Excertos do artigo de Teresa de Sousa hoje no Público.
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É difícil de admitir que doze cartoons publicados num jornal dinamarquês em Setembro do ano passado possam justificar esta violência, mesmo que possam ter causado a indignação genuína de muitos muçulmanos. Sobretudo quando já se sabe que a divulgação das caricaturas nas capitais do Médio Oriente - devidamente acrescentadas de mais três, bastante mais chocantes, mas que ninguém publicou - foi deliberadamente feita por um grupo de clérigos fundamentalistas radicados na Dinamarca.
Mas é fácil de admitir que, depois dos atentados terroristas cometidos em solo europeu em nome de Alá e do seu profeta, estas imagens alimentem a islamofobia na opinião pública europeia. A questão excede, em muito, o debate sob a liberdade de imprensa.
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Basta pensar dois minutos para entender até que ponto o que vemos é em grande medida o resultado da manipulação política dos sentimentos religiosos de muita gente pelo islamismo radical e pelos governos ditatoriais e teocráticos do mundo islâmico. Os mesmos dois minutos chegam para se concluir que, ofendidos ou não pelas caricaturas do profeta, milhões de muçulmanos não partilham do mesmo sentimento de vingança e de ódio, que muitos têm opiniões diferentes que sabem que não podem exprimir em voz alta, sob pena de repressão violenta.
Querer responder a tudo isto com meia dúzia de considerações politicamente correctas - ou aparentemente sensatas - sobre exageros de parte a parte, que se alimentam mutuamente é confundir tudo. Querer responder a tudo isto com discussões mais ou menos bizantinas sobre os limites à liberdade de imprensa nos países europeus é não compreender a verdadeira dimensão do problema. Se não fossem os cartoons, seria outra coisa qualquer a desencadear a aparente indignação do mundo islâmico conta a islamofobia ocidental. Outros episódios haverá com as mesmas consequências.
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1 comentário:
Épa, gostei deste texto...
Só espero que a senhora não seja muçulmana, não deve ser. É bom sinal haver opiniões destas, humanas e racionais, de alguém que não é "partidário".
Eu, pessoalmente, acho que ainda vamos viver para ver grandes, e quando digo grande "I mean" GRANDES, mudanças no mundo, nomeadamente no nosso cantinho ocidental... O Saramago já lançou a primeira pedra quando na sua última obra questionou a democracia, a que temos, não a do dicionário. Porque no fundo essa democracia do dicionário é como o comunismo do dicionário, pura utopia para o estado moral e ético da condição humana actual.
É, vamos ter que mudar, todos e tudo, a sério. As ideologias do passado já não servem o presente, a evolução não para, a religião renova-se, a politica e a organização social têm que mudar, os modelos do passado esgotaram-se, são ineficazes. Acho que as pessoas ainda não compreenderam isto. Ou se calhar não tenho razão, pode ser!
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