Não vivi o 25 de Abril como bahá’í. Apenas me tornei bahá’í em 1984. Do contacto com os bahá’ís mais velhos, percebi sempre que o 25 de Abril foi recebido com grande alívio.
Durante o anterior regime, a pressão sobre a Comunidade Bahá’í foi grande. Em Lisboa, o Centro Bahá’í foi várias vezes "visitado" pela PIDE, e muito material (livros, cartazes, máquinas de escrever) foi confiscado. A maioria dos crentes tinham sempre receio de falar da Fé a alguém que não conhecessem.
Nas chamadas "províncias ultramarinas", os problemas não era muito diferentes. Além do caso de Duarte Marques Vieira houve na Guiné casos de crentes que foram privados de cuidados médicos, crentes que recebiam ordem de expulsão para a metrópole. Em Angola, a polícia política também desconfiava das actividades bahá’ís; chegou mesmo a efectuar detenções.
Alguns dos crentes mais "entradotes" têm histórias bem interessantes das actividades nesses tempos junto das aldeias africanas.
Só após a revolução (mais precisamente, em 1975), a Comunidade Bahá’í de Portugal conseguiu obter o tão desejado reconhecimento jurídico; as actividades ganham novo fôlego, e os crentes deixam de ser perseguidos ou incomodados por causa das suas convicções ou actividades. As facilidades de deslocação ao estrangeiro permitem ainda maior contacto com outras comunidades da Europa e do Brasil. Em 1979, a revolução iraniana trouxe para Portugal algumas dezenas de refugiados bahá’ís; alguns ficaram por cá; prosperaram e dinamizaram a comunidade.
Mas esta liberdade de culto e de associação que imediatamente se sentiu em Portugal tardou em chegar aos povos africanos que viviam sob a ditadura portuguesa. Para eles a administração colonial foi substituída por outros regimes totalitários. As comunidades bahá’ís nesses novos países sentiram novas dificuldades; em alguns casos as actividades eram proibidas e alguns crentes chegaram a ser perseguidos.
No final da década de 80 a situação política nesses países começou a evoluir e a situação dessas comunidades começou a melhorar. Os governos começam a tolerar as actividades bahá’ís; os crentes deixam de ser alvo de suspeitas políticas. “Pioneiros” de Portugal e do Brasil chegaram àqueles países para dinamizar e reanimar aquelas comunidades.
Só em 1992, numa celebração do Centenário do falecimento de Bahá'u'lláh em Haifa, encontrei bahá’ís angolanos; era a primeira vez que podiam viajar em grupo para o exterior. Na altura tive a oportunidade de conhecer uma das mais antigas bahá’ís angolanas; estava profundamente emocionada por finalmente ter visto uma foto de Bahá'u'lláh.
Nesse mesmo ano, no Congresso Mundial de Nova Iorque, encontrámos bahá’ís moçambicanos; fizemos questão de fossem entrevistados para um programa da TV portuguesa. Nesse mesmo congresso, ao serem anunciados todos os países presentes notámos que todos os países africanos que língua portuguesa tinham crentes ali presentes.
A liberdade de culto e de associação, prometida pelo 25 de Abril, só chegou mais tarde aos povos africanos. Mas chegou! Graças a Deus.
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