sábado, 13 de dezembro de 2025

Os Benefícios Espirituais de uma Vida Livre de Drogas

Por David Langness.


Cresci no Arizona, por isso cresci rodeado de drogas. Nas rotas de contrabando vindas do México, as estradas que atravessam o sul e o centro do Arizona transportaram toneladas de canábis, cocaína, heroína e metanfetamina em direcção ao norte. Uma vez, ao caminhar pelo deserto, encontrei um enorme fardo de canábis, embrulhado em plástico e juta, que parecia ter caído de um avião que sobrevoava o local, ou talvez tivesse sido deixado por um contrabandista a caminho de um ponto de encontro.

Deixei-o ali e continuei a caminhada.

Noutra ocasião, durante a pós-graduação, tive um colega de quarto que era traficante de canábis. Quando soube o que ele estava a fazer, pedi-lhe que parasse de traficar ou que se mudasse. Nessa altura, no Arizona, a posse de mais de 56 gramas de canábis numa residência podia resultar numa pena de vinte anos para todos os residentes. O meu colega de quarto mudou-se no dia seguinte, mas não sem antes dois polícias baterem à minha porta de madrugada e perguntarem por ele. Que momento assustador — imaginava-me preso, a protestar a minha inocência atrás das grades durante as próximas duas décadas. Por sorte, os polícias tinham acabado de passar por lá para o multar por estacionamento irregular. Acontece que tinha deixado o carro aberto e parado no meio da rua quando regressou a casa na noite anterior. Conseguimos imaginar o motivo.

De qualquer forma, decidi desde cedo nunca ingerir qualquer substância psicotrópica. Muito antes de sequer ter ouvido falar da Fé Bahá’í — que pede aos seus seguidores que se abstenham de consumir drogas ou álcool, a menos que sejam prescritos por um médico — já tinha decidido que não queria correr riscos com a minha mente. Eu sabia que nunca seria uma estrela de cinema ou um atleta de classe mundial, por isso imaginei que o meu cérebro constituía o meu único bem fiável neste mundo. Depois, tive algumas experiências que confirmaram a minha decisão inicial de me manter longe de todas as drogas.

Ironicamente, comecei a beber álcool por volta dos 14 anos. Sim, o álcool é uma droga. Eu sabia disso? Não. O consumo de álcool do meu pai era algo normal no seu dia a dia, e ele começou a dar-me goles da sua cerveja quando eu tinha cinco anos, por isso eu pensava que as pessoas normais bebiam a toda a hora. Nessa altura, trabalhava num restaurante com um monte de estudantes universitários que compravam e bebiam álcool todas as noites, por isso simplesmente entrei na onda, sem me aperceber dos danos que causavam à minha jovem mente e ao meu corpo. Aliás, depressa descobriria que o álcool é a droga mais abusada e, provavelmente, a mais perigosa do mundo.

Descobri isso quando uma noite conduzi bêbado para casa. Por sorte, não magoei ninguém, nem bati em nenhum carro, mas no dia seguinte percebi que não me lembrava de nada da noite anterior. Um amigo disse-me que eu tinha tido um apagão alcoólico, uma perda permanente de memória provocada por uma overdose. "O que é que esperavas?", perguntou o meu amigo, "sabes que cada bebida mata cerca de 500 células cerebrais, certo?". De repente, percebi que o lento declínio mental que tinha visto em adultos alcoólicos também poderia acontecer comigo. Na noite seguinte, fui à minha primeira reunião dos Alcoólicos Anónimos. Não bebo desde essa reunião, há 47 anos.

Quando tive o meu primeiro contacto com os Bahá’ís, perguntei: "Os Bahá’ís bebem?" O meu amigo Bahá’í entregou-me esta citação de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé:

Acautelai-vos para que não troqueis o Vinho de Deus pelo vosso próprio vinho, pois isso vos entorpecerá a mente e vos desviará o rosto da Face de Deus, o Todo-Glorioso, o Incomparável, o Inacessível. Não vos aproximeis dele, pois foi-vos proibido por ordem de Deus, o Exaltado, o Omnipotente. (de uma epístola de Bahá’u’lláh citada no Kitab-i-Adqas, P.266[EN])

"Nem mesmo vinho?", perguntei. O meu amigo respondeu: "Nada que te possa afastar de Deus."

Depois, um ano mais tarde, com apenas 18 anos, pouco depois de decidir tornar-me Bahá’í, consegui um emprego num grande hospital psiquiátrico estatal. Fui destacado para trabalhar numa ala de esquizofrénicos do sexo masculino, que também incluía homens com danos cerebrais causados por alcoolismo e overdose de drogas. Um dia, internamos um conhecido meu, um amigo da faculdade, que tinha descoberto que uma dose de LSD (a droga alucinógena) era tão boa que ele deve ter tomado dez. O meu amigo — vou chamar-lhe Sebastian — nunca recuperou. Ficou com danos cerebrais permanentes e viveu durante o resto da vida numa instituição para pessoas com lesões cerebrais graves.

Vi então a “agulha e o estrago feito”, como canta Neil Young, e decidi que não iria permitir que este tipo de estrago me acontecesse. Livre de drogas e álcool, e muitas vezes obrigado a ser o “condutor de serviço”, ainda assim testemunhei muitas tragédias relacionadas com drogas entre amigos — pelo menos duas mortes por condução sob o efeito do álcool, um suicídio, detenções e penas de prisão, vidas gravemente arruinadas, overdoses ainda mais devastadoras e inúmeros corações despedaçados. Uma overdose particularmente grave quase matou alguém próximo de mim — descobriu-se que um traficante lhe tinha vendido estricnina, um veneno mortal, afirmando ser outra coisa. Ele nunca mais foi o mesmo.

Depois, à medida que me fui envolvendo cada vez mais com os Bahá’ís, percebi que a minha decisão de me livrar do vício e da dependência também começou a trazer-me alguns benefícios espirituais internos.

Aos poucos, fui aprendendo que a clareza mental me permitia focar no meu espírito, compreender a minha própria alma e captar melhor a verdadeira realidade das coisas. Muitas vezes, desejava uma breve pausa no meu lado racional e lógico, mas, em vez de recorrer temporariamente às drogas ou ao álcool, aprendi gradualmente a procurá-la como um estado mais permanente na oração, na meditação e na contemplação. Sendo introvertido por natureza, descobri que a abstinência me obrigava a esforçar-me por ser sociável e comunicativo, em vez de estimular artificialmente essa sociabilidade com o "lubrificante social" do álcool. Cedo percebi quanto tempo, energia e dinheiro os meus amigos e conhecidos gastavam na procura das suas drogas preferidas; e quanto eu não gastava. Pesquisei os efeitos do consumo de drogas na saúde e aprendi como os abstémios vivem vidas mais longas e saudáveis. Mais importante ainda, cheguei à conclusão de que uma vida sem drogas me permitia viver uma existência muito mais enriquecedora espiritualmente, abrindo a minha percepção, livre de amarras e límpida, à beleza natural do mundo e das pessoas que me rodeavam.

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Texto original: The Spiritual Benefits of a Drug-Free Life (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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