sábado, 21 de julho de 2018

A Fé Bahá’í: uma Religião Científica?

Por David Langness.

Louvado seja Deus, pois este século é o século das ciências! Este ciclo é o ciclo da realidade! As mentes desenvolveram-se; os pensamentos assumiram uma visão mais ampla; os intelectos tornaram-se mais profundos; as emoções tornaram-se mais sensíveis; as invenções transformaram a face da terra, e esta era adquiriu uma capacidade gloriosa para a revelação majestosa da unicidade do mundo da humanidade. ('Abdu’l-Baha, Divine Philosophy, pAG. 162-163)
Vivemos, sem dúvida, na era da ciência.

Há apenas um grupo muito reduzido de pessoas na face da Terra que ainda vive em condições intocadas pela ciência moderna. A vasta maioria da população mundial, durante os últimos dois séculos, teve a sua vida revolucionada por descobertas científicas e progressos tecnológicos que hoje tomamos como garantidos.

As invenções científicas, tal como ‘Abdu’l-Bahá sugeriu há mais de cem anos atrás, “transformaram a face da terra”. A ciência tem tido um impacto profundo em todos nós, prolongando a esperança de vida, proporcionando a muitos de nós fontes de alimentação relativamente baratas e seguras, erradicando e controlando doenças mortais que costumavam flagelar a humanidade, e dando-nos a possibilidade de viajar, comunicar e criar amizades com praticamente todos os grupos de pessoas no planeta.

É claro que os avanços da ciência contemporânea também trouxeram a massificação e modernização da guerra e do genocídio, a proliferação das armas nucleares e a vasta poluição da biosfera da Terra.

Podemos então perguntar: como é que as pessoas que se interessam pelas realidades espirituais da vida se relacionam com a ciência? Devemos considerá-la um grande benefício ou uma grande ameaça? Se acreditamos na ciência, será que isso exclui Deus? Como devemos tomar decisões - devemos dar prioridade à religião ou à ciência? A ciência representa uma esperança para as gerações futuras ou será um perigo para o nosso futuro?

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que a ciência e a religião são “as duas forças mais poderosas na vida humana”. De facto, a Fé Bahá’í tem uma relação única com a ciência – em vez de se opor, de a ignorar ou de negar o seu impacto profundo, o princípio Bahá’í de harmonia e concordância fundamental entre ciência e religião apresenta uma visão completamente nova de como o progresso científico e a religião progressiva podem potencialmente coexistir e cooperar.

Ao contrário de qualquer outra religião, os ensinamentos Bahá’ís afirmam que a própria religião deve estar de acordo com os ditames da ciência e da razão:
Até agora dizia-se que todas as religiões eram constituídas por doutrinas que tinham de ser aceites, mesmo que parecessem contrárias à ciência. Graças a Deus, neste novo ciclo o conselho de Bahá’u’lláh é que na procura da verdade o homem deve avaliar questões religiosas na balança da ciência e da razão. Deus deu-nos mentes racionais com este propósito: para que compreendamos todas as coisas, para encontrar a verdade. Se alguém renuncia à razão, o que lhe resta? Os textos sagrados? Como podemos compreender os mandamentos de Deus e que aplicação lhes podemos dar, sem o equilíbrio da razão?

Os sacerdotes estão apegados a antigas superstições e quando estas não estão de acordo com a ciência, eles denunciam a ciência. Quando a religião é sustentada pela ciência e pela razão, podemos acreditar com certeza e agir com convicção, pois a faculdade racional é a maior força no mundo. Através dela, criaram-se indústrias, o passado e o presente revelam-se e as realidades ocultas são trazidas à luz. (‘Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, pags. 102-103)
Por este motivo, há muitos observadores e comentadores que chamam “religião científica” à Fé Bahá’í. Essa expressão salienta o princípio básico de concordância essência entre ciência e religião, e também caracteriza a atitude da Comunidade Bahá’í face às questões modernas sobre ciência, tecnologia, medicina e ética; além disso, explica porque é que tantos Bahá’ís optam por cursos educativos científicos e técnicos e se tornam cientistas, engenheiros, médicos e investigadores; e por último, descreve de forma genérica a atitude dos Bahá’ís para com as explicações lógicas e racionais sobre a existência de uma realidade espiritual.

Nesta série de artigos sobre ciência e religião, vamos analisar detalhadamente alguns assuntos específicos: como é que os Bahá’ís encaram as controversas questões modernas que a ciência coloca? E a afirmação de ateus e agnósticos de que a ciência tornou obsoleta a crença em Deus? Porque é que a comunidade científica não aproveitou plenamente as contribuições das mulheres nos campos científicos? Como é que os Bahá’ís vêem a pseudociência? Como podem os ensinamentos espirituais da Fé Bahá’í ajudar a aliviar os estragos feitos pela perspectiva científica mundialmente dominante que vê os humanos como um exército que conquista, domina, mecaniza e industrializa o mundo natural?

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Texto original: The Baha’i Faith: The Scientific Religion? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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