quarta-feira, 31 de março de 2004

Eduardo Duarte Vieira


Eduardo Duarte Vieira era um funcionário da administração portuguesa na então província da Guiné. O seu cargo obrigava-o a várias deslocações a Lisboa. Também colaborava activamente nas actividades da Igreja em Bissau.

Numa das suas deslocações a Lisboa conheceu a fé Bahá'í. De regresso à Guiné começa a ensinar a mensagem de Bahá'u'lláh. As pressões do clero e da polícia não se fizeram esperar. Durante vários meses, foi alvo de medidas repressivas, como despedimento da administração pública, detenções arbitrárias, violação de correspondência e confiscação de livros.

No dia 11 de Março de 1966 foi detido pela última vez, sub acusação de actividades políticas subversivas. Em 31 de Março de 1966, após vários dias de tortura e maus tratos, Eduardo Duarte Vieira morria numa prisão de Bissau. Foi o primeiro martir Bahá'í africano.

Numa lata de biscoitos conseguiu escrever, com algum objecto pontiagudo, uma mensagem de despedida para a sua esposa:

"Tonia: Este foi o caminho do destino. Tudo está terminado. Ama o teu semelhante e cria os teus filhos com amor. Ama a todos. Perdoa todos os erros que eu tenha cometido. Que sejas capaz de encarar a vida com naturalidade. Adeus, e desejo-te um longa vida, Duarte, 29-03-1966"

Uma breve história da sua vida encontra-se aqui.

terça-feira, 30 de março de 2004

Nos confins da Ásia...

Durante muito tempo, no Turquemenistão, para uma comunidade religiosa ser reconhecida oficialmente, a lei exigia que existissem mais de 500 membros adultos nessa comunidade.

Há duas semanas, essa lei foi revogada. Crentes de muitas religiões até agora consideradas ilegais (Protestantes, Arménios Apostólicos, Muçulmanos Xiitas, Judeus, Bahá’ís, Testemunhas de Jeová e Hare Krisha) foram apanhados de surpresa por este decreto que permite que uma comunidade religiosa seja reconhecida oficialmente independentemente da quantidade de crentes.

As reacções variam entre o cepticismo e o optimismo. As autoridades vão insistindo que actividades religiosas não reconhecidas são ilegais. Mais detalhes aqui.

Brasil

Em diferentes épocas e diferentes lugares há um Brasil distinto.
Existiu Brasil nordestino de Gilberto Freyre visível em "Casa Grande e Senzala" e "Sobrados e Mocambos";
Existiu um Brasil gaúcho que serviu de cenário a "O Tempo e o Vento" de Erico Veríssimo;
Existiu um um Brasil que foi palco da Guerra dos Canudos descrita por Euclides da Cunha n'"Os Sertões";
Um outro Brasil, que viveu o golpe de 1964, é apresentado num suplemento especial da revista Veja.
E depois há muitos outros: o Brasil prometido pelas agências de viagens, o Brasil dos Sem Terra, o Brasil asfixiante que é S.Paulo...

No meio de todos estes, creio que hoje há um Brasil onde deve ser bom viver!
Fica em Curitiba, lá no Paraná. É uma cidade já com mais de 300 anos de existência...

segunda-feira, 29 de março de 2004

Religião nos jornais de fim-de-semana

Os jornais de fim-de-semana abordaram várias vezes o tema da religião.

No Expresso (mais precisamente na revista Única), tínhamos a página de Inês Pedrosa com o título Discutir Deus; além disso, faziam parte da mesma revista um artigo sobre padres operários e outro sobre a sucessão de Bartolomeu I, o patriarca de Constantinopla.

No Público de domingo, além do habitual texto de Frei Bento Domingues (Perguntas Sobre o Terrorismo), tínhamos um artigo sobre a forma como alguns católicos vivem a Quaresma e outro sobre um grupo missionário islâmico em Portugal.

Os textos de Inês Pedrosa e de Bento Domingues merecem uma leitura cuidadosa. No entanto, em cada um dos textos houve uma frase que despertou a minha atenção. Em ambas as frases parece-me que estamos perante uma visão muito pessoal dos factos (as palavras não são os factos; são apenas uma visão dos factos). Independentemente dos comentários que tenho a fazer sobre estas duas frases, os dois textos merecem ser lidos com atenção.

MARXISMO
"Ao aumentar o seu grau de tolerância, as grandes religiões do século passado (em particular os cristianismos e o marxismo) tornaram-se me simultâneo menos impiedosas e menos populares". (Inês Pedrosa)

Acredito que classificar o marxismo como religião é absurdo; tentar reduzir as grandes religiões do século XX ao cristianismo e ao marxismo é igualmente absurdo. Será que outras grandes religiões não produziram nada de sigificativo e positivo no século passado? Poderá uma teoria política ser comparada a uma religião?

Fará sentido classificar como religião uma ideologia que considera o ser humano como um pedaço de matéria que tomou consciência de si próprio? Alguma vez Marx se proclamou mensageiro divino? Os seus ensinamentos produziram alguma civilização? O Marxismo influenciou a sociedade ocidental durante 4 ou 5 gerações; outras sociedades foram influenciadas durante menos tempo. Será isso comparável a 20 séculos de Cristianismo ou 14 séculos de Islão?

Para lá do reparo que a frase merece, o texto de Inês Pedrosa é muito interessante pois mostra como a tolerância e a dúvida podem ser mais atraentes que as certezas absolutas.

O OUTRO TERRORISMO
"Existe um outro terrorismo promovido por governos, exércitos, bancos, empresas nacionais e multinacionais, organizações, pessoas e grupos que, a céu aberto, por omissão e acção, degradam a natureza, provocam epidemias, mergulham na pobreza, na doença na fome e na morte grande parte da população mundial." (Frei Bento Domingues OP)

Nesta frase, estamos a classificar como terrorismo algo muito mais grave do que isso. Lançar o terror contra uma sociedade é diferente de destruir, saquear e lançar no desespero grandes segmentos da família humana. O primeiro pode ter um grande impacto mediático na sociedade alvo desse terror; o segundo, não obstante o menor impacto mediático, cria um processo quase sempre irreversível de aniquilação de uma parte da humanidade.

Há duas boas razões para que esta "segunda forma de terrorismo" receba outra designação que não a de terrorismo. Primeiro porque é mais grave e mais destruidora; segundo, porque ao receber uma mesma designação, pode parecer uma justificação para o verdadeiro terrorismo.

O texto de Frei Bento Domingues tem o mérito de chamar a atenção para a completa falta de escrúpulos na luta pelo domínio e pelo poder; sobre esse assunto já tinha apresentado aqui uma citação da Promessa da Paz Mundial.

sábado, 27 de março de 2004

Pouca transparência no 4º Poder

Desde ontem à noite que a SIC e a SIC-Notícias vêm transmitindo a notícia que o Refúgio Aboim Ascenção não aceita crianças com SIDA, nem crianças deficientes. O jornalista inicia a notícia com a frase "O país está chocado!"

O responsável pelo Refúgio esclareceu que não recebia essas crianças porque não tem condições para as receber (foi o que percebi nas suas palavras). Outras pessoas responsáveis por organizações de apoio a crianças deficientes ou crianças com SIDA apareceram a dizer que se está a fazer discriminação e que isto é inaceitável.

Nas palavras de todos os entrevistados parece claro que não há condições para ter essas crianças, mas gostariam de ter essas condições. O(s) jornalista(s) vai(vão) tentado enfatizar um sentimento de revolta nas palavras dos entrevistados.

No meu entender as crianças normais, com deficiência ou mesmo com SIDA deveriam poder brincar, estudar e estar juntas. No entanto é óbvio que isso exige condições especiais; todos sabemos como as brincadeiras de crianças podem terminar com arranhões, esfoladelas, dentadas e feridas a sangrar. Seria totalmente descabido misturar estas crianças sem adoptar as necessárias condições, permitindo que a doença se espalhasse. Também a existência de escadas ou outras barreiras físicas podem ser uma forte condicionante à presença de crianças que apenas se consigam deslocar em cadeiras de rodas.

O momento da notícia e todo o tom de escandaleira e de sensacionalismo barato é estranho.

Primeiro, porque há neste momento notícias e problemas que são bem mais graves na nossa sociedade (veja-se a estranha decisão do caso da ponte de Entre-os-Rios!)

Segundo, porque recentemente Dr. Luís Villas-Boas foi objecto de uma polémica ao afirmar que aos casais homossexuais não devia ser permitido a adopção de crianças (será esta notícia uma vingança de algum lobby?).

Terceiro: será isto uma forma de pressionar a atribuição de um apoio estatal para criar condições para receber crianças com SIDA ou deficientes? Estará o poder político tão insensível para ter sido necessário armar toda esta confusão?

Estamos claramente perante uma atitude pouco transparente do 4º Poder. Que se passará nos seus meandros?

sexta-feira, 26 de março de 2004

Hoje é dia de "Inimigo Publico"

Nos últimos meses, as nossas sextas-feiras têm sido animadas graças ao Inimigo Público. Este suplemento do jornal "Público", tem mostrado uma incrível capacidade para nos fazer rir. "Se não aconteceu, podia ter acontecido" é o lema do jornal.

Neste dia da semana, em muitos locais de trabalho, na pausa para o café ou na hora de almoço, há sempre alguém que vai lendo para os outros; e as gargalhadas sucedem-se umas atrás das outras. Nos dias seguintes perguntamos a familiares e amigos "Viste aquela do Inimigo Público em que diziam que...?"

Nos tempos que correm, todos sentimos que a sociedade portuguesa vive oprimida e triste (sociólogos e psicólogos podem falar disso melhor que eu!), esta possibilidade de nos rirmos é importante para nossa saúde mental individual e colectiva.

Espero que os autores do Inimigo Público continuem inspirados por muitos e bons meses!

Esta situação recorda-me umas palavras de 'Abdu'l-Bahá (nos Estados Unidos em 1913), a propósito da vida de Bahá'u'lláh e Seus companheiros na prisão:

É bom rir. Rir é um relax espiritual. Quando eles [Bahá'u'lláh e companheiros] estavam na prisão, sob as maiores dificuldades e privações, cada um deles, ao final do dia, descrevia um facto engraçado que tivesse acontecido. Nem sempre era fácil descobrir algo engraçado, mas muitas vezes eles riam até lhes correrem lágrimas pelas faces.

(Howard Colby Ives, Portais para a Liberdade, p. 103)

quinta-feira, 25 de março de 2004

Latitude Zero

Fotojornalismo on-line da revista Time mostra-nos aspectos da vida em diversos países atravessados pelo equador.
Sensacional!

Onde fica Portugal?

O que fazem um português, uma holandesa de ascendência iraniana, um casal equatoriano, dois idosos do Sri Lanka, um arménio, um jovem neozelandês e uma zimbabweana numa rua de Haifa, em Israel?

Qualquer habitante de Haifa os reconhecerá e perceberá que são Bahá’ís que estão de visita aos lugares sagrados ali na cidade. Ali somos reconhecidos porque - dizem os israelitas - "andamos sempre misturados".

Quando há alguns anos fiz a minha peregrinação à Terra Santa, o grupo de peregrinos era, como sempre, bem diversificado. Os nove dias da peregrinação permitem - entre outras coisas - conhecer pessoas das mais diversas partes do mundo. Todas as pessoas ali têm algo de interessante: desde o iraniano que sabe muito bem que os portugueses foram piratas (é isso que aprenderam na escola, é assim que eles nos viram) ao nigeriano em cuja aldeia natal ainda se utilizam algumas palavras de origem portuguesa.

Numa ocasião, em que o grupo, sempre bem disposto de peregrinos se deslocava de autocarro, o neozelandês perguntou-me onde ficava Portugal. Devia ter os seus 18 anos e vivia noutro hemisfério muito, muito longe de nós. Entre a maioria dos peregrinos houve risos e espanto perante aquela afirmação de ignorância.

Disse-lhe que lamentava que ele não soubesse onde ficava o meu país. Expliquei-lhe que eu, pelo contrário, sabia muito bem onde ficava a Nova Zelândia. "A Nova Zelândia é uma das cidades mais bonitas da Austrália!" concluí.

A maioria do grupo explodiu em gargalhadas; o rapaz tentou fingir que ficava zangado, mas também só conseguia rir! Eu sabia que era a pior coisa que lhe podiam ter dito. Mais tarde expliquei-lhe onde ficava Portugal. Nunca deve ter esquecido.

quarta-feira, 24 de março de 2004

Migrações

No site da BBC está um trabalho muito interessante sobre migrações.
Aborda aspectos como origens e destinos dos refugiados, a migração laboral e o dinheiro enviado para os países de origem.
A não perder!

D. Pedro II na Terra Santa (1876)

Tinha aqui na minha pilha de livros por ler, uma edição do Diário da Viagem de D. Pedro II à Terra Santa, em 1876. Foi um dos vários livros que comprei no Brasil. O que me levou a comprá-lo foi o facto da viagem do Imperador se ter realizado numa altura em que Bahá'u'lláh, família e alguns companheiros já se encontravam na Terra Santa (na altura sob domínio Otomano).

Esperava encontrar uma descrição da Palestina desses tempos, ou mesmo alguma referência aos "exilados persas". Convém recordar que no ano da viagem Bahá'u'lláh estava em regime de prisão domiciliária na casa de Abud. O Imperador e sua comitiva não passaram por 'Akká nem por Haifa, apesar destas cidades serem referidas no texto.

O texto do diário é curto e constituído essencialmente por narrativas e descrições. Ressalta a preocupação do imperador em relacionar os locais visitados com passagens da Bíblia e também o pouco contacto com a população local. Mas não há qualquer referência aos "prisioneiros persas".

No entanto, na introdução encontra-se um excerto de uma carta do Imperador ao Conde Gobineau. Sabemos que este aristocrata foi dos primeiro ocidentais a ter conhecimento da Fé Bahá'í e a dilvulgá-la nos seus livros e correspondência. Teria isso sido tema de prosa entre ele e o Imperador? Talvez um dia algum investigador nos possa responder.

Um aspecto curioso que despertou a minha atenção neste diário é o contacto em Damasco com uma família de judeus de ascendência portuguesa (de nome "Lisbun"). Tratavam-se de descendentes de judeus que tinham sido expulsos de Portugal por D. Manuel I, para escapar à conversão forçada.

terça-feira, 23 de março de 2004

Templo de Chicago

Descobri recentemente um site dedicado ao Templo Bahá'í de Chicago. Este templo (na terminologia Bahá'í, designam-se por "Casa de Adoração") está em funcionamento há mais de 50 anos e é já um ex-libris da cidade.

Existem poucos templos Bahá'ís no Mundo. Este tem a particularidade de ter sido o primeiro a ser construído no Ocidente. O planeamento da sua construção iniciou-se em 1903, mas as obras só se iniciaram em 1920. A construção este templo foi plena de incidentes e problemas; frequentemente as obras tiveram de ser interrompidas por falta de fundos. Apenas em 1953, o edifício ficou concluído e foi realizada a cerimónia de dedicação do templo.

Os serviços devocionais nestes templos consistem em leitura das escrituras Bahá'í e de outras religiões reveladas, e musica "à capela". Outros edifícios circundantes acolhem outras actividades da comunidade, nomeadamente actividades educativas, humanitárias e administrativas.

Para informação mais detalhada sobre os templos ver este documento.

segunda-feira, 22 de março de 2004

Cobras

Poucas semanas após os EUA terem responsabilizado Bin Laden e a Al-Qaeda pelos terríveis atentados do 11 de Setembro questionei-me sobre a existência da Al-Qaeda. Na verdade, parece-me mais plausível que existam vários grupos do tipo da Al-Qaeda, e vários Bin Ladens. Alguma destas organizações terroristas poderão inclusive estar a competir entre si na dimensão dos estragos e do terror que lançam sobre o mundo civilizado.

No entanto, a administração americana e alguns media vão insistindo na ideia que tudo quanto seja terrorismo vindo do mundo árabe está de alguma forma associado à Al-Qaeda e a Bin Laden.

Ao reduzirem a fonte da ameaça terrorista a dois ou três dirigentes e a uma organização, poderemos estar a criar a impressão que uma vez mortos, ou capturados, esses dirigentes, a ameaça terrorista diminuirá significativamente. Por outras palavras, se dermos um golpe certeiro na cabeça da cobra, esta morre.

Creio que a ameaça terrorista não pode ser representada por uma cobra, nem por uma cobra com várias cabeças, mas sim por várias cobras. Estas cobras podem-se morder umas às outras, mas também podem disputar a mesma presa.

Deste modo, se um dia, Bin Laden e outros dirigentes da dita Al-Qaeda forem mortos ou capturados, o mundo civilizado não poderá respirar de alívio. Provavelmente outros ataques terroristas se seguirão e darão novamente a sensação de insegurança; e tudo começará de novo.

A situação que hoje vivemos hoje poderia ser comparada a um homem que está fechado num quarto às escuras com várias cobras. As cobras vão mordendo o homem e ele vai tentando matá-las. O combate pode arrastar-se durante muito tempo. Mas persistirão sempre duas questões: De onde virá o próximo ataque? Quantas cobras ainda existem?

domingo, 21 de março de 2004

Feliz Ano Novo

Hoje é Naw-Ruz, o dia de Ano Novo no calendário Bahá'í. Entrámos no ano 161.

Feliz Ano Novo a todos.

quinta-feira, 18 de março de 2004

Sobre "A Paixão de Cristo"

Quando se tem um pimpolho de sete meses em casa, a nossa vida social fica condicionada. Por sinal, há mais de sete meses que não vou ao cinema. Agora é o cinema vem até nossa casa; aparece nos canais da TV ou graças a algum DVD que se vende com juntamente com um jornal.

Por este motivo vou ter de esperar que a Paixão de Cristo surja na TV ou algum amigo me empreste o DVD. De qualquer forma vou acompanhando as polémicas e “pequenas guerrilhas politico-religiosas” em torno do filme.

No meio das polémicas encontrei um comentário de um bahá’í que já viu o filme. Este comentário é bastante longo, mas merece ser lido. Em jeito de aperitivo aqui fica um dos parágrafos do texto:

So perhaps it is enough to know that Jesus suffered, that He suffered for our sakes, and that through Him we can attain to the Kingdom of God. Perhaps it is not necessary to know all the grisly details, nor to make them up and inflict them upon ourselves. Perhaps He wishes us to rejoice in eternal life, not cringe before the spectacle of His (bodily) death.

quarta-feira, 17 de março de 2004

Terrorismo: um perspectiva bahá'í

Raízes e possíveis Soluções
Quais as razões do terrorismo? Que meios podem ser utilizados para combater este problema internacional, em relação ao qual os estado modernos são extremamente vulneráveis? Poderá a actual ordem mundial responder adequadamente a este desafio?
O artigo publicado na revista One Country em 2002 aborda estas questões e merece ser lido mais uma vez.

The Theology of Osama Bin Laden
Um breve ensaio de Susan Maneck, descreve os conceitos básicos em que assenta a ideologia/teologia do grupo da Al-Qaeda. Trata-se de um pequeno texto, mas nem por isso pouco interessante. Percebemos imediatamente como este grupo terrorista possui uma visão muito parcial e distorcida do Islão.

Mail do Ivan

Recebi o seguinte mail do Ivan:

Marco,
fui ler o teu post e agradeço-to. Mas há um equívoco que te peço que corrijas: aquilo não é um texto que eu tenha escrito, mas um email, de um católico, que eu recebi. Eu sou resolutamente ateu.
obrigado.ivan


Pois é! Meti-me a meio de uma conversa e aconteceu isto...
:-)

terça-feira, 16 de março de 2004

A minha visão da Montanha

Cheguei à pouco tempo à blogosfera e consequentemente conheço pouco dos seus meandros; tenho para mim alguns blogs de referência, que são quase de consulta obrigatória. O post do Ivan n'A-Praia é o segundo post sobre uma série de questões ligadas à religião (não encontrei o primeiro post!)

Não pretendo entrar em polémica com o Ivan; apenas dar a conhecer a minha perspectiva da "montanha". Devo dizer que gostei bastante da tua definição de amor divino, tal como gostei também da imagem de Deus como uma montanha e das diferentes perspectivas que os povos têm dessa montanha.

As questões
As questões que te colocaram «o que é essa coisa a que chamam Deus?» «O que esperam dela?» «Em que sentido é que acreditam numa alma imortal libertada do corpo?» «Acham que existe o inferno, e o que é?» são dúvidas que nos podem perturbar toda a vida; mas a religião não tem necessariamente de nos dar uma resposta completamente esclarecedora e definitiva. Ela deixar-nos a dúvida e mostrar-nos como nos podemos fortalecer perante a dúvida.

Por outras palavras: deverá a religião ser encarada como um porto de abrigo contra todas as dúvidas que nos deve dar respostas seguras a todas as questões, ou um estaleiro de reparação que nos reforça e fortalece, permitindo enfrentar um mar de dúvidas, tempestades de questões, e ondas de inquietações? Prefiro a imagem do estaleiro; e confesso que periodicamente venho ao meu "estaleiro" fazer umas reparações e uns melhoramentos; terminados os trabalhos, faço-me de novo ao mar!

Essa coisa a que chamam Deus
Deus está acima de qualquer definição humana. Creio que foi S. Tomás que escreveu que nunca poderemos saber o que Deus é; apenas poderemos saber o que Ele não é.

Acredito que Ele existe, e Se manifesta de tempos a tempos aos povos do mundo, enviando-nos Profetas com mensagens adequadas à nossa maturidade e à nossa capacidade de compreensão. Foi assim que recebemos, entre outros, Abraão, Moisés, Jesus, Maomé, e mais recentemente Bahá’u’lláh. Deus, como Pai, não abandona os Seus filhos, nem os deixa sem a orientação da Sua Mensagem.

Os Profetas que Deus nos envia também podem ser comparados aos sucessivos professores que vamos tendo na escola; cada um desses professores vai-nos ensinando realidades deste mundo, de acordo com a nossa capacidade de aprendizagem; os seus ensinamentos não são contraditórios; pelo contrário, são complementares. E assim, a humanidade vamos evoluindo sob o olhar atento desse Deus Pai.

O que eu espero de Deus?
Pelo que entendi até hoje da Fé Bahá’í, preocupo-me mais com a questão "O que Deus espera de mim?" do que "o que eu espero de Deus?" Não posso olhar para o Criador como olho para o meu patrão de quem espero que me dê um aumento de ordenado, ou que me poupe a uma vaga de despedimentos. Não consigo encará-Lo como "alguém" que me facilite a vida ou me alivie os problemas, mas como "alguém" a que eu devo servir (não vou conseguir livrar-me Dele como me conseguiria livrar de um patrão).

Assim, a questão que coloco é "O que será que Deus espera de mim?" Pelo meu entendimento das escrituras Bahá’ís, sei que Ele espera que eu dê meu contributo para o progresso e evolução da grande família humana; sei que devo respeitar os meus semelhantes e toda a criação de Deus.

Como poderei dar um contributo válido? Que poderei fazer para que a Terra se torne um só país e a humanidade os seus cidadãos? Se por acaso morresse hoje, teria a minha vida valido a pena?
E com o meu filho? Conseguirei transmitir-lhe os valores morais necessários para fazer dele um cidadão digno e válido? Conseguirei incutir-lhe a necessidade de contribuir para a evolução da nossa grande família humana?

São perguntas lixadas! Deixam um gajo à nora... Mas é enfrentando um mar de dúvidas e inquietações como estas que nos fortalecemos; não é certamente no conforto das respostas definitivas e no abrigo das certezas.

Propósito da vida
Acredito que quando morremos a alma continua evoluindo noutros mundos, tal como um bebé quando nasce continua a sua evolução neste mundo. Um bebé quando está no ventre materno tem de se desenvolver fisicamente; depois de nascer para este mundo, o ser humano deve desenvolver-se espiritualmente, pois necessita de qualidades espirituais para a vida que se segue à morte física.

Como conseguir esse desenvolvimento espiritual? Creio que para isso devemos seguir os ensinamentos dos Profetas que Deus nos tem enviado. Claro que isso não é nada fácil... Ainda por cima o nosso desenvolvimento espiritual é um acto voluntário. O ser humano não pode decidir sobre a sua evolução física, mas tem livre arbítrio sobre a sua evolução espiritual.

A ideia do corpo ser uma espécie de gaiola para a alma parece-me interessante; mas tem associada ideia de crime que temos de pagar (isto leva-nos ao conceito de pecado original de Santo Agostinho!); prefiro ver esta vida como uma espécie de casulo do bicho-da-seda onde temos de nos transformar para ficar aptos para uma nova fase da nossa existência.

Como podes ver, Ivan, estou tão perdido nesta vida como tu; apenas tenho outra perspectiva da Montanha.
Outras questões como o inferno, a ressurreição dos mortos, a existência do mal ficam para outro post.

segunda-feira, 15 de março de 2004

India - Paquistão: Boas notícias!

Na semana passada a equipa indiana de cricket iniciou uma digressão pelo seu vizinho Paquistão. A notícia passou despercebida na comunicação social portuguesa. O cricket é um desporto estranho para nós e o que faz vender jornais e ganhar audiências parecem ser mesmo as más notícias.

As reportagens na BBC deram conta de um jogo com mais de 30.000 espectadores em Karachi. Não houve qualquer incidente durante o jogo. Nesta cidade nos últimos cinco anos contam-se já 4000 mil vítimas de violência etnico-religiosa. A India ganhou o jogo, mas não houve agressões, arremesso de objectos, claques a cantar qualquer coisa anti-India. A polícia disse mesmo que o público teve um comportamento exemplar.

O jogo teve cobertura televisiva no Paquistão e uma enorme audiência. Um comentador indiano escreveu sobre o jogo: "Agora todos compreendemos aquilo que tivemos privados durante os últimos anos".

Terá o desporto aberto o caminho da paz e da reconciliação?

domingo, 14 de março de 2004

Sensacionalismo e falta de rigor

Primeiro Jornal na SIC às 13H00. Continuam notícias sobre presumíveis autores dos atentados de Madrid.

Nuno Rogeiro é o comentador. Goste-se ou não do estilo, a verdade é que este comentador costuma estar sempre bem informado. Os seus conhecimentos sobre política internacional, armamento, o mundo da espionagem e contra-espionagem dão sempre mais interesse a qualquer programa de informação.

A certa altura o jornalista - vibrando com o sensacionalismo dos atentados e das ameaças de novos atentados da Al-Qaeda - chama-lhe a atenção para o facto dos Serviços Secretos Suecos terem avisado que o Euro 2004, os Jogos Olímpicos e o Casamento Real em Espanha serem possíveis alvos de novos atentados.

Nuno Rogeiro responde que nunca ouviu falar desses serviços secretos, e que a notícia referida pelo jornalista indica que as fontes de informação desses Serviços Secretos são o "New York Times" e a BBC!!!.

O jornalista insiste: "Mas isto é um facto objectivo!"

Nuno Rogeiro tenta ser diplomata. Responde que este tipo de notícia deve ser tratado com seriedade e rigor. Aquela notícia apenas serve para lançar especulações e o pânico.

Durante alguns segundos as câmaras focam o jornalista enquanto o comentador fala; percebemos que ficou claramente incomodado com o reparo. Era bom que os profissionais da informação não se deixassem dominar pelo sensacionalismo de toda, e qualquer, notícia que lhe chega às mãos.

Na véspera a falta de rigor já tinha sido chocante nas notícias que referiam "a detenção de três marroquinos e dois hindus". Hindus ou indianos???

sexta-feira, 12 de março de 2004

TERRORISMO, NÃO!

Os acontecimentos de ontem mexeram comigo (e com todos nós!). A dimensão da tragédia retira-me a tranquilidade necessária para escrever muita coisa. Por enquanto, ficam apenas duas citações.

"Os povos são suficientemente engenhosos para inventar ainda mais formas de guerra, e para usar a comida, as matérias-primas, o poder financeiro, o poder industrial, a ideologia e o terrorismo para se subverterem uns aos outros numa busca incessante pela supremacia e pelo domínio."

(Casa Universal de Justiça, A Promessa da Paz Mundial, 1985)

"Estas lutas infrutíferas, estas guerras ruinosas cessarão, e a Mais Grandiosa Paz virá."

(Bahá'u'lláh, 1891)

quinta-feira, 11 de março de 2004

Barbárie de Madrid

Desta vez os alvos da carnificina são os civis madrilenos. Que fizeram eles de mal? Que culpas têm eles?

Tinha a ideia (mas posso estar enganado!) que a ETA costumava atacar essencialmente alvos políticos (ministros e autarcas) e militares (a Guardia Civil).

Este tipo de ataques quase simultâneos e coordenados contra alvos civis parece obra de algum grupo ligado à Al-Qaeda.

Mas as crianças, Senhor...

No causa-nossa Vital Moreira chamou a atenção para uma notícia do El Pais onde se dizia que mais de 500 crianças palestinianas e mais de 100 israelitas foram mortas, desde o início da actual Intifada.

O número é assustador. Qualquer estatística sobre morte de crianças num conflito não nos deixa indiferentes.

Quando uma criança morre, há uma parte da humanidade que morre também com ela; é um ser-humano que não tem oportunidade de dar o seu contributo para a nossa família humana. Todos ficamos mais pobres com essas mortes.

Noutros pontos do mundo há crianças que também vão morrendo de forma violenta; as estatísticas da UNICEF relativamente Brasil no ano de 98 assinalam 3374 crianças (entre os 10 e os 17 anos) vitimas de homicídio; só no estado do Rio de Janeiro o número de vítimas atingia os 635.

Não pretendo com esta comparação minimizar a gravidade da situação das crianças palestinianas e israelitas; Apenas quero alertar para o facto de existirem casos mais graves e merecedores de mais atenção por parte da comunidade internacional, dos responsáveis políticos e dos media.

Infelizmente a morte de algumas crianças é mais mediática que outras.

Como o próprio Vital Moreira me chamou a atenção, o sofrimento das crianças palestinianas e israelitas não deve ser substituído pelo sofrimento das crianças brasileiras; deve ser adicionado.

quarta-feira, 10 de março de 2004

Sorriam: é um teste americano!

Nunca levei muito a sério aquele tipo de testes que pretende orientar uma pessoa nalgum aspecto da sua vida. Estes apresentam-se sempre com um substituto da racionalidade que é suposto ser inerente ao ser humano (em muitos seres humanos predomina a emoção). Sempre que fiz algum desses testes foi desconfiado, ou com a mesmo espírito com que se conta uma piada.
Descobri apenas agora que uns americanos inventaram um teste que em que identificam a religião mais adequada a cada pessoa, de acordo com as suas convicções pessoais (quem tem problemas existenciais, ou se sente desconfortável com a sua religião, já não precisa de se preocupar!)
Porque o tema era religião, não resisti ao teste; ao ler o resultado foi difícil conter uma gargalhada. Assim, como curiosidade aqui ficam as 10 religiões mais adequadas para mim:
1. Reform Judaism (100%)
2. Sikhism (97%)
3. Bahá'í Faith (94%)
4. Orthodox Judaism (92%)
5. Islam (84%)
6. Liberal Quakers (69%)
7. Mainline - Liberal Christian Protestants (65%)
8. Unitarian Universalism (61%)
9. Church of Jesus Christ of Latter-Day Saints (Mormons) (51%)
10. Mainline - Conservative Christian Protestant (49%)

Talvez alguém se lembre de inventar em Portugal teste semelhante para um seleccionar Partido político ou de Clube de Futebol, ou de Município para viver.

Se alguém levar este teste muito a sério, ainda corremos o risco que ele se torne obrigatório para os alunos que desejem frequentar a disciplina de Moral e Religião.

terça-feira, 9 de março de 2004

Casamento Bahá'í

No sábado estivemos num casamento Bahá’í. Uma cerimónia muito bonita e uma festa muito agradável. Foi um momento para rever amigos, apresentar o nosso filho a algumas pessoas, recordar o dia do nosso casamento. Foi também uma ocasião para pensar um pouco na vida de casado.
O mundo de cada um de nós poderia ser comparado a um pequeno sistema solar; cada um de nós é a estrela central, e ao nosso redor gra vitam coisas como a casa, o carro, o emprego, o prestígio, as realizações pessoais, as férias, os livros, os CD’s e os DVD’s, ... São tudo coisas que nos satisfazem e orbitam em redor de nós próprios.
Quando conhecemos a nossa "cara-metade", podemos ter duas atitudes:
- ou a adicionamos ao conjunto de elementos que orbitam no nosso mundo;
- ou todo o nosso mundo passa a orbitar ao redor dela.
A primeira atitude parece-me sintomática de uma relação efémera; a segunda atitude, se for recíproca, pode ser a base de uma relação duradoura.
Esta situação em que cada elemento do casal vive em função do outro - tal como duas estrelas gémeas que orbitam uma em redor da outra - é a minha imagem preferida do que deve ser um casamento.
Todos os casamentos de sucesso que observo à minha volta contêm esta estrutura base.
Enfim... Felicidades aos noivos!

segunda-feira, 8 de março de 2004

Jejum

Na semana passada, o Times of India publicou um editorial sobre o jejum bahá'í. No texto, o autor escreve coisas como:

"Fasting may assume different forms across different belief systems but is an integral feature of humanity’s common spiritual heritage."

"Fasting is meant to enhance self-control and awareness of one’s spiritual dimension. It channelises the thoughts and energies of all individuals towards these ends, quite irrespective of their religion."

Dia Internacional da Mulher

PRÉMIO
Bani Dugal, a representante da Comunidade Internacional Bahá'í nas Nações Unidas recebeu o prémio "Women Helping Women". A notícia está no BINS.

ENTREVISTA
De Inah Kaloga, advogada franco-guineense, responsável pelo Programa Especial sobre Mutilação Genital Feminina e Direitos Humanos da delegação da Amnistia Internacional em Kampala, capital do Uganda.
Descreve os avanços e os recuos da condição feminina em vários países.
A situação dramática do Uganda é referida mais uma vez.
Uma entrevista a ler e reler

A FRASE
Hoje não resisto a citar 'Abddu'l-Bahá:
And among the teachings of Bahá'u'lláh is the equality of women and men. The world of humanity has two wings - one is women and the other men. Not until both wings are equally developed can the bird fly. Should one wing remain weak, flight is impossible. Not until the world of women becomes equal to the world of men in the acquisition of virtues and perfections, can success and prosperity be attained as they ought to be.

Ecos do Irão

Os primeiros anos da revolução iraniana foram dramáticos para os Bahá’ís. Execuções, prisões, torturas, destruição e confiscação de propriedades... agora as coisas parecem ter acalmado. Hoje há apenas um Bahá’í preso por motivos religiosos.
Numa reportagem de Bárbara Reis no Público, o filho de um bahá’í iraniano prefere falar sob anonimato. As mudanças no Irão ainda não o deixam tranquilo.
Vamos esperar que tudo evolua para melhor, para bem dos próprios iranianos.

sábado, 6 de março de 2004

Miguel Torga

Descobri um texto interessante de Miguel Torga em que este descreve a duplicidade de sentimentos que a 2ª Guerra lhe provoca. Os seus ideais chocam com as suas raizes.

Diário de 25 de Junho de 1944: "Esta guerra minou-me os alicerces. Intelectualmente, sou demasiado cidadão do mundo para poder olhá-lo sem sentir que longe dela atraiçoo tudo quanto penso e quanto desejo; fisicamente, sou excessivamente de S. Martinho de Anta para ir morrer a um campo de batalha fora das minhas fronteiras. De maneira que pareço um tolo no meio de uma ponte: quero morrer e viver ao mesmo tempo no mesmo instante. E o pior é que esse instante dura há anos, e não sei quando acabará" (Diário, vol. III).

Creio que temos várias situações na vida em que os nosso ideiais chocam com as nossas raízes. Como Baha'is, decerto que já sentimos esse tipo de choques. O Miguel Torga usa uma imagem muito interessante para descrever esse confronto.

sexta-feira, 5 de março de 2004

Os Idosos e a TV

A geração dos meus tios e avós maternos está a desaparecer.
Vivem, ou viveram, os últimos anos das suas vidas em casa. Alguns têm, ou tiveram, a possibilidade de estar acompanhados pelos filhos ou sobrinhos. Outros vão ficando sós, recebendo visitas periódicas de irmãos, filhos, netos, sobrinhos e outros familiares; no intervalo dessas visitas a sua única companhia é a televisão.
Curiosamente, todos eles passaram por uma fase em que se recusavam a ver o telejornal (em qualquer canal!) O teor das notícias e a violência das imagens deprimia-os ou assustava-os. "É só desgraças! Só miséria..." queixavam-se.
Uma destas tias preferia ver o telejornal das Regiões; ali o teor das notícias era muito mais tranquilo: os bombeiros que receberam uma nova ambulância, a rede de esgotos que foi construída numa vila, uma estrada que nunca mais é alcatroada. Não havia ali desgraças ou tragédias.
Conheci outros idosos que tiveram um comportamento semelhante. Imagino que existam muitos mais no nosso país. Em alguns casos esta repulsa pela informação alargava-se a alguns jornais.
A violência dos noticiários televisivos portugueses já tem sido muito falada; refere-se muitas vezes o facto das crianças estarem expostas a esta violência (como irá isso influenciar o seu desenvolvimento?). Mas parece que nos esquecemos que os nossos idosos também são um grupo vulnerável a esta violência.
A guerra das audiências tem levado à degradação da qualidade da televisão. Se é fácil lembrarmos que as crianças são uma espécie de "vítimas inocentes" dessa guerra, será importante não esquecer que os idosos são também uma espécie de "danos colaterais" dessa mesma guerra.
Para quando um pouco mais de bom senso em pelo menos uma daquelas redacções das estações de TV?

quinta-feira, 4 de março de 2004

Pena de Morte

A mediatização e o julgamento dos casos de Pedofilia agitaram demasiado as nossas emoções e suscitaram mais uma vez a questão da Pena de Morte.
É difícil ser racional e objectivo quando falamos do tipo de condenações a que os autores destes crimes devem ser sujeitos, e somos simultaneamente bombardeados por notícias chocantes e sensacionalistas de casos de abuso sexual de crianças.
A Pena de Morte suscita questões muito sérias; não pode ser debatido num ambiente de tempestade emocional.
Na verdade, o Estado tem obrigação de proteger os seus cidadãos; mas não tem o direito de se vingar. Mas que formas pode assumir essa protecção?
Poderemos comparar os mais terríveis criminosos aos vírus que por vezes atacam o corpo humano e que são irremediavelmente destruídos pelos glóbulos brancos? Essa acção de destruição é um acto de protecção de todo o corpo, e não um acto de vingança.
Poderá o Estado assumir um papel similar com o objectivo de proteger toda a comunidade humana?
E se existirem erros judiciais? Como os poderemos emendar? Um sistema judicial é uma construção humana, e logo por aí pode estar sujeito a erros.
Não tenho resposta para todas estas questões; o assunto merece um debate amplo e sereno.

quarta-feira, 3 de março de 2004

Uma Sociedade Doente?

Andava eu a navegar pela biblioteca bahai online quando dei com a seguinte citação de Shoghi Effendi:

"...sinais de uma sociedade decadente, ... muito evidentes nos dias de hoje, são uma devoção frenética ao prazer e à diversão, uma sede insaciável pelo entretenimento, devoção fanática a jogos e desportos, uma relutância em tratar qualquer assunto de forma séria, e uma atitude de escárnio e desdém relativamente a virtudes e valores sólidos."

Esta é uma tradução (não exacta!) de um parágrafo d’O Advento da Justiça Divina.

Despertou-me a atenção pela forma como é actual (o livro foi escrito em 1938) e aplicável à sociedade portuguesa.

Vejamos:

* Vivemos cada vez mais rodeados por apelos e incentivos hedonistas onde a satisfação dos prazeres pessoais assume uma predominância extrema;
* A "futebolização" da nossa sociedade assume proporções ridículas;
* Em qualquer debate (seja na esfera politica, económica ou social) cai-se facilmente nos ataques pessoais, nos choques de personalidade e nas guerrilhas políticas, esquecendo o essencial e atacando o acessório ou irrelevante;
* Alguns valores tradicionais são postos em causa. O casamento (que alguns pretendem equiparar a união de facto), o respeito pelo próximo (veja-se a forma agressiva como muitos conduzem) e os laços familiares (quanto velhos são abandonados em lares, hospitais e mesmo em sua própria casa sem receber a visita de familiares? quantas famílias se encontram cada vez menos?) são apenas alguns exemplos desses valores alvo de escárnio e desdém.

Parece que Shoghi Effendi sabia que nos íamos transformar numa sociedade muito doente...!