ordenado por Aquele que é o Todo-Poderoso, o Omnipotente.

Na mesma linha, uma antiga publicação Bahá’í chamada True Belief citou ‘Abdu’l-Bahá dizendo:

Todos os seres humanos são mundanos; os seus corações estão ligados com este mundo. De dia e de noite, os seus pensamentos e ocupações são mundanas; todos pertencem a este mundo. Pensam nas honras deste mundo, ou nas riquezas e riquezas deste mundo, ou no nome e na fama neste mundo. Os seus dias e noites passam assim. A orientação de Deus torna evidente e claro quando se abre o caminho do Reino, o percurso divino, que esta é a estrada do Reino.

Não basta apenas distinguir o caminho do Reino, apenas descobrir o caminho celeste: é preciso percorrê-lo até ao fim.

Os ensinamentos Bahá’ís pedem a cada um de nós que desenvolva um horizonte mais elevado, uma visão mais duradoura e um objectivo mais profundo do que a efémera fama mundana. ‘Abdu’l-Bahá aconselhou todas as pessoas a concentrarem-se não em procurar a admiração e a aprovação pelos outros, mas em procurar o amor verdadeiro e duradouro de Deus:

A luz deste amor acende-se, através do conhecimento de Deus, na lâmpada do coração, e os seus raios difusos iluminam o mundo e conferem ao homem a vida do Reino. E, em verdade, o fruto da existência humana é o amor de Deus, que é o espírito da vida e da graça eterna. Não fosse o amor de Deus, o mundo contingente estaria mergulhado nas trevas. Não fosse o amor de Deus, os corações dos homens estariam destituídos de vida e privados de consciência. Não fosse o amor de Deus, as perfeições do mundo humano desapareceriam por completo. Não fosse o amor de Deus, nenhuma ligação real poderia existir entre os corações humanos. Não fosse o amor de Deus, a união espiritual perder-se-ia… Não fosse o amor de Deus, a discórdia e a divisão não se transformariam em camaradagem. Não fosse o amor de Deus, o distanciamento não daria lugar à unidade. Não fosse o amor de Deus, o estranho não se tornaria o amigo. De facto, o amor no mundo humano é um raio do amor de Deus e um reflexo da graça da Sua generosidade.

Como escreveu 'Abdu'l-Bahá nas suas Epístolas do Plano Divino, isto significa desprendermo-nos da fama mundana e efémera, enquanto fazemos o máximo para procurar a fama permanente e eterna oferecida pelos “tesouros celestiais” da iluminação espiritual:

... não descanseis, não procureis a compostura, não vos apegueis aos luxos deste mundo efémero, libertai-vos de todo o apego e esforçai-vos de corpo e alma para vos estabelecerdes plenamente no Reino de Deus. Alcançai os tesouros celestiais. Dia a dia, tornai-vos mais iluminados. Aproximai-vos cada vez mais do limiar da unidade. Tornai-vos os manifestadores de favores espirituais e os alvores de luzes infinitas!

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Texto original: Why Do We Seek Fame? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

1 comentário:

Anónimo disse...

Does love of God mean one's love for God or God's love for you ? Or both?