quinta-feira, 12 de julho de 2007

Bento XVI e as Religiões do Mundo (4)

Inclusivismo e Pluralismo

No livro Fé, Verdade e Tolerância, Bento XVI ao comparar o Inclusivismo com o Pluralismo, escreve:
"O «inclusivismo» pertence à natureza da história religiosa e cultural da humanidade, que precisamente não se constrói na forma de um rigoroso pluralismo. O pluralismo, na sua forma radical, nega, em ultima instância a unidade da humanidade e nega a dinâmica da história, que é um processo de unificação" (p.76)
Sinceramente, não compreendo como é que o Pluralismo nega a unidade da humanidade. Na minha opinião, o Pluralismo é uma perspectiva mais capaz de favorecer o diálogo e entendimento entre as religiões do que o Inclusivismo. E o diálogo e entendimento entre as religiões são factores decisivos na construção da unidade da humanidade. E já agora: alguém me consegue explicar o que significa "pluralismo radical"? Isso sugere a existência de um pluralismo moderado. Porque será que este não é referido no texto?

Para perceber as origens históricas do inclusivismo religioso devemos ter presente que os Profetas fundadores das grandes religiões mundiais sempre manifestaram um enorme respeito por outros profetas e pelas religiões anteriores. Isto levou os os seus seguidores a perceber que essas religiões foram etapas de desenvolvimento espiritual da humanidade que de alguma forma prepararam caminho para a revelação que testemunhavam.

Desta forma compreende-se a atitude inclusivista do Cristianismo face ao Judaísmo. E de igual modo, no Islão se encontra uma atitude inclusivista face ao Cristianismo e ao Judaísmo; os profetas e figuras proeminentes do passado são considerados muçulmanos (Noé [10:73], Abraão [2:126] Moisés e Seus seguidores [10:84, 10:90, 7:123], e os discípulos de Cristo [5:111]). Esta noção de Inclusivismo leva-nos a concluir que a mais inclusivista das religiões é a Fé Baha'i.

Note-se que este é o que poderíamos considerar um Inclusivismo genuíno, pois ele está na génese de cada religião; não é o resultado de uma reflexão teológica de alguns sábios; não é uma declaração política de dirigentes religiosos; não se trata de um sincretismo ingénuo; nem tão pouco é uma atitude de sobranceria onde se admite que os outros podem ter consigo alguma verdade. Este é um Inclusivismo cujas raízes se encontram na Palavra revelada nas sagradas escrituras de cada religião.

7 comentários:

Anónimo disse...

Para quando uma citação que permita uma referência elogiosa a Bento XVI?

Marco Oliveira disse...

João,
À medida que ia lendo este livro, o que mais notei foram as diferenças entre as ideias dele e as minhas. Além disso notei que alguns argumentos eram muito enviesados (como este de identificar o pluralismo como sendo "pluralismo radical"); por vezes parece mais uma argumentação política do que teológica.

Houve uma ou duas coisas que me surpreenderam pela positiva, e sobre as quais oportunamente escreverei.

De qualquer forma devemos ter presente que num diálogo inter-religioso não estamos apenas a identificar ideias comuns; a identificação das diferenças é igualmente importante.

Anónimo disse...

E o quê que acham da Igreja católoca vir agora dizer que a lei da liberdade religiosa não se lhe aplica por estarem acima dela?

Anónimo disse...

Recentemente o Papa disse que a Igreja Catolica tem o exclusivo da Verdade. Pelo menos é isso que dizem os jornais.

Eu não percebo como é que o Papa se mostra inclusivista, mas depois quando se refere às outras igrejas cristãs se afirma exclusivista. Há aqui algo que não bate certo.

Marco Oliveira disse...

Joao,
Não sei se a Igreja Católica afirmou exactamente isso; o que se queixa é que há aspectos da concordata que ainda não foram legislados. Não conheço a situação. Mas sei que também há aspectos da Lei da Liberdade religiosa que ainda não foram legislados (por exemplo, a questão do casamento civil só agora foi regulamentada).

GH,
Já vi muitas declarações do Papa serem distorcidas. Tenho sempre muitas reservas sobre o rigor das notícias que referem alguma coisa que ele tenha dito ou feito.

Prefiro ler documentos ou livros do próprio. Assim tenho a certeza que a mensagem que me chega não foi deturpada.

Anónimo disse...

Joao Moutinho,
São poucos os católicos capazes de elogiar o Santo Padre. Esses deviam dar o exemplo.

Anónimo disse...

Ó João Moutinho, eu não te quero desiludir, mas olha que te aconselho a esperares sentado, de preferência à beira mar com os alegres petizes à tua volta a brinca a correr e a saltar, porque do Ratzinger ou dos seus apoiantes...O.D. não deve vir daí nada.
O castço disto é que ouço os sacerdotes a cochichar e a verem com outros olhos a Teologia da Libertação. Queres que é desta que há uma sublevação do catolicismo? Já não era a primeira vez nem haverá de ser a última.
O Marco tem razão em ir beber às fontes papais, sorte a dele, porque eu não tenho pachorra para tal. Eu leria Ratzinger quando ele lesse com olhos de imparcialidade os Escrito de Sua Santidade o Báb (em francês) Os de Bahá'u'lláh (Em árabe) e os de 'Abdu'l-Bahá (em farsi).
Mas enfim...