segunda-feira, 5 de abril de 2004

Muro de Preconceitos

Com a queda do Muro de Berlim, caiu uma das maiores aberrações políticas do século XX. Um muro é um sinal de divisão, de desconfiança e de potencial conflito. Aquele muro era um dos símbolos de uma grande divisão entre dois sistemas políticos antagónicos; regozijámo-nos com o seu desaparecimento.

Mas no momento da queda do muro de Berlim, um outro muro ia sendo erguido. Trata-se de um muro de preconceitos e desconfianças entre as sociedades ocidentais e os países de maioria muçulmana. Desinformação e ignorância de ambos os lados têm facilitado a sua construção. Note-se que não é um muro de construção recente; nas últimas décadas foi reforçado e aumentado.

Foi reforçado pela revolução iraniana e foi aumentado pelo regime taliban no Afeganistão; a mais recente contribuição tem sido dada por grupos terroristas que se afirmam de inspiração islâmica.

Ao invocar uma pretensa inspiração islâmica nos seus actos, estes grupos terroristas arrastam para a mira da desconfiança ocidental milhões de cidadãos que professam a religião islâmica. Podemos ver como o uso da expressão terrorismo islâmico é utilizada e aceite por analistas políticos e pela comunicação social mais rigorosa. Hoje, palavras como árabe, muçulmano ou islão, tornaram-se sinónimos de "terrorismo" para o cidadão comum.

Nos tempos da guerra-fria, quem estava do outro lado do muro era impedido pelos regimes totalitários de aceder ao modo de vida ocidental; com este novo muro, quem estiver do outro lado do muro tem muita probabilidade de ser olhado com desconfiança e mesmo discriminado pelas autoridades dos países ocidentais (pode também ter dificuldade de se integrar nas sociedades ocidentais).

Há milhões de muçulmanos alvo de discriminação apenas devido às acções de grupos extremistas. São gente boa, honesta, que deseja ter uma vida tranquila e assegurar um bom futuro para os seus filhos. Apenas tiveram o azar de ter nascido no outro lado do muro...

Existem, obviamente, outros muros de preconceitos em relação a outras sociedades e culturas. Basta pensar nos africanos ou nos sul-americanos.

Para que expressões como Aldeia Global ou A Terra é um só país e a Humanidade os seus cidadãos se tornem uma realidade, estes muros não podem existir. Resta saber como os poderemos demolir...

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