terça-feira, 26 de outubro de 2004

O Barão Prokesch-Osten

Passam hoje 128 anos sobre o falecimento de Anton von Prokesch-Osten. Homem de múltiplos talentos (militar, diplomata, político e académico), foi uma das mais interessantes personalidades da Áustria do séc. XIX.

Iniciou a sua carreira servindo no exército austríaco e combatendo os franceses de Napoleão Bonaparte. Em 1824 foi colocado no Mediterrâneo oriental onde trabalhou como secretário do Marechal Karl Schwarzenberg; testemunhou as guerras da independência da Grécia, serviu em várias missões militares na Grécia e na Turquia (incluindo uma visita a 'Akká em 1829) e recebeu em 1830 o título de "Ritter von Osten" (Cavaleiro do Oriente). Em 1833 foi mediador das negociações de paz entre o Sultão e Muhammad 'Ali Pasha, o vice-rei rebelde do Egipto. Em 1834 foi nomeado embaixador austríaco em Atenas, cargo em que permaneceu até 1848.

A experiência adquirida torna-o um especialista em línguas e culturas do Médio Oriente; vários trabalhos publicados dão-lhe uma auréola de respeito entre orientalistas europeus. Os seus relatórios de diferentes situações políticas despertam a atenção do Príncipe Metternich.

Em 1849, Prokesch-Osten é nomeado ministro austríaco na Prússia; esta nomeação era mais uma das iniciativas do governos austríaco para tentar recuperar a sua influência entre os estados germânicos. Prokesch-Osten acreditava que em Berlim poderia ressuscitar a parceria Austro-Prussiana que tinha dominado a confederação germânica após 1815; no entanto, pouco depois de ocupar o seu posto, percebeu que o rei Frederico Guilherme IV tinha planos para transformar os estados alemães num império prussiano. Não havia possibilidade de conciliar interesses austríacos e prussianos.

Apesar de se sentir isolado em Berlim, e frequentemente sem instruções de Viena, Prokesch-Osten conseguiu criar uma rede de contactos entre diplomatas austríacos colocados em cidades alemãs. A plena restauração de Assembleia da Confederação dos Estados Germânicos em 1851 deve muito aos seus esforços, mas esses mesmo esforços e a defesa dos interesses austríacos junto dos estados alemães causaram incómodo em Berlim. Em 1853 foi colocado em Frankfurt como representante austríaco nessa Assembleia, onde enfrentou as intrigas e manobras políticas de Otto von Bismarck.



Mas a colocação em Berlim tinha sido apenas uma pausa na sua ligação ao Médio-Oriente. Em 1855 é destacado para a embaixada austríaca junto da Porta Sublime, em Constantinopla; ali permaneceu até 1871, chegando a ocupar o cargo de embaixador (ele é um dos embaixadores europeus em Constantinopla quando Bahá'u'lláh ali chega em 1863 com um pequeno grupo de exilados persas). Quando se reformou, em 1871, o imperador Francisco José atribuiu-lhe o título hereditário de Conde em reconhecimento por sessenta anos de serviços prestados.

Faleceu em Viena a 26 de Outubro de 1876.


Correspondência com Gobineau

Já aqui referi a correspondência entre o Barão Prokesch-Osten e o Conde Gobineau. Estes conheceram-se em Frankfurt e mantiveram amizade e correspondência durante mais de 20 anos. Várias das cartas que trocaram contêm referências a Bahá'u'lláh. Quando Gobineau publicou o livro Les religions eet Philosophies dans l’Asie Centrale, enviou um exemplar a Prokesch. Em Dezembro de 1865, Prokesch escreveu dizendo que já ia no capítulo 7 e estava a ler agora sobre o Bábismo, do qual nunca tinha ouvido falar. Um mês mais tarde, numa outra carta, escreveu:

Estou agora na página 336 do seu livro, no meio da doutrina dos Babís, e estou a chegar ao ponto de me tornar Babí. Tudo é fascinante na história deste fenómeno humanitário e histórico, até mesmo o facto da ignorância da Europa sobre um assunto de importância colossal. E eu próprio, um digno representante da Europa, não conheço uma única coisa sobre o assunto. Foi através de si que tomei conhecimento disto.

Uma vez que não existe uma inteligência humana que nos possa dizer algo sobre Deus, e as diferenças entre as várias teodiceias consistem apenas em pequenos ou grandes absurdos, tenho de concordar que a teoria Babí tem um encanto particular, qualquer coisa cativante e nobre que agrada à alma e nos convida a acreditar na auto-suficiência. A criação do mundo como uma emanação de Deus é uma ideia indiana, mas a explicação do mal apenas pelo facto do afastamento do ser emanado do seu criador, é completamente nova e parece-me mais digna, mais sublime do que alguma vez foi proferida por qualquer dos fundadores de religiões ou filosofias. É consequência lógica que o retorno da emanação à sua fonte, que o mal deixe de existir e se torne um nada, não havendo qualquer necessidade para a sua aniquilação ou para a sua preservação através de punições monstruosas, injustas e repugnantes num inferno ou num reino do diabo. A coexistência de Ormuzd e Ahriman, do bem e do mal como princípios iguais, tão incompatíveis com a ideia de Deus, é modificada no Bábismo de forma nova e bem sucedida. Também a doutrina sobre os Profetas me agrada infinitamente porque é conciliatória e exclui qualquer fanatismo. Simultaneamente é muito forte e não tem o absurdo das outras. Espero mais discórdia assim que o Bábismo se tentar aplicar ao mundo da política, à organização da sociedade e da sua própria hierarquia. Vai mergulhar na lama, como todas as outras doutrinas, suponho eu. Vou descobrir mais coisas esta noite, lendo mais antes de me deitar.
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[1] – Citado em The Babi and Bahá’í Religions, Some Contemporary Western Accounts, pag 186

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