sexta-feira, 1 de julho de 2005

O Islão e as Minorias

O texto seguinte é uma tradução/adaptação (feita à pressa) de um artigo que surgiu recentemente no Iranian.com. É de autoria de Christopher Buck, professor na Michigan State University. Este texto apresenta apenas os parágrafos iniciais de um artigo mais vasto intitulado Islam & minorities: The case of the Bahais. O texto completo desse artigo encontra-se aqui (em inglês) e aqui (em persa).

- - - - - - - - - - - - - - -

De todas as minorias religiosas no Médio Oriente, os Baha'is são tipicamente os menos capazes de praticar livremente a sua religião. Com algumas excepções notáveis, no Médio Oriente moderno, e nos países Muçulmanos em geral, os baha'is não podem promover abertamente a sua religião.

No entanto, os governos do Paquistão e do Bangla Desh permitem que os Baha’is realizem reuniões públicas, divulguem publicamente a Fé, criem centros baha’is, e elejam conselhos administrativos (conhecidos como "Assembleias Espirituais" nacionais ou locais). Além disso, no Paquistão, representantes de entidades governamentais têm comparecido ocasionalmente em eventos nos centros baha’is. E na Indonésia, após várias décadas de crescimento sereno, a religião está reconhecida legalmente e os seus aderentes são livres para eleger as assembleias espirituais (conselhos administrativos).

Na Turquia, a Fé Baha'i é legal há décadas. A Comunidade Baha'i também tem estatuto legal na Albânia e na maioria das nações da Ásia Central. Durante os últimos anos, uma vaga de artigos e diálogos surgidos nos media de língua persa nos Estados Unidos começaram a falar abertamente sobre a situação dos baha’is no Irão, tendo alguns predito que na futura sociedade civil iraniana, até os baha'is devem ter liberdade de religião. Além disso, vários académicos iranianos não-baha'is estão a começar a falar de uma conspiração de silêncio contra esta religião.

A evidência, na forma de feedback de ouvintes, mostra que uma vasta audiência no Irão ouve diariamente as emissões baha'is, em língua persa, por onda curta e satélite. No entanto, falar de assuntos de estado no que toca a governos que implementaram medidas anti-baha’i é algo sensível e deve ser abordado com um certo grau de delicadeza.

Criticar um estado islâmico onde existe um pequeno enclave baha’i pode literalmente pôr em perigo essa comunidade. A liberdade de religião que possam usufruir é precária. Na melhor das hipóteses, os baha'is poderão levar uma existência virtualmente clandestina. Na pior, nos casos extremos em que as instituições foram proscritas por lei, os baha'is dissolveram os seus conselhos administrativos eleitos em obediência ao princípio baha'i de obediência aos "governos justos" e à lei do país.

Como os baha'is estão proibidos de agir contra os seus respectivos governos, seria imprudente – e até perigoso – fazer um inventário da situação país por país. No entanto, a Republica Islâmica do Irão é um caso especial, pois as suas políticas anti-baha'i são notórias e foram abertamente condenadas pela comunidade internacional durante quase um quarto de século. Esta notoriedade, tal como no caso Salman Rushdie, tem resultado em muita pressão negativa sobre o Irão, enquanto país, e, infelizmente, sobre o Islão, enquanto religião, apesar da prática do Islão no Irão ser peculiar devido à sua forma de Xiismo.

Este artigo mostrará que "a questão baha'i" levanta sérias questões no Ocidente sobre o quão "tolerante" o Islão realmente é. Poder-se-á dizer que as percepções populares do Islão serão crescentemente moldadas pela forma como os países Muçulmanos tratam as suas minorias, especialmente as minorias religiosas. O caso Baha'i, com a possível excepção dos Ahmadiyyah no Paquistão, é o primeiro caso de teste para as pretensões islâmicas de tolerância religiosa.

- - - - - - - - - - - - - - -

ACTUALIZAÇÃO- Exemplos de artigos recentes de autoria de iranianos onde é feita alguma referência à situação dos baha’is no Irão:

* Public Letter for the attention of G-8 summit in Scotland, pelo SMCCDI (estudantes iranianos)
* Why Allah, Oh Why? por Ahmed Simon

3 comentários:

João Moutinho disse...

Uma vez mais somos contemplados com uma página deveras interessante.
Venho-te propor para que ainda esta semana possa vir a ser debatida no teu blog a entrevista que Viriato Soromenho Marques deu ao Público e Rádio Renascença.

Marco Oliveira disse...

Justanotherguy,

Os comentários do João (ou de qualquer outro baha'i) vinculam toda a comunidade baha’i? Por acaso ele (ou qualquer outro baha'i) alguma vez se proclamou como sendo alguma autoridade dentro da comunidade baha’i (ou será que alguém o considera assim)? Por ventura conheces a comunidade baha’i para poderes fazer um comentário desses?

Triste é quando se confundem opiniões pessoais com opiniões de um grupo.
Triste é quando se fazem juízos dessa forma.

Marco Oliveira disse...

Justanotherguy,

Eu não sei que comentário foi esse nem em que contexto foi redigido. Esta semana tenho andado afastado dos blogs. Talvez seja melhor o próprio Joao responder sobre essa matéria.

Pelo que percebi até hoje, a homossexualidade é um dos poucos temas que deixa os baha'is divididos.

Talvez tenha que abordar aqui o assunto.