quinta-feira, 13 de abril de 2006

Questões

No filme "A Lagoa Azul", em que duas crianças crescem isoladas numa ilha, sem a companhia de qualquer adulto que lhes vá explicando o mundo que os rodeia, há uma cena em que o rapaz desabafa: "Só queria ter um livro com respostas para todas as minhas perguntas!..." De alguma forma, muitas pessoas têm ao longo da vida uma atitude semelhante a estas crianças/náufragos: só querem ter uma explicação definitiva, absoluta e tranquilizadora para todas as suas interrogações.

O acto de questionar pode ser encarado com um sinal de vitalidade e racionalidade humana. Tem sido a procurar respostas a tantas questões que temos evoluído no plano individual e colectivo. Mas quando se entra no campo filosófico ou religioso, o acto de questionar pode ser encarado como estimulante ou incómodo. Ao falar de religião algumas questões podem despertar mentes passivas (despertar uma alma, como dizem alguns); mas também há quem tenha medo das questões (ou será medo das respostas?).

A ausência de um catecismo rígido - com um vasto conjunto de perguntas e respostas - abrangendo os mais diversos aspectos da doutrina, torna a religião baha'i uma área insegura para quem está habituado a ter respostas definitivas, absolutas e tranquilizadoras para todas as questões. Frequentemente, o crente tem de procurar as respostas às suas perguntas; e quando as encontra, estas estão adaptadas à sua capacidade e mentalidade. No diálogo com outros crentes, encontra uma diversidade de respostas que, não raro, complementam a sua.

Esta situação faz-me recordar umas palavras de Bahá'u'lláh: "Nem tudo o que um homem sabe, pode ser revelado, nem tudo o que lhe é possível revelar deverá ser julgado oportuno, nem todo dizer oportuno pode ser considerado adaptável à capacidade dos que o ouvem." (SEBh, sec. LXXXIX)

Há mais de vinte anos que sou baha’i, e já tive muitas conversas sobre religião com imensas pessoas que professam diferentes religiões ou sistemas de crença (incluindo neste blog!). E dessas conversas retenho duas conclusões: as questões mais interessantes são aquelas que surgem na forma de resposta; e nenhuma resposta parece completa a menos que tenha em si a semente de uma nova questão.

6 comentários:

Anónimo disse...

Então aqui fica uma questão: que me dizes à nova lista de pecados publicada pelo Vaticano?

Marco Oliveira disse...

Meu caro GH,

Esse é um problema dos católicos.

Anónimo disse...

Excelente resposta Marco!
Um bom fim de semana para todos!

Anónimo disse...

Olá Marco,

Desde que me lembro de aqui vir visitar a tua casa virtual este é o artigo de que mais gostei, pleno de filosofia, sabedoria e excelente fonte para meditação.

A citação de Bahá'u'lláh é simplesmente espectacular, não a conhecia, vou copia-la para a reler e assimilar.

Anónimo disse...

O problema da igreja católica é sem duvida o facto de ter apenas respostas fechadas.

Anónimo disse...

Segundo me ensiraram no 10.º ano (escola pública), em Filosofia, a religião é a entidade que nos dá as respostas que não conseguimos atingir e sobre as quais mais medo temos.

Com tantas religiões, fiquei a pensar: este modo de ver as coisas não será tão imparcial?

Concordo com o Rui, pois a igreja católica é extremamente dogmática e é uma daquelas que tem "um vasto conjunto de perguntas e respostas" (Marco), daí, ao longo da história, ter sido ela, o grande obstáculo das grandes "mentes brilhantes".

Este é o meu primeiro comentário neste blog, e desde já dou os meus parabéns ao autor.