A vida que se põe de modo absoluto como um fim para si mesma autodestrói-se. O vitalismo desemboca necessariamente no niilismo, na destruição total do natural. A vida em si é, pois, um nada, um abismo, uma queda; é movimento sem fim, sem objectivo, movimento para o nada. Nunca descansa antes de ter implicado tudo neste movimento aniquilador. Este vitalismo está presente na vida individual e comunitária. Nasce da falsa absolutização de um conhecimento de per si justo, isto é, de que a vida não é um só um meio para um fim, antes um fim em si mesma; e também este conhecimento vale quer para a vida individual, quer para a vida colectiva. (p.146)Muitas religiões e sistemas filosóficos tentam apresentar respostas para uma questão complexa como «Qual o propósito da vida?» Talvez seja uma pergunta tão antiga quanto a espécie humana; pode ser que faça parte da nossa natureza indagarmos os motivos mais profundos da nossa existência.
Bonhoeffer - teólogo luterano de admirável cuja dimensão humana e coragem - rejeita a ideia de que possamos existir por acaso ou apenas para estar vivos; é uma posição comum a quem se recusa acreditar que o ser humano é apenas um pedaço de matéria que tomou consciência de si próprio. Na verdade, se o propósito da nossa existência é viver e gozar a vida durante algumas décadas, então somos levados a reconhecer que se trata de uma existência vazia, que não nos leva a lado nenhum.
Nas Escrituras Bahá’ís, encontramos duas respostas a esta questão. Por um lado, é-nos apresentado um propósito individual quando Bahá'u'lláh afirma que cada ser humano foi criado para "conhecer e adorar" o Criador. Não se trata de um convite a uma vida de recolhimento, meditação e contemplação; o conhecimento de Deus consegue-se através do conhecimento dos Seus Mensageiros e a adoração expressa-se no serviço aos nossos semelhantes (não será isto a reafirmação do ágape cristão?).
Por outro, o fundador da religião Bahá’í afirma que a humanidade tem um propósito colectivo: desenvolver "uma civilização em progresso contínuo". Na verdade, os grupos sociais ou instituições que puderem dar um contributo para o desenvolvimento de ciências, artes, valores, hábitos e comportamentos dos povos, terão, certamente, atingido esse propósito.
Assim, nas Escrituras Bahá’ís a vida é apresentada como um meio para atingir uma finalidade dupla. E fugindo aos perigos da absolutização e do niilismo, como adverte Bonhoeffer, a vida é encarada como instrumento de desenvolvimento que visa a realização plena do indivíduo enquanto ser humano e membro de uma sociedade.
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