Na liturgia da Igreja Católica celebra-se hoje o Domingo de Ramos. É o primeiro dia da Semana Santa, em que se recorda a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, aclamado por uma multidão em festa. A partir desse momento o choque com os poderes políticos e religiosos do Seu tempo assume novas dimensões; os mercadores são expulsos do templo e os sacerdotes conspiram contra Ele. Mas também é após a entrada em Jerusalém que as Suas palavras começam a adquirir uma crescente intensidade espiritual e escatológica, como é o caso do discurso no Monte das Oliveiras.
A entrada em Jerusalém tinha sido precedida de uma premonição profética: “Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu juntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?” (Lc 13:33-34)
O momento da entrada em Jerusalém encontra um paralelo no fim do exílio de Bahá'u'lláh em Bagdade. E tal como Jesus, também Bahá'u'lláh antecipou as várias tribulações que O aguardavam; foi no Naw-Ruz de 1863, quando revelou a Epístola do Santo Marinheiro, deixando apreensivos muitos dos Seus companheiros e admiradores.
O Seu exílio na capital provincial do Iraque já durava há dez anos e o Seu prestígio tornava-se motivo de inquietação para autoridades otomanas e persas. Quando se tornou conhecida a decisão de enviar Bahá'u'lláh, a Sua família e alguns exilados para Constantinopla, as imediações da Sua casa encheram-se de gente que queria despedir-se daquele exilado persa que durante uma década, através das Suas palavras e ensinamentos, tinha exercido uma poderosa influência sobre uma parte significativa da população da cidade.
Em 22 de Abril de 1863, depois de receber a notificação imperial, Bahá'u'lláh abandonou a Sua casa em Bagdade e dirigiu-Se ao jardim de Ridván, junto às margens do rio Tigre. Ficou ali durante doze dias, dormindo numa tenda e continuando a receber todos os que se queria despedir dele. Durante doze dias, amigos, conhecidos, árabes, curdos, persas, autoridades civis e religiosas, funcionários do governo e comerciantes, ricos e pobres, encheram o jardim, todos ansiando por ver pela última vez o Seu rosto, enquanto não escondiam o seu desgosto e angústia.
A saída do Jardim de Ridván (3 de Maio) provocou cenas de entusiasmo ainda mais tumultuosas do que as que marcaram a despedida da Sua casa. A multidão de admiradores lançava-Se aos seus pés, enquanto outros choravam e lamentavam-se batendo no peito. Mesmo as pessoas eminentes que se tinham reunido para uma última despedida estavam surpresas pela reacção a que assistiam; um cronista da época refere que "tal era a emoção que os dominava que nenhuma língua seria capaz de descrevê-la nem poderia qualquer observador escapar à sua influência".
A entrada em Jerusalém e os dias no Jardim de Ridván são momentos de viragem na vida de dois Manifestantes de Deus. São também os momentos de maior visibilidade e aceitação pública das Suas Missões. Em ambos os casos, estes momentos foram sucedidos por episódios humilhantes às mãos daqueles que detinham o poder.
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