terça-feira, 22 de novembro de 2005

As Escrituras

Um dos aspectos mais importantes das grandes religiões mundiais são as suas escrituras. Para muitos, o sagrado consubstancia-se na escritura. Para as religiões Ocidentais, a escritura é considerada revelatória. Isto pode ser entendido como tendo dois significados interligados entre si: a escritura revela a vontade de Deus; e a escritura revela aos seres humanos aquilo que o mundo realmente é. Por exemplo, para os muçulmanos, o Alcorão é a Palavra de Deus revelada. O Alcorão terreno é um réplica do Livro-Mãe, uma entidade celestial não-criada que é co-eterna com Deus. Afirma-se que é inimitável. De forma semelhante, os hindus acreditam que os Vedas existem eternamente. No início de cada ciclo cósmico são revelados a certos sábios e que servem como orientação para a humanidade durante esse ciclo.


A linguagem da maioria das escrituras é diferente das palavras comuns do dia a dia. A maioria das coisas que dizemos e escrevemos tenta transmitir uma mensagem de forma directa e não ambígua. Por vezes a escritura é assim, mas a sua tarefa mais importante é tentar descrever aquilo que não pode ser descrito. A realidade a que se refere transcende a realidade mundana. E uma vez que a linguagem está confinada a palavras que descrevem as nossas experiências neste mundo, a escritura não pode usar a linguagem de uma forma directa. As afirmações que contém não estão destinadas a transmitir informação da mesma forma que um livro de culinária. Não pretende que todos os leitores a entendam da mesma maneira. Ao tentar transmitir a sua mensagem, a escritura utiliza vários mecanismos. Usa imagens, metáforas e parábolas. Estas têm a vantagem de poder ser entendidas em diferentes níveis de acordo com a condição da mente e capacidade do leitor. Contêm múltiplas camadas de significados que suscitam em diferentes pessoas diferentes respostas. Alguns podem entende-la literalmente, outros tomá-la-ão de forma simbólica, alegórica e metafórica. (...)

Assim, a Escritura é como a poesia. Procura ser evocativa e até emotiva, em vez de se descritiva e racional. Tenta transmitir uma imagem ou um ethos. Tenta suscitar no leitor uma certa resposta. Por fim, tanta que os leitores se transformem. Procura criar uma nova realidade para os seus leitores ou ouvintes. Em resumo, a Escritura desempenha uma função dupla enquanto processo criativo: primeiro, destroi a realidade convencionada existente para uma pessoa; segundo, cria uma realidade alternativa. A arte e a poesia religiosa podem agir de forma similar como mediadores da experiência religiosa.

Moojan Momen, in The Phenomenon of Religion: A Thematic Approach, pags. 101, 103

11 comentários:

João Moutinho disse...

"Tenta transmitir uma imagem ou um ethos."
O ethos é exactamente o quê?

Marco Oliveira disse...

Ethos --> "Uma maneira de viver ou de estar na vida". Também pode significar a capacidade de expressão de um palestrante.

Marco Oliveira disse...

Anti-t,
Consegues falar de muitas coisas em poucas linhas. :-)
Vamos por partes.
A que é que estás a chamar "religião"? A uma comunidade religiosa ou a um conjunto de princípios e ensinamentos revelados num livro sagrado?
E a que actos te referes?
Quanto aos textos sagrados, eu não acredito que eles sejam produto do intelecto humano, mas sim da inspiração divina.

Na verdade, podemos questionar porque é que não houve (ou não conhecemos) Profetas que tenham sido mulheres. Isso dá que pensar.

Marco Oliveira disse...

As grandes religiões e os seus frutos amargos:
Cristianismo – Inquisição, Cruzadas e guerras entre Protestantes e Católicos
Islamismo – Opressão das mulheres, Fundamentalismo Islâmico e Terrorismo
Hinduísmo – Sistema de Castas
Comunismo – Gulags e Ditaduras
Capitalismo – Pobreza e exclusão social

Nas três primeiras religiões ainda sou capaz de encontrar alguns bons exemplos, ensinamentos altruistas e tenho de reconhecer que em alguns casos contribuiram para um mundo melhor.
As últimas duas são claramente expressões do pior que existe no materialismo ateu. Felizmente só falta acabar com o capitalismo.

Fica só uma pergunta: vocês bahais não acham que se a vossa religião crescer muito, um dia acabará por gerar um destes frutos amargos? Não era melhor contentarem-se com a vossa pequenez?

João Moutinho disse...

Mas Cirilo, não estarás com uma perspectiva demasiado pessimista?
O cristianismo e o islamismo nivelaram os Homens como sendo todos criaturas de Deus. E tornaram-se dispensadores de direitos para com os mais fracos.
O capitalismo não permitiu um avanço tecnológico? E quando feito com moderação, i. e. sem exclusão social, permite saltos enormes na qualidade de vida da população.
E o comunismo na China, apesar da sua brutalidade conseguiu eliminar muita fome e aumentar a esperança de vida do povo chinês.
O Hinduísmo e as castas, este sistema pode resultar de uma preversão dos ensinamentos de Krisna. Mas não nos esqueçamos do que era a civilização Hindu à 3.000 anos - quando andávamos a lutar com paus e pedras.
Acreditamos que a Fé Bahá'í fará com que prossigamos numa "civilização contínua" e maravilhosa - apesar de agora estarmos num ponto muito baixo.

Anónimo disse...

"O cristianismo e o islamismo nivelaram os Homens como sendo todos criaturas de Deus" --> E foi por isso que houve concilios onde se debatia se as mulheres eram inferiores ou se os índios tinham alma?

"O capitalismo...permite saltos enormes na qualidade de vida da população" --> Por isso é que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres?

"...a esperança de vida do povo chinês" --> 30 milhões de chineses mortos à fome.

"a Fé Bahá'í fará com que prossigamos numa "civilização contínua" e maravilhosa... " --> prosseguir? Então a vossa religião só quer mudar as moscas? Pensei que vocês preferiam corrigir!

João Moutinho, depois do que escreveste tenho que te perguntar uma coisa: os teus amigos baha'is sabem que tu te drogas?

Leif Nabil disse...

Hello,
May I include the buttons for Ocean, bahaindex.com and Closed Doors that are hosted by you, on my blog?
Thank you. I really like your blog.
-Leif

João Moutinho disse...

GH,
É lamentável que continues por estes lados porque tenho de ver uns tantos disparates sempre que vejo os "comentários".
Há mais blogs por aí e muitos deles gostam do teu nível de ivectivas.

Marco Oliveira disse...

Rapaziada,
Haja elegancia e moderação nas palavras.
Um bom debate não tem de ser agressivo.

João Moutinho disse...

Marco,
Isto das técnicas "bloguistas" não é o meu forte, mas já vi que posso remover do meu ecrã a mediocridade.
Portanto está tudo bem.

Anónimo disse...

Pois eu reconheço que o J.Moutinho me tira do sério. Irritam-me os comentários do gajo! Já me chateiam os fundamentalistas que só sabem ver as coisas a preto e branco. Mas o JM parece que vê tudo a cor-de-rosa! E a vida não é assim tão bonita como ele gosta de a pintar. O cristianismo foi uma maravilha, o islão foi tudo rosas, o hinduismo é só flores e passarinhos, o capitalismo é o sossego dos povos, o comunismo chinês é um mar de rosas... Ele não está a ver bem as coisas. Nem tudo foi positivo, nem tudo foi negativo nestas ideologias!
Será assim tão difícil perceber que a realidade tem várias cores e dentro de cada cor existem várias tonalidades?????

Mas há uma coisa boa no JM: deixou de falar dos tempos em que esteve em Israel. :-)