A ênfase nos valores éticos e a tendência para o monoteísmo existente em muitos filósofos gregos sugere que existiu na Grécia uma forte difusão dos valores culturais e religiosos da Palestina Hebraica. A ideia dessa influência dos hebreus sobre os helénicos já tinha sido avançada por Sto Agostinho na sua obra A Cidade de Deus (VIII:11)
Alguns têm pensado que tendo Platão ido ao Egipto, poderia ter ouvido Jeremias, ou lido os seus escritos proféticos durante a viagem. Eu mesmo consignei esta opinião em alguns dos meus livros. Mas um cálculo mais apurado das datas, tais como se contêm na história cronológica, mostra que Platão nasceu cerca de cem anos depois da época em que Jeremias profetizou… Platão não pôde, no decurso da sua viagem, nem ver Jeremias, morto desde há muito tempo, nem ler as suas Escrituras ainda não traduzidas para grego, língua em que era exímio. A menos, talvez, que, apaixonado estudioso como era, tenha delas tido conhecimento por intérpretes, como aconteceu com as egípcias – sem se tratar de uma tradução escrita… Mas sem dúvida que conseguiu, com as suas conversações, tomar conhecimento, na medida do possível, do seu conteúdo. (A Cidade de Deus, VIII:11)
Agostinho também nota que que o Antigo Testamento ainda não tinha sido traduzido para grego no tempo Platão e sugere que é a graça de Deus – e não contactos culturais directos – que explica as semelhanças entre a filosofia grega e as tradições culturais judaico-cristãs.
A sequência cronológica com que Bahá’u’lláh descreve os filósofos gregos, e a relação cronológica com outras personagens históricas tem sido alvo de debate (a, b, c). Existem discrepâncias entre a descrição que Bahá’u’lláh faz da história da Grécia antiga e as actuais teorias históricas. Vejamos o seguinte exemplo:
O texto da Epístola declara que Empédocles era "…contemporâneo de David"[25] e que Pitágoras "…viveu nos dias de Salomão"[25]. Segundo os historiadores modernos, David e Salomão terão vivido no século 10 aC. e Pitágoras viveu no século 6 aC; Empédocles viveu no século 5 aC. Assim encontramos uma grande discrepância entre as datas hoje aceites pela investigação histórica e a exposição cronológica apresentada na Epístola da Sabedoria.
O facto de estas inexactidões constarem numa Epístola de Bahá'u'lláh pode suscitar algumas dúvidas sobre a possibilidade dos textos sagrados conterem erros históricos.
Convém aqui termos presente que a Epístola não pretende descrever uma sucessão de eventos históricos sobre os quais não existem provas. O objectivo é demonstrar a forma como a tradição filosófica da Grécia antiga foi influenciada pelo monoteísmo profético dos hebreus. Essa demonstração é feita de acordo com o enquadramento histórico e filosófico com que o destinatário da Epístola estava familiarizado.
Além disso, é importante ter presente que o conhecimento que os muçulmanos possuíam sobre as biografias dos gregos antigos vinha dos neoplatónicos gregos e dos autores cristãos. A maioria dos historiadores islâmicos era pouco rigorosa relativamente à datação de eventos anteriores ao surgimento do Islão; havia algumas excepções como Abu-Rayhan Biruni (973-1050) e o sírio Abu’l Fidá.
O próprio 'Abdu'l-Bahá afirmou que a datação de eventos anteriores a Alexandre o Grande é pouco fidedigna(d). Desta forma, as datas atribuídas por historiadores islâmicos a eventos pré-islâmicos podem ser consideradas meras aproximações.
Sobre este assunto a Casa Universal de Justiça esclareceu:
“O facto de Bahá’u’lláh fazer estas afirmações para ilustrar princípios espirituais que pretende transmitir, não significa necessariamente que Ele defenda a sua exactidão histórica"(e)
Assim, parece correcto afirmar que a Epistola da Sabedoria contém uma afirmação factualmente incorrecta para os actuais padrões de conhecimento e investigação histórica; no entanto, essa afirmação era válida no meio cultural em que vivia Nabil-i-Akbar, o destinatário da Epístola. Também devemos ter presente que a Epístola da Sabedoria pretende mostrar uma verdade espiritual (Jerusalém exerceu uma influência espiritual sobre Atenas) e não um facto histórico. Assim, temos de acreditar que os conceitos básicos transmitidos na Epístola são verdades infalíveis e eternas, apesar de algumas frases específicas, que sustentam esses conceitos, possam ser incorrectas fora do seu contexto original.
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(a) - Problems of Chronology in Baha'u'llah's Tablet of Wisdom, Juan Cole (1979)
(b) – Some chronological Issues in the Lawh-i-Hikmat of Bahá'u'lláh, Peter Terry (1999)
(c) - A study of Pre-Islamic sources on the relation of Greek Philosophers and Jewish sages, Amin Egea, (2007)
(d) - Epístola datada de 1906 dirigida à Sra Ethel Rosenberg
(e) – Citado em "Hermes Trismegistus...", Keven Brown, p. 178
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