sábado, 29 de janeiro de 2005

Chile: uma oferta polémica

Ainda não começou a construção do Templo Baha'i de Santiago, e o Chile já assistiu a um vivo debate sobre um possível local de construção, o Parque Metropolitano, perto do centro da capital. Durante muito tempo a Comunidade Baha’i do Chile procurou um local para a construção do templo. Quando se encontrou um local nos arredores da capital, e se iniciavam os processos de burocráticos que antecedem a construção, a Comissão do Bicentenário contactou a Comunidade Baha'i e sugeriu que o templo fosse construído num local proeminente, no interior de Santiago.


Maquete do futuro Templo Bahá'í de Santiago do ChileEsta oferta, feita em Dezembro, foi o motivo de um debate inflamado que envolveu políticos e diversas forças sociais e personalidades conhecidas. Um deputado exigiu que "se anulasse a concessão do terreno até que se apresentem motivos históricos, religiosos, sociais e urbanísticos para o projecto"; outro deputado alertou para o que considerava ser "o perigo do Parque Metropolitano se transformar num campo de batalha" e advertiu que os muçulmanos do Chile são contra o projecto pois consideram que a religião bahá'í como "adversária". Ao contrário do que algumas pessoas poderiam pensar, não foi a Igreja Católica que liderou a oposição ao projecto; a Comissão do Bicentenário tem vários membros católicos, e terão sido estes a fazer a proposta à Comunidade Baha'i. A maior parte da oposição foi vocalizada por deputados com ligações a grupos evangélicos.

Mas houve outros políticos que apoiaram a decisão da Comissão; consideravam que não se trata de uma questão religiosa, mas sim de uma oportunidade para revitalizar de uma parte da cidade. Recordaram o efeito do templo de Nova Delhi, e defendiam que Santiago necessita de um "efeito Guggenheim", à semelhança da cidade espanhola de Bilbao.

A Comunidade Bahá'í no Chile (cerca de 15.000 pessoas) foi apanhada de surpresa; não se pronunciou sobre a oferta da Comissão do Bicentenário, nem se envolveu nas polémicas; limitou-se a corrigir a desinformação e as incorrecções que vieram a público sobre a religião fundada por Bahá'u'lláh. Por fim, nos últimos dias, as autoridades chilenas anunciaram publicamente que existia um impedimento legal à construção do edifício no local sugerido pela Comissão do Bicentenário: a volumetria do edifício excedia largamente o permitido no Parque Metropolitano. E assim, tudo voltou à normalidade, com os Bahá'ís chilenos procurando um local no exterior da capital, onde possam construir o seu Templo.

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Sobre este assunto:
* Templo Bahái y ecumenismo global de Hernán Narbona Véliz, publicado no Granvalparaiso (também reproduzido aqui)
* Piden anular comodato estatal para templo Bahá'í en Chile– Noticias Cristianas (também reproduzido aqui)
* Prohíben templo de los Bahá'í - Las Ultimas Noticias (também reproduzido aqui)
* ¿Quiénes son los bahá'ís chilenos? - El Mercurio (também reproduzido aqui)
* Forum: ¿Está de acuerdo con que el Parque Metropolitano haya cedido 22 hectáreas para la construcción de un moderno templo Bahai de 30 mt. de alto en un cumbre del parque? - La Segunda


ACTUALIZAÇÃO:

Outras referências nos media chilenos:
* Los Bahá’í: Quiénes son los que levantaron polémica en el Parque Metropolitano - terra.cl (também reproduzido aqui)
* Minvu avala construcción de templo Bahá’í - La Nacion (também reproduzido aqui)
* Evangélicos protestan por 22 hectáreas cedidas a Bahá'ís - armonia.cl (também reproduzido aqui)

3 comentários:

Anónimo disse...

Resumindo: uma polémica que serviu para fazer publicidade aos baha'is!
Sempre queria ver a vossa reacção se não houvesse polémica. Iam aceitar o terreno, ou não?
A.Cardoso

Marco Oliveira disse...

'Abdu'l-Bahá, o filho de Bahá’u’lláh afirmou em várias ocasiões: "Qualquer religião que não seja causa de amor e unidade, não é religião" e também "Se a religião se torna motivo de ódio e amargura, então é melhor não ter religião".

Neste caso concreto, já eram óbvio que ia haver confusão se o templo bahá'í se construísse no local proposto pela Comissão do Bicentenário. Felizmente houve bom senso por parte dos bahá'ís para se manterem afastados da polémica. A Comunidade Bahá'í só tinha a perder se se envolvesse numa empreitada contra a generalidade da opinião pública do Chile.

Se isto foi publicidade? Sim, é verdade. Mas não foi promovida pelos bahá'ís.

Não faço ideia qual fosse a reacção dos Bahá’ís chilenos se não houvesse polémica. Tens de perguntar isso a eles. Pessoalmente não me agrada muito uma concessão por um período de tempo limitado (50 anos); preferia que a comunidade bahá'í fosse proprietária do terreno. Mas isto é apenas uma opinião pessoal.

Anónimo disse...

Porque razão haveríamos de esperar que a maior oposição fosse da Igreja Católica?
Vindo dos sectores apontados não me admiro.
É a velha questão "quem não deve não teme".
O comportamento da Igreja Católico, pelo descrito é digno, então aprendamos todos com Ela.
Os seguidores do Pai não o serão menos por aprenderem com os seguidores do Filho.

João Moutinho