sábado, 22 de novembro de 2025

Quando ‘Abdu’l-Bahá abandonou este mundo


No final deste mês de Novembro, os Bahá’ís assinalam o aniversário do falecimento de 'Abdu’l-Bahá, que nos deixou em 1921, deixando um legado de grande serviço e devoção aos ideais Bahá’ís de paz, amor e unidade.

Como era esse legado amoroso?

‘Abdu’l-Bahá viveu uma vida dedicada a amar e a servir o próximo. Numa conversa informal com um grupo de estudantes universitários, registada na revista Bahá’í Star of the West, definiu como seria o legado amoroso de qualquer pessoa — inadvertidamente, descrevendo o Seu próprio:

O homem deve viver de tal modo que se torne amado aos olhos de Deus, amado na opinião dos justos e amado e louvado pelo povo. Quando ele alcança esta condição, a festa da felicidade eterna desfralda-se perante ele. O seu coração está sereno e sóbrio porque ele vê-se aceite no limiar do Altíssimo, o Único. A sua alma está na felicidade e bem-aventurança supremas, mesmo que esteja cercada por montanhas de provações e dificuldades. Ele será semelhante a um mar em cuja superfície se podem ver enormes ondas brancas, mas nas suas profundezas é calmo, sereno e imperturbável. Se ele confia a sua felicidade a objectos mundanos e a condições flutuantes, está condenado à desilusão. Se ele ganhar uma fortuna e nela ancorar a sua felicidade, poderá hipnotizar-se num estado de suposta alegria durante alguns dias, e depois essa mesma fortuna tornar-se-á uma pedra de moinho à volta do seu pescoço, o motivo da sua preocupação e melancolia.

Mas se ele viver de acordo com a vontade do Senhor, ele será favorecido na corte do Omnipotente. Será atraído para junto do trono da Majestade. Será respeitado por toda a humanidade, amado e honrado pelos fiéis. Esta fortuna concede a felicidade eterna. A árvore desta fortuna está sempre verdejante. O vento outonal não lhe queima as folhas, nem a geada do inverno lhe rouba a frescura perene. Esta é uma felicidade que não é seguida de qualquer miséria, mas é sempre uma fonte de gratidão e bem-aventurança. O maior e incomparável dom de Deus ao mundo da humanidade é a felicidade nascida do amor...

Aos 77 anos, a 28 de novembro de 1921, o líder da comunidade Bahá’í, de Seu nome Abbas Effendi e carinhosamente tratado por “O Mestre” – filho de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í e o Centro da Sua Aliança; muito amado e venerado em todo o mundo pelo Seu serviço à humanidade e pela Sua defesa da paz e da unidade; condecorado cavaleiro pelo Império Britânico devido ao Seu trabalho na alimentação dos pobres e na prevenção da fome na Palestina durante a Primeira Guerra Mundial – passou para o outro mundo.

‘Abdu’l-Bahá esteve prisioneiro e exilado durante a maior parte da Sua vida, mas a Sua prisão nunca comprometeu a Sua alegria, o Seu amor ou o Seu serviço à humanidade.

O Seu falecimento libertou uma torrente de profunda angústia e pesar, não só para os Bahá’ís de todo o mundo, mas para todos os que O conheciam. Pessoas de todas as religiões e sem religião lamentaram-se profundamente. O funeral de ‘Abdu’l-Bahá uniu a dividida Terra Santa, atraindo admiradores de todas as raças, idades, origens, classes e estilos de vida. Um profundo e intenso sentimento de perda e pesar uniu todos os presentes, no funeral. Na Terra Santa, o impacto único de ‘Abdu’l-Bahá resultou num funeral completamente sem precedentes.

‘Abdu’l-Bahá foi homenageado e sepultado na terça-feira, 29 de novembro de 1921, na encosta do Monte Carmelo, em Haifa, na Palestina. Milhares e milhares de pessoas subiram a encosta íngreme da montanha. "Uma grande multidão", escreveu o Alto Comissário britânico para a Palestina, "reuniu-se, lamentando a Sua morte, mas também regozijando-se pela Sua vida".

O governador de Jerusalém disse: “Nunca conheci uma expressão mais unida de pesar e respeito do que aquela que foi suscitada pela absoluta simplicidade da cerimónia”.


Observadores dos media estimaram que compareceram mais de dez mil pessoas: árabes, turcos, persas, curdos, arménios, europeus, americanos, judeus, católicos, cristãos ortodoxos, anglicanos, drusos, muçulmanos e bahá’ís, autoridades governamentais e clérigos, os mais ricos e os mais pobres, todos ali para mostrar o seu permanente respeito pelo homem a que um jornal chamou "A Personificação do Humanitarismo".

Em luto, gemidos e lamentações, a enorme multidão sentiu colectivamente uma sensação tão profunda de perda que muitos dos presentes lutaram contra as suas emoções. Os sons dos soluços e do choro enchiam o ar. Os enlutados choravam porque tinham perdido alguém tão único e tão humilde, tão sábio, altruísta e dedicado ao serviço do próximo, que temiam ter perdido algo insubstituível, algo tremendamente precioso, não apenas um homem, mas uma alma verdadeiramente heroica e transcendente.

A sua tristeza era compreensível. Muitos naquela gigantesca multidão deviam literalmente a sua vida a ‘Abdu’l-Bahá, quer pelas generosas doações que fizera aos pobres durante décadas, quer pelos cereais que armazenara para alimentar o povo faminto da Palestina durante a Primeira Guerra Mundial, quer pela Sua longa história de cuidados aos doentes, quer pelos gentis conselhos espirituais que dera a todos.

Se o velho ditado que diz que se pode julgar um homem pelo seu funeral for verdadeiro, então o funeral de ‘Abdu’l-Bahá produziu uma das mais espontâneas, profundas e públicas demonstrações de afecto, calor e ternura que a Terra Santa já viu — e provou o ensinamento de ‘Abdu’l-Bahá de que o amor dura para sempre.

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Texto Original: When Abdu’l-Baha Left This World (www.bahaiteachings.org)

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