No Expresso de hoje o Editorial e Miguel Sousa Tavares apresentam algumas ideias sobre a contestação dos sindicatos de professores ao novo sistema de avaliação. Tenho de concordar com estas ideias.
Do Editorial do Expresso:
Já todo o país ouviu os sindicatos dos professores dizerem que não são contra as avaliações, mas sim contra esta avaliação,
Muito bem, eis o desafio, a próxima prova: façam o favor de dizer como seria a avaliação que defendem. Quem a faria, que efeitos teria? Dela dependeria o salário do professor?
Eis o que podem elucidar antes ou depois da manifestação. Só para ficarmos descansados e percebermos que causa nobre os move.
De Miguel Sousa Tavares:
Os sindicatos da Educação tiveram uma contribuição decisiva para sucessivas gerações de alunos prejudicados e para a derrota nacional na frente educativa. Nunca tivemos falta de professores, falta de escolas, falta de dinheiro para a Educação. Gastamos como em nenhum outro sector e, em percentagem do PIB, mais do que a maioria dos países europeus. E tudo isto serviu para nada, para formar gerações de ignorantes, sem préstimo no mercado de trabalho de hoje ou para acumular taxas terceiro-mundistas de abandono escolar. Eu. Se fosse professor, estaria, no mínimo, incomodado com os resultados. Porque é preciso muita má fé para sustentar que a culpa foi apenas dos Ministros da Educação que tivemos – todos, sem excepção, incompetentes.
(...)
Mas, no essencial, ela [Maria de Lurdes Rodrigues, a Ministra da Educação] tem razão e todos nós que não estaremos hoje a desfilar em Lisboa, já o percebemos. Ela quer mudar as coisas, recusa conformar-se com os resultados de trinta anos a nada fazer; a corporação quer que tudo o que é determinante continue na mesma.
Todos percebemos que a gestão das escolas não pode ser tarefa única dos professores, mas de grande parte da sociedade civil interessada e isto é o que mais atinge uma corporação cuja sobrevivência depende da auto-regulação desresponsabilizadora – vejam como os magistrados ficam logo abespinhados de cada vez que alguém sugere invadir o que chamam a sua sagrada “independência”, que é a causa primeira da total falência da justiça. Todos percebemos que um professor que falta às aulas ou vê os seus alunos a nada aprenderem, e não se preocupa com isso não pode e não deve progredir na carreira e ganhar o mesmo que outro que se preocupa com os seus alunos e com as aulas. Todos percebemos que um professor que falta a uma aula pode e deve ser substituído por outro que está na escola , sem aula para dar e dentro do seu horário de trabalho – como sucede todos os dias e com a maior naturalidade cá fora, no mundo ‘civil’, em qualquer empresa ou local de trabalho. É isto o essencial.
17 comentários:
Estou de acordo com as dúvidas levantadas sobre a eventual legítima razão dos professores nos protestos.Penso que a ministra deve ser ajudada por todos nós, a fazer melhor, aquilo que TINHA de ser feito. Protestos desta magnitude não vão ajudar a melhorar o ambiente entre todas as partes do processo. Bom ambiente é o que todos precisamos, não poluição. Até parece que a ministra congelou salários a alguém. Bom se o tivesse feito...imagino o que então não fariam...
Em qualquer empresa normal os bons são promovidos, os menos bons são estimulados a desenvolver competências e os maus ou medíocres são convidados a sair.
Porque é que com os professores não se deve aplicar esta regra?
Na prática, com estes protestos o sindicato dos professores que defende apenas os interesses dos professores mediocres e maus (eles são os que têm bons motivos para ter medo da avaliação). Os professores bons naturalmente que nada têm a temer pelo facto de serem avaliados.
Que raio de sindicato é este que parece viver deslocado da realidade e das necessidades do país?
"Em qualquer empresa normal os bons são promovidos, os menos bons são estimulados a desenvolver competências e os maus ou medíocres são convidados a sair."
Será que em Portugal a realidade funciona assim????
Como alguma coisa, seja ela qual for, pode melhorar se aqui se perde tanto tempo com consultas, debates e discussões...
Alguma vez alguém partiu para acção?
E quanto aos professores nem consigo contar os bons que conheci de tão poucos que eles são, no entanto posso contar os bêbados, os agressivos, os vingativos e os brutos...
Não se ofendam por favor, realmente existem bons professores que se preocupam com aluno mas de que vale se não sabem como leccionar, como ajudar e ainda mais demoram tanto para ajudar que o ano lectivo acaba e mais um ano está perdido?!
Desculpem o meu desabafo...
Ao que parece a questão não é a dos professores estarem contra a avaliação, porque sempre foram sujeitos a tal. Mais uma vez, o que que estará em causa será não só a forma atabalhoada, as medidas avulsas, os avanços e recuos, as informações mal orientadas veiculadas pela tutela, como também a injustiça nos critérios utilizados entre os professores que investem na escola e nos alunos, e os que também não. Neste caso talvez se justificasse a aplicação de "dois pesos e duas medidas".
Quanto aos sindicatos, que "desinteressado" benefício trazem à sociedade?
Mas isto é a gente a falar, claro...
Daniella,
Eu recordo com muito carinho os bons professores que tive. E foram vários. Tive poucos professores maus.
Gostava que os bons se distinguissem dos maus. Os bons merecem recompensa pelo seu trabalho; e não gosto que os maus continuem a ser professores (e se penso que o salário deles é pago com o dinheiro dos meus impostos...)
Recentemente, ao acompanhar a evolução escolar dos meus sobrinhos, tive a oportunidade de encontrar novamente bons e maus professores. Não hesitei em elogiar publicamente os bons. Mas quando foi necessário denunciar um mau professor, percebi as técnicas de encobrimento do Conselho Directivo da escola.
Muitas vezes o actual sistema de gestão escolar facilita o encobrimento. Não admira que os maus professores tenham medo de mudanças no sistema de gestão escolar assim como no sistema de avaliação.
Só admira mesmo é que os sindicatos alinhem com as preocupações dos professores medíocres.
eu também gostava de entender que tipo de proposta têm para a avaliação, ou melhor cheguei a pensar que eles tinham alguma, até ter ouvido um exmo. do sindicato dizer que "professor é para avaliar e não para ser avaliado" . depois desta manifestação de ... não posso dizer aqui qual a palavra que melhor se adequa, parece-me que só tem mesmo é que ser avaliados
entao e se os professores universitarios tivessem esse tipo de avaliação? isso é que seria uma grande medida sim senhor. desculpem la, mas ao contrario do secundario, na universidade sao raros os "bons" professores, a maior parte (pelo menos no ist) são investigadores "obrigados" a dar aulas e sem receberem qualquer formação pedagogica para isso. porque ninguem fala ou se preocupa com este assunto é para mim um grande misterio ainda.
Os professores do Departamento de Línguas e Literaturas, da Escola Secundária D. Maria II, Braga, na sua reunião ordinária de hoje, 5 de Março, abordaram, inevitavelmente, o modelo de avaliação que nos querem impor. Após demorada, participada e viva discussão, os respectivos professores decidiram redigir e aprovar o documento que, de seguida, transcrevo na íntegra:
. Atendendo a que, sem fundamento válido, se fracturou a carreira docente em duas: professores titulares e não titulares;
. Atendendo a que essa fractura se operou com base num processo arbitrário, gerando injustiças inqualificáveis;
.Atendendo a que os parâmetros desse concurso se circunscreveram, aleatória e arbitrariamente, aos últimos sete anos, deitando insanemente para o caixote do lixo carreiras e dedicações de vidas inteiras entregues à profissão;
. Atendendo a que, por via de tão injusto concurso, não se pode admitir, sem ofensa para todos, que seguiram em frente só os melhores, e que ficaram para trás os que eram piores;
. Atendendo a que esse concurso terá repercussões na aplicação do assim chamado modelo de avaliação, já que, em princípio, quem por essa via acedeu a titular será passível de ser nomeado coordenador e, logo, avaliador;
. Atendendo a que, por essa via, pode muito bem acontecer que o avaliador seja menos qualificado que o avaliado;
. Atendendo a que o modelo de avaliação é tecnicamente medíocre;
. Atendendo a que o modelo de avaliação é leviano nos prazos que impõe;
. Atendendo a que o modelo de avaliação contém critérios subjectivos;
. Atendendo a que há divergências jurídicas sérias relativas à legitimidade deste modelo;
. Atendendo a que o Conselho Executivo e os Coordenadores de Departamento foram democraticamente eleitos com base nas funções então definidas para esses órgãos;
. Atendendo a que este processo, a continuar, terá que ser desenvolvido pelos anunciados futuros Conselhos de Escola, Director escolhido por esse Conselho, e pelos Coordenadores nomeados;
. Nós, professores do Departamento de Línguas, da Escola Secundária D. Maria II, não reconhecemos legitimidade democrática a nenhum dos órgãos da escola para darem continuidade a um processo que extravasa as funções para as quais foram eleitos;
. Mais consideram que:
. Por uma questão de dignidade e de solidariedade profissional, devem, esses órgãos, suspender, de imediato, toda e qualquer iniciativa relacionada com a avaliação;
. Caso desejem e insistam na aplicação de tão arbitrário modelo, devem assumir a quebra do vínculo democrático e de confiança entre eles próprios e quem os elegeu, tirando daí as consequências moralmente exigidas.
Marco,
Independentemente desta discussão acho que se deve levar o que o Miguel Sousa Tavares diz com uma pontinha de suspeição.. o homem é um wind bag de primeira...
Orlando,
E após “demorada, participada e viva discussão” só foram capazes de dizer isto? Não foram capazes de propor um modelo alternativo de avaliação?
É que eu, enquanto cidadão e contribuinte (lembro que os vossos ordenados são pagos com os meus impostos) exijo que os professores sejam avaliados! E deve ser uma avaliação que promova o talento e a competência, e elimine do meio escolar a incompetência e o desleixo.
Enquanto os professores (ou os sindicatos que os representam) não apresentarem alternativas concretas para uma avaliação que separe o trigo do joio entre a classe dos professores, apenas posso concluir que se está a tentar proteger um status quo que tolera a mediocridade, e não pretende que o talento se destaque.
Foi para isso que serviu a vossa “demorada, participada e viva discussão”? Para proteger a mediocridade?
Já agora podia aproveitar para nos explicar o que acontece na Escola Secundária D. Maria II, Braga quando aparece um mau professor (não me vai tentar convencer que todos os professores são igualmente bons, pois não?). O que acontece às queixas dos alunos? E dos pais? Essas queixas entram para o processo do professor? De que formas essas queixas são tidas em conta na evolução profissional do professor? E no respectivo ordenado? Informam a IGE?
Continuamos com a demagogia barata que argumenta que os professores são contra a avaliação. Os professores estão contra esta avaliação -- vamos ser sérios.
A Ler
Demagogia barata?
Quem são os maiores demagogos? Os que propõem um sistema de avaliação ou os que fazem birra e não apresentam alternativas?
E sobre o sistema de avaliação alemão: porque é que os professores da Escola Secundária D. Maria II, Braga não fazem uma proposta concreta com base nesse sistema? Porque é que apenas são capazes de protestar? Não seria mais construtivo e dignificante?
Policia nos USA também não gosta dos de departamento dos assuntos internos (é isto o nome, não é?) é evidente que ninguém gosta de fiscal avaliando o certo e ou errado contudo se o sistema não funciona sozinho aí que remédio...
Marco eu sei que existem bons professores, sim senhor mas os brutos, agressivos e principalmente os vingativos sobressaem de tal forma que apertam o espaço para os bons e eu, vc sabe, ainda acrescento a discriminação e preconceito, e preferência que muitos dos professores têm contra e sobre uma ou outra etnia...
Portanto esta ou outra avaliação não deve ser sobre o comportamento, imagino que é sobre a qualidade de ensino, não é?
Também é outra história…
Basta olharmos a nossa volta e ver quantas “explicações” que a toda hora brotam para fora e mais curioso é que os ditos explicadores, muitas vezes, são os mesmos professores das escolas…
Se a escola e o corpo docente funciona bem porquê tantas "explicações"?
Porquê tantas médias baixas a nível nacional?
Porquê tantos alunos abandonam a escola todos os anos?
...
Deve ser porquê a população jovem de Portugal está com Síndrome de Burrice...
Os professores que são impecáveis!!!
Isto que é demagogia barata... não é?
Qual o significado da manifestação do fim-de-semana passado?
Creio que podemos todos concluir que os professores saíram a perder. De facto tenho de concordar com a “filha do administrador - eu também gostava de entender que tipo de proposta têm para a avaliação, ou melhor cheguei a pensar que eles tinham alguma, até ter ouvido um exmo. do sindicato dizer que "professor é para avaliar e não para ser avaliado"”.
Isto reflecte a mentalidade subjacente a todo um processo que vem do tempo da pré-história educativa do nosso país em que os professores avaliavam e utilizam a “menina de cinco olhos” ou “régua” para educar.
Evoluam. Estão no século XXI e ainda consideram que têm o arrogante direito de discutir de forma “demorada, participada e viva” as decisões de um governo eleito de forma legítima numa sociedade democrática? É isso que ensinam aos alunos? O futuro do nosso país está nas gerações que educam, e não lhe podemos continuar a transmitir a velha máxima “caso o não nos agrade o que o governo decide, vamos para a rua manifestar até eles recuarem, sem ser necessário propor alternativas”. Oposição, como muito bem sabem, não significa estar contra e “prender o burro”. Oposição em democracia significa algo maior que o significado literal do termo. É necessário saber opor as ideias, pois os políticos nem sempre têm a verdade completa e total. Opor ideias é melhorar onde há a melhorar, propor alternativas e admitir que é necessário proceder a uma avaliação do sistema antes de tomar uma acção, começando neste caso por quem ensina.
Só queria referir que um professor não avalia, a principal função de um professor é ensinar, educar, transmitir conhecimento e incutir um gosto pela busca de conhecimento nos alunos. Tudo o resto são circunstâncias da metodologia de ensino.
No que me toca nem quero saber se a metodologia de avaliação é boa ou má, considero que perderam a luta antes de chegar ao Terreiro.
Pretender um modelo de avaliação alemão é um acto de provincianismo tão grande quanto pretender copiar o modelo de ensino finlandês.
Será que temos de imitar tudo o que se faz no estrangeiro? Por acaso somos incapazes de desenvolver os nosso sistema de avaliação?
Mais outra coisa!
Além da avaliação há também alguns privilégios dos senhores professores que são escandalosos. Por exemplo, as subidas por antiguidade e a redução de carga horária de acordo com a idade (ou tempo de serviço).
Por outras palavras, quanto menos trabalham, mais recebem!
São tão injustiçados os professores do ensino público! Gostava mesmo era de saber quantos deles conseguiam fazer carreira no privado!
Longos debates mas, "Só queria referir que um professor não avalia, a principal função de um professor é ensinar, educar, transmitir conhecimento e incutir um gosto pela busca de conhecimento nos alunos. Tudo o resto são circunstâncias da metodologia de ensino."
Sábias palavras Alfredo Rodrigues, amei, fantástico...
Gente
Talvez esteja chegada a hora dos pais e encarregados de educação também fizer uma manifestação de 100.000 em Lisboa...
Isto que seria uma ....;-)
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