Costumo acompanhar com alguma regularidade os artigos que saem no Arab News. Trata-se de um site noticioso saudita; ali pode-se perceber uma perspectiva de uma sociedade diferente, uma maneira de encarar o mundo e a vida que é naturalmente diferente do que estamos habituados.
Além das notícias, têm vindo a aparecer um conjunto de artigos de opinião que me deixam surpreendido, quer pela força com que se lançam contra o tradicionalismo, quer pela descrição do tipo de problemas que as pessoas naquele país ainda enfrentam, quer pelas questões que são colocadas.
Num artigo recente, intitulado Rules of Engagement, o autor criticava a forma como se processam os casamentos na maioria das famílias; geralmente, são as mães que procuram noivas(os) para os filhos(as); os rapazes ambicionam uma noiva com olhos verdes de gazela e cabelo negro comprido; as raparigas desejam um jovem médico com bom aspecto. A este tipo de comportamentos, o autor do texto contrapõe os casamentos pela internet, onde os parceiros têm possibilidade de conhecerem um pouco do caracter um do outro, antes de se casarem. E quanto à tradição de serem as famílias a arranjar os casamentos, é recordado que a primeira esposa do profeta Maomé escolheu-O a Ele e foi ela a tomar a iniciativa de fazer a proposta de casamento.
Um outro texto Tradition Vs. Religion refere a forma como as mulheres não eram marginalizadas no tempo de Maomé. Podiam assistir aos sermões nas mesquitas, ser conselheiras de governantes, trabalhar na assistência aos doentes e necessitados; nada disto acontece hoje na Arábia Saudita. O autor do texto questiona mesmo a imposição da utilização do véu; refere como isso tem sido utilizado para fins criminosos (nomeadamente, por terroristas). Relata ainda um caso de uma muçulmana americana que visitou pela primeira vez a Grande Mesquita em Meca; quando estava em frente da Kaaba sentiu um êxtase espiritual difícil de descrever. Um velho barbudo aproximou-se dela aos gritos, "Tape o rosto!" e bateu-lhe com um pau. Um verdadeiro ignorante da verdade e tolerância do islão, conclui o autor.
Se os factos que estes artigos descrevem podem ser chocantes e mesmo absurdos para nós, parece-me que pelo facto de serem publicados já é um passo em frente. Mas mudar mentalidades é algo que pode levar uma ou mais gerações.
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