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BABIS E BAHÁ’ÍS
Nasiri'd-Din foi o único monarca que acompanhou o nascimento da religião do Báb. Teve conhecimento do seu surgimento, assim que os adeptos babís se espalharam pela Pérsia. Quando ainda era apenas herdeiro do trono, assistiu a uma proclamação do Báb perante uma assembleia de clérigos e dignatários do Azerbaijão persa. Nessa ocasião o Báb terá proclamado: "Eu sou, eu sou, eu sou o Prometido! Eu sou Aquele cujo nome invocais há mil anos, a cuja menção vos levantais, cujo advento há muito desejais testemunhar, e a hora cuja revelação haveis implorado a Deus que apressasse. Em verdade vos digo: incumbe aos povos, tanto do Oriente como do Ocidente, obedecer à Minha palavras e cumprir a aliança com a Minha pessoa"[1]
Em Agosto de 1852 foi alvo de uma tentativa de assassinato por parte de três babís; apesar destes terem confessado ter agido por sua iniciativa individual, esse acontecimento deixaria o seu reinado marcado por uma profunda animosidade contra Babis e Baha’is, animosidade essa que foi prontamente aproveitada pelo clero muçulmano.
O seu rancor foi sendo alimentado por várias vários opositores de Bahá'u'lláh que fizeram chegar ao monarca informações segundo as quais Bahá'u'lláh conspirava contra ele; caluniavam e acusavam Bahá'u'lláh, distorciam os Seus ensinamentos. Não seria, porém, de admirar que o "problema bahá'í" fosse mais uma questão para a qual o Xá pedia o envolvimento dos seus ministros.
EPÍSTOLA DE BAHÁ’U’LLÁH
De entre as epístolas reveladas aos governantes do Seu tempo, a epístola ao Xá da Pérsia (Lawh-i-Sultán) é a mais longa. Nesta, o fundador da religião baha’i proclama ser portador de uma mensagem divina e apela ao Xá para que olhe pelo povo da Pérsia com justiça e generosidade. Ao longo do texto, repetem-se exortações para que o Xá não dê atenção aos seus bens materiais, recordando que foram muitos os monarcas do passado cujos palácios hoje se encontram em ruínas, cujos tesouros se perderam, e cuja glória desapareceu. Mais do que os bens materiais a distinção do ser humano está nos seus actos, na sua rectidão e na sua piedade.
Tal como o fez com outros governantes, também nesta epístola Bahá’u’lláh refere alguns aspectos da governação. No texto é denunciado o comportamento de alguns oficiais e figuras do estado que em vez de trabalhar em prol do progresso do país e serviço ao Xá, preferem denunciar algumas pessoas como Babis, apenas com o intuito de os matar e saquear as suas propriedades.[2]
Um dos excertos mais conhecidos desta epístola é aquele em que Bahá’u’lláh se descreve como Manifestante de Deus. Era um homem como os outros, não tinha conhecimentos ou erudição especial, mas a Revelação Divina fê-Lo expressar a vontade de Deus e proclamar uma nova Mensagem.
Alguns excertos:
Ó Rei! Eu era apenas um homem como os outros, adormecido em meu leito, quando eis que os sopros do Todo-Glorioso manaram sobre Mim e Me deram o conhecimento de tudo o que já existia. Isso não provém de Mim, mas d’Aquele que é Todo-Poderoso e Omnisciente. E Ele ordenou-Me que levantasse a Minha voz entre a terra e o céu, e por isso Me sucedeu o que fez correr lágrimas de todo os homens de compreensão. A erudição comum entre os homens, não a estudei; nem entrei nas suas escolas. Pergunta na cidade em que residi, a fim de teres a certeza de que Eu não sou dos que falam falsamente. Este Ser é apenas uma folha movida pelos ventos da Vontade do teu Senhor, o Todo-Poderoso. Alvo de todo louvor.
(...)
Contempla este Jovem, ó rei, com os olhos da justiça: então, julga com verdade, daquilo que Lhe sucedeu. Verdadeiramente, Deus fez-te a Sua sombra entre os homens e sinal do Seu poder para todos os que habitam na terra. Julga tu entre Nós e aqueles que Nos injuriaram sem prova e sem um Livro esclarecedor. Os que te rodeiam amam-te por seus próprios interesses, enquanto este Jovem te ama por ti mesmo, nenhum desejo nutrindo a não ser o de te fazer aproximar do trono da graça e te dirigir à direita da justiça.
(...)
Oxalá Me permitisses, ó Xá, enviar-te aquilo que poderia alegrar os olhos e tranquilizar as almas e fazer toda pessoa sensata acreditar que o conhecimento do Livro está com Ele... Se não fosse o repúdio dos insensatos e a conivência dos sacerdotes, Eu teria proferido palavras que extasiariam os corações, transportando-os para um reino cujos ventos se fazem ouvir, murmurando "Nenhum Deus há senão Ele!..."[3]
Esta Epístola foi revelada em Adrianópolis, mas só seria enviada para o Xá durante o exílio de Bahá'u'lláh em 'Akká. A história do portador e da forma como foi entregue ao Xá é particularmente interessante e merece um post à parte.
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NOTAS
[1] - Adib Taherzadeh, The Revelation of Baha'u'llah, vol. 2, p. 336
[2] – Nos meios políticos e religiosos da Pérsia naqueles anos, um método normal de destruição de um inimigo era acusá-lo de ser Babi. Antes da vitima poder provar a sua inocência, seria castigada, por vezes com a pena de morte
[3] – Os excertos desta epístola já traduzidos para inglês encontram-se aqui.
4 comentários:
Ó meu meu amigo Marco desculpa o assalto ao teu blogg, mas está demasiado bom para que eu resista à tentação de roubar o post.
Que O Báb me perdoe, mas tu estás a fazer um trabalho melhor que o meu...!
Copia à vontade!
Mas lembra-te que um dia serei eu a copiar o que tu escreves.
:-)
Copiar para dar a conhecer não é roubar, é disseminar os ensinamentos. É trabalho comunitário! Bjs aos dois,
DAD
Marco
Podes explicar-me a diferença entre babis e bahais? Tinha para mim que Bab era uma espécie de João Baptsta de Bahá’u’lláh. Mas a meneira como ele, neste post, aponta para si próprio desmente tal ideia. Ainda hoje existem babis? Ou seja, os babis não aceitam Bahá’u’lláh ao mesmo nível que Bab? E os Bahais, como o consideram?
Eu sei que são muitas perguntas, mas as respostas podem dar uma boa ajuda à minha cultura geral.
Anonymous #2
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