sábado, 14 de outubro de 2006

O Banqueiro do Pobres

"O Comité Nobel da Noruega decidiu atribuir o Prémio Nobel da Paz para 2006, dividido em duas partes iguais, a Muhammad Yunus e ao Banco Grameen, pelos seus esforços na criação de desenvolvimento económico e social a partir da base. A paz duradoura não pode ser alcançada a não ser que grandes grupos populacionais encontrem meios para sair da pobreza. O micro-crédito é um desses meios . O desenvolvimento a partir da base também serve o progresso da democracia e os direitos humanos."
Foi com este parágrafo de abertura que ontem o Comité Nobel lançou o nome do Dr. Muhammad Yunus e do seu banco nas bocas do mundo. Na verdade, este economista do Bangladesh já recebera vários prémios; e não faltavam vozes , como a do ex-presidente Bill Clinton, que afirmavam que ele há muito deveria ter recebido o Prémio Nobel.

Os esforços do Dr. Yunus na luta contra a pobreza iniciaram-se durante a grande fome de 1974 no Bangladesh, quando emprestou uma pequena quantia equivalente a 27 USD a cerca de 40 mulheres. Rapidamente percebeu que pequenas quantias de dinheiro podiam fazer uma enorme diferença na sobrevivência e emancipação económica de várias pessoas.

Com a fundação do Banco Grameen em 1976 além do micro-crédito, passou também a financiar projectos de irrigação, capital de risco e na indústria textil; as suas actividades também incluem as contas de poupanças e empréstimos para compra de habitação. O mais curioso na actividade do banco é que 96% dos seus empréstimos vão para mulheres que sofrem tremendamente com a pobreza e que são mais capazes dos que os homens de dedicar as suas poupanças ao serviço das necessidades de toda a família.

Tenho três motivos para admirar o Dr. Muhammad Yunnus e o Banco Grameen.

1 - A sua actividade é um travão ao progresso do fundamentalismo islâmico. Há cerca de dez anos atrás, o partido religioso fundamentalista do Bangladesh viu a sua representação parlamentar reduzida de 17 para 3 deputados. Imediatamente após o anúncio dos resultados da votação, o Dr. Yunnus recebeu vários telefonemas onde era responsabilizado pelos resultados dos fundamentalistas. Na verdade, os fundamentalistas só se podiam queixar de si próprios; eram eles que tinha atacado e incendiado agências do Banco Grameen, atacaram credores e condenaram o micro-crédito como sendo anti-islâmico pois ajudava as mulheres a emanciparem-se financeiramente.

2 - Quando a imagem dos muçulmanos está tão denegrida aos olhos do ocidente devido aos actos de radicais e fundamentalistas, o Dr. Yunnus surge como a prova que o Islão inspira actos de profundo altruísmo. Quem apenas vê o Islão como uma religião violenta, tem de perceber no Islão, tal como em todas as religiões, há pessoas extraordinárias, assim como há gente desprezível.

3 - A actividade do Dr. Yunus e do Banco Grameen é um exemplo prático da aplicação de um princípio Baha’i: a procura de soluções económicas inspirada em princípios espirituais. Na verdade, o vencedor do Nobel da Paz não hesita em afirmar que o a inspiração islâmica do seu banco; e é do conhecimento geral, o objectivo do Banco Grameen é ajudar os pobres (e não ajudar o Islão).

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REFERÊNCIAS
The Nobel Peace Prize for 2006
Microcredit: A Weapon In Fighting Extremism
The Grameen Bank: An Interesting Alternative for Developing Countries
Nobel for anti-poverty pioneers (BBC)

9 comentários:

Anónimo disse...

Podiamos comparar os lucros escandalosos da banca portuguesa com os lucros do banco deste homem. Podiamos até comparar a forma como os bancos portugueses têm contribuido para o bem-estar social e para a redução da pobreza entr nós. Podiamos fazer imensas comparações, e em todas os nossos bancos e banqueiros ficariam a perder.

Mas nem era necessário fazer essas comparações.

Basta olhar para a expressão de humildade no rosto deste homem e comparar com o ar arrogante dos senhores da banca portuguesa cada vez que são fotografados.

Anónimo disse...

marco,

como sabes que ele é muçulmano? andei a procura mas nao encontrei nada sobre isso, a julgar pelas fotos(incluido as da familia), parece-me que ele é hindu, mas posso estar enganado claro

Anónimo disse...

Iuri,
A TSF emitiu uma entrevista com ele (feita quando ele visitou Portugal há 3 ou 4 anos) em que ele afirmava ser muçulmano e explicava inspiração islâmica do Banco. Mas não o fazia com um espirito de militância ou de proselitismo.
Era como se o seu trabalho com o Banco fosse uma consequência perfeitamente natural das suas convicções.

Anónimo disse...

É sempre bom sabermos notícias destas.
Realtivamente aos fundamentalistas era bom que se lembrassem duma tradição islâmica em que um crente perguntou a Maomé:
"a quem devo obedecer?"
ao que Maomé respondeu "à tua Mãe"
"E a seguir?"
ao que Ele voltou-lhe e responder "á tua Mãe".
É simples, que Mãe vai esbanjar os recursos dos filhos?
Não vejo nada de anti-islãmico na atribuição dos micro-créditos ás mulheres.

Anónimo disse...

Parece-me um bocado surrealista que se aproveite a atribuição deste prémio nobel para demonstrar que nem todos os muçulmanos são fundamentalistas.
Realmente se já chegámos a este ponto, o mundo vai de facto mal!

Anónimo disse...

Um pouco do surrealismo pode não fazer mal. Temos de ter cuidado é com os excessos...

Anónimo disse...

Joao,

dizer que todos os muculmanos sao fundamentalistas e que e inrealista, aqui esta um caso que prova o contrario, consegues discordar com a afirmacao "nem todos os muculmanos sao fundamentalistas"?

Anónimo disse...

Não me fiz entender...o facto de se estar a dizer que nem todos os muçulmanos são fundamentalistas é surrealista pois isso devia ser uma evidência. É quase como estar a dizer que nem todos os pretos são estupidos...ou seja é debater a um nivel muito primário.

Anónimo disse...

Caro Marco ,

gostei muito do seu post bem como do seu comentário no blog liberal social.
É importante não permitir que cresça este sentimento anti-muçulmanos que se vai formando na Europa.