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Ao nascer do sol do dia 12 de Novembro de 1817, nascia em Teerão, mais um filho de Mirzá 'Abbás (também conhecido como Mirzá Buzurg) e da sua segunda esposa Khadijih Khanum. A criança nasceu numa casa grande, perto do Porta de Shimran, na zona oriental da cidade; era lá que Mirzá Buzurg passava o inverno juntamente com a família. Em casa todos se regozijaram com aquele nascimento; o parto decorrera dentro da normalidade possível, e a mãe estava de boa saúde. Os pais, que já tinham uma filha e um filho, deram a esta terceira criança, o nome de Husayn 'Alí. Para a história ficaria conhecido como Bahá'u'lláh.
Teerão, a porta Meidan Machke |
Os filhos da nobreza persa eram educados por professores particulares; mas tratava-se de uma educação muito limitada. Aprendiam a andar a cavalo, a caçar, a manejar armas de fogo e espadas. A isto juntavam-se aulas sobre técnicas básicas de caligrafia, estudo da língua árabe, poesia persa e estudo do Alcorão.
O pequeno Husayn 'Alí era diferentes dos restantes irmãos; era tranquilo, sossegado, não chorava, nem fazia birras. Após as primeiras aulas com professores particulares começou a constar que aquela criança não necessitava de professores; respondia a questões que eram domínio dos homens que estudavam teologia, filosofia e lei religiosa. O pai, que pouca atenção prestava aos filhos, não podia deixar de notar o contraste; a sua admiração por aquele filho foi crescendo. Conta-se que um dia, quando Husayn 'Alí tinha sete anos, os pais observaram-No a caminhar e a mãe comentou que Ele era um pouco baixo. Mirza Buzurg respondeu: "Isso não importa. Não viste como Ele é inteligente e a mente maravilhosa que Ele tem? E que percepção! É como uma chama de fogo. É tão novo e já é superior a homens adultos."
A esta capacidade intelectual juntavam-se qualidades pessoais que não passavam despercebidas a quem O conhecia. Delicadeza, eloquência, humildade, paciência, generosidade e sentido de humor são as mais referidas. Várias actividades filantrópicas valeram-lhe o título de "Pai dos Pobres" devido à Sua extraordinária generosidade e atenção para com os carenciados. Parecia que a riqueza tinha pouca importância para Ele, apesar de ter estado sempre rodeado por esta. As preocupações espirituais eram o centro da Sua vida.
UM SONHO
Quando Husayn 'Alí tinha cinco ou seis anos, teve um sonho que contou ao Seu pai. No sonho, Ele estava num jardim quando pássaros enormes O atacaram por todos os lados; mas nenhum O magoou. Depois foi até ao mar, onde foi atacado por pássaros e por peixes, mas mais uma vez não O conseguiram magoar.
Intrigado com o sonho do filho, Mirzá Buzurg mandou chamar um homem que dizia ser intérprete de sonhos; este disse-lhe que o mar representava todo o mundo, que os pássaros e os peixes representavam todos os povos do mundo que atacariam o seu filho, pois Ele proclamaria algo muito importante para toda a humanidade. Mas todos os povos do mundo, não Lhe conseguiriam fazer mal; e Ele seria vitorioso sobre todos.
SABEDORIA
Testemunhos da sabedoria e espiritualidade do jovem Husayn Alí também ficaram registados. Conta-se que Ele sabia resolver problemas como ninguém e que o Seu profundo conhecimento do Alcorão e das Hadiths (tradições islâmicas) surpreendiam muitos homens instruídos.
Um sábio famoso, Shaykh Muhammad-Taqí, pediu uma vez a uma centena de alunos que lhe explicassem o significado de uma certa Hadith. Segundo essa tradição islâmica, "Fátima é a melhor das mulheres neste mundo, com excepção da filha de Maria". Mas Maria não teve nenhuma filha; o que significava esta tradição?
Bahá'u'lláh respondeu que a afirmação inicial afirma a impossibilidade da alternativa, e portanto não existia outra mulher comparável a Fátima. Era o mesmo que dizer que um certo monarca é o maior dos reis deste mundo, com excepção daquele que desceu do céu. Como nenhum monarca desceu do céu, está-se a afirmar o carácter único do monarca.
O Shaykh ficou silencioso durante uns momentos. Depois repreendeu os seus alunos: "Instrui-vos durante vários anos e agora desiludiram-me. Vejo que vos falta compreensão, enquanto que este jovem sem formação tem uma explicação brilhante para o problema que vos apresentei".
O RESPEITO PELOS MENSAGEIROS DE DEUS
A única coisa que incomodava Bahá'u'lláh profundamente eram faltas de respeito pelos Mensageiros de Deus; mas mesmo nessas situações, advertia o Seu interlocutor com calma e gentileza.
Numa ocasião, realizava-se uma reunião com várias pessoas, em que estavam Bahá'u'lláh e um conhecido sábio sufi, Nazar-'Ali, de Qazvin; este último falou muito, enaltecendo a condição espiritual que um ser humano pode atingir. E referindo-se a si próprio, o sábio sufi declarou: "Sou tão desprendido que se o meu servo me dissesse que Jesus Cristo estava à minha porta, à minha procura, eu não mostraria qualquer desejo em vê-Lo". A maioria dos presentes ficou em silencio; alguns murmuraram admiração pelas palavras do sábio.
Bahá'u'lláh sentiu nas palavras uma enorme falta de respeito por um Mensageiro de Deus. Perguntou-lhe: "És uma pessoa muito próximo do nosso soberano, o Xá Muhammad, e ele aprecia muito a tua sabedoria. Mas se o chefe da prisão viesse bater à tua porta, acompanhado por dez homens e te dissesse que o monarca queria falar contigo, ficarias calmo ou perturbado?"[1]
Nazar-'Ali pensou um pouco e respondeu: "Na verdade, ficaria muito ansioso".
"Nesse caso, também não deves proferir essas afirmações", retorquiu Bahá'u'lláh.
MATURIDADE
Em Outubro de 1835, Bahá'u'lláh, já tinha quase 18 anos, quando casou com Asiyih Khanum, filha de uma outra família da nobreza persa de Yalrud (Mazindaran). Deste casamento nasceram vários filhos que ficaram conhecidos na história da religião bahá'í: 'Abdu'l-Bahá, Mirzá Mihdhi e Bahiyyih Khanum.
Em Agosto de 1844, Mullá Husayn, o primeiro discípulo do Báb, viajou até Teerão. O Báb pedira-lhe que levasse um documento à capital; não lhe disse a quem deveria entregar o documento. Adiantou apenas que "encontra-se oculto um segredo nessa cidade" e que Mullá Husayn encontraria a pessoa que deveria receber o documento.
Em Teerão teve conhecimento da existência do Husayn 'Ali, do Seu carácter e modo de vida. Compreendeu que era Ele o destinatário daquele documento. Dirigiu-se à casa junto da Porta de Shimran e encontrou-se com Mirzá Musá, um dos irmãos de Bahá'u'lláh. Entregou-lhe o documento com a recomendação que o fizesse chegar às mãos de Bahá'u'lláh.
Quando Bahá'u'lláh recebeu o documento das mãos do Seu irmão, abriu e leu-o; alguns dos excertos foi lendo em voz alta. Quando terminou voltou-se par ao irmão e perguntou: "Musá, que dizes disto? Em verdade te digo, quem acredita no Alcorão e reconhece a sua origem divina, mas hesita por um momento que seja em admitir que estas palavras extraordinárias estão dotadas do mesmo poder regenerador, essa pessoa errou no seu juízo e afastou-se do caminho da justiça". Com estas palavras, Bahá'u'lláh declarava a Sua adesão à Mensagem do Báb. A partir desse momento ia dedicar todo o Seu tempo e energia à divulgação daquela Causa. Era o início do fim da Sua vida tranquila e privilegiada.
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NOTAS
[1] - Palavras atribuídas a Bahá'u'lláh
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