terça-feira, 31 de maio de 2011

Para os educadores Bahá’ís, uma lição sobre o poder do Irão

Artigo de Artigo de Mitra Mobasherat Joe Sterling, publicado no site da CNN.

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(CNN) - Os três agentes de segurança iranianos tocaram à campainha, informou educadamente o homem sobre a sua detenção, revistaram minuciosamente a casa, confiscaram livros equipamentos high-tech, e levaram-no para longe até famosa prisão de Evin.

A rusga na manhã domingo demorou três horas. Agora, cada segundo parece uma eternidade para os angustiados membros da família do homem, que rezam pela sua segurança física, aguardam a sua libertação, e abanam a cabeça face à perspectiva de uma longa estadia na prisão, disseram os seus familiares à CNN.

A sua família diz que o motivo da detenção é sua religião.

O homem é um dos 16 Baha'is apanhados nas rusgas em 21 de Maio (e após essa data) que visavam educadores dedicados ao ensino de membros da sua comunidade a quem é negada a entrada nas universidades na República Islâmica do Irão. Desses 16, nove já foram libertados. Mas este educador permanece na prisão, declarou um responsável Bahá’í à CNN.

Esta repressão é o mais recente exemplo de perseguição implacável do regime xiita de quem adere a uma fé considerada herética pelos aiatolás no poder.

A Fé Bahá'í, fundada durante o século 19 no Irão, e agora com 5 a 6 milhões adeptos em todo o mundo, é uma religião monoteísta que realça a unidade espiritual da humanidade.

Os clérigos que possuem influência no Irão consideram que a fé Bahá’í é uma blasfémia, porque o seu fundador, Bahá'u'lláh, declarou ser um profeta de Deus. Os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé foi o último profeta de Deus.

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Os ataques atraíram a condenação dos Baha’is e de outras vozes, incluindo a Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional, uma agência do governo americano que monitora a discriminação religiosa em todo o globo.

"O governo iraniano não vai parar a sua desavergonhada perseguição aos Bahá'ís no Irão", disse o presidente da comissão, Leonard Leo, numa declaração escrita. "Não é suficiente que as autoridades já tenham em acção uma política que impede os Bahá’ís de frequentar as universidades iranianas; o governo passou a tentar sistematicamente desmantelar a iniciativa interna da comunidade Bahá’í, para garantir que seus jovens tenham a oportunidade de obter uma educação acima do ensino secundário."

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Desde que o regime islâmico tomou o poder há décadas, a Comissão dos EUA diz que, 200 dirigentes Bahá’ís no Irão foram mortos, mais de 10.000 foram demitidos de empregos no governo e na universidade, e os seus seguidores são proibidos de "estabelecer locais de culto, escolas, ou associações independentes religiosas no Irão".

São-lhes "negados empregos públicos e pensões, bem como o direito de herdar propriedade. Os seus casamentos e divórcios também não são reconhecidos, e têm dificuldades na obtenção de atestados de óbito. Os cemitérios bahá'ís, os lugares sagrados, e as propriedades da comunidade são frequentemente confiscadas ou profanadas", afirma a Comissão.

O porta-voz Baha'i Farhad Sabetan, que lecciona economia na California State University, East Bay, declarou que apesar dos bahá'ís não poderem servir como oficiais militares, eles foram recrutados para servir como soldados rasos na guerra Irão-Iraque.

E desde 2005, cerca de 400 Bahá’ís foram presos arbitrariamente, acrescenta a comissão dos EUA, incluindo sete dos dirigentes da comunidade detidos há três anos.

"Isso lembra o que Hitler queria fazer antes do extermínio", disse Sabetan. Isso é uma referência à perseguição e genocídio de judeus sob o regime nazi de Adolf Hitler na Alemanha no século 20.

Como os bahá'ís foram sistematicamente excluídos do ensino superior, eles desenvolveram o instituto em estilo underground.

Sabetan afirma que a ideia foi: "Por que não podemos simplesmente começar alguma coisa nós próprios?"

No início as aulas eram cursos por correspondência. Outros foram realizados em casas particulares, onde estudantes de odontologia usavam lava-louças de cozinha em aulas de construção de próteses.

"Tornou-se um desenvolvimento de base caseira".

Ninguém incomodou alunos e professores no início, quando o grupo reuniu voluntários, equipamentos e estudantes voluntariosos. O seu corpo docente era constituído por profissionais voluntários que ensinavam no Irão, mas tinham perdido os seus empregos após a revolução, por serem bahá'ís.

Mas cerca de 10 anos depois, a repressão começou.

Os jogos de poder não faziam sentido para os bahá'ís e parecia que a opressão era motivada apenas pela opressão. Sabetan disse que um professor lhe contou que os agentes de segurança "destruíram tudo" num ataque e nem sequer tiveram o bom senso para confiscar o material para seu uso próprio.

Com a ajuda do financiamento de organizações Bahá’ís estrangeiras, o sistema cresceu e hoje é uma faculdade virtual online.

O esforço é uma iniciativa séria para ajudar os Bahá’ís iranianos a obter as qualificações adequadas para os negócios e profissões e graus de bacharel emitidos pela escola foram aceites por algumas faculdades ocidentais, declaram os Bahá’ís no seu site.

A rede educacional Bahá’í oferece mais de 20 cursos de sub-graduação e graduação numa gama de áreas tão distintas como a literatura, o direito, a matemática e a farmácia, acrescenta o site.

Sabetan afirmou que não sabe o que levou as autoridades a efectuar as últimas rusgas, mas pelo menos uma das pessoas foi acusada de actos contra a segurança do regime.

"Não está claro para nós como é que o estudo da física, química e da ciência são um perigo para o governo iraniano", disse Sabetan.

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