Transcrição completa de entrevista com Marco Oliveira, da Comunidade Bahá’í em Portugal. Vejam a notícia aqui.
Últimamente tem aumentado a perseguição aos bahá’í no Irão, mas a religião Bahá’í nasceu no Irão. Pode-nos contar brevemente a história das origens?
A Fé Baha’i nasceu no Irão no século XIX. O fundador foi um nobre persa chamado Bahá'u'lláh que começou por apoiar um movimento messiânico, o Babismo, que é referido por Eça de Queirós. Por causa desse apoio foi exilado para o que é hoje o Iraque. No Iraque começou a organizar os seguidores da religião Babí e anunciou ser ele o profeta prometido pelo fundador da religião Babí, o Bab. Posteriormente foi novamente exilado, primeiro para Constantinopla, depois para Adrianópolis, ainda no império Otomano, e eventualmente para a fortaleza de Akká, na Palestina Otomana e hoje fica no Estado de Israel. Hoje há cerca de cinco milhões de Bahá’ís espalhados por todas as religiões do mundo.
Templo Baha'i |
E no Irão, quantos há? Actualmente vivem no Irão cerca de 300 mil bahá’ís, são a maior minoria não muçulmana no Irão.
Portanto a religião nasceu no seio do islão, mas os bahá’í consideram-se muçulmanos? A fé Baha’i é uma religião independente, tem os seus próprios livros sagrados, as suas próprias leis e a sua própria administração. A relação que tem com o Islão é a mesma que o Cristianismo tem com o Judaísmo, isto é, nasceu num meio islâmico mas mostrou rapidamente que era uma religião independente. No Irão há também comunidades cristãs e judaicas que até são respeitadas.
Porque é que os bahá’í são tão perseguidos?
Há sobretudo um aspecto teológico-religioso na base dessa perseguição. Para os muçulmanos o Judaísmo e o Cristianismo são religiões do Livro. Os muçulmanos aceitam Moisés e aceitam Jesus como profetas legítimos e divinos, mas segundo o Islão Maomé terá sido o último dos profetas. A Fé Baha’i ensina que não houve um último dos profetas, mas que há uma sequência contínua de profetas e que o mais recente foi Bahá'u'lláh. Isto contraria aquilo em que os muçulmanos acreditam e é isso que está na base das perseguições. Para além disso os Bahá’í têm um conjunto de ensinamentos que o clero muçulmano mais tradicional não aceita, como por exemplo a igualdade de direitos entre homens e mulheres, a necessidade de investigação da verdade e a abolição de todas as formas de preconceito. Portanto há um conjunto de circunstâncias que tornam a Fé Bahá’í um alvo preferencial das ditaduras islâmicas.
E recentemente tem havido um aumento da perseguição?
É verdade. Temos assistido com muita preocupação a um conjunto de medidas que visam descriminar e ostracizar a fé Baha’i no Irão. Em termos simplistas diria que se está a criar um sistema de apartheid religioso em que os Bahá’ís além de não terem direitos de cidadania, porque não estão defendidos pela constituição iraniana, neste momento estão impedidos de um conjunto de actividades. Por exemplo os jovens não podem ingressar na universidade, quando ingressam acabam por ser expulsos passados alguns meses. Os bahá’ís não podem ser funcionários públicos, os reformados viram canceladas as suas reformas e foram obrigados a devolver o que já tinham recebido, várias pessoas que têm pequenos negócios de comércio têm visto as suas licenças revogadas, há lares e propriedades destruídas ou incendiadas e tudo isto nos cria uma situação que nos preocupa verdadeiramente e para a qual temos chamado a atenção da comunidade internacional nos diversos fóruns internacionais e junto de Governos em todo o mundo.
E em Portugal também há bahá’ís de origem iraniana?
Em Portugal há cerca de sete mil bahá’ís. Alguns destes são pessoas que nasceram no Irão e, devido às perseguições que lá ocorrem, tiveram que vir para Portugal como refugiados e acabaram por fazer aqui a sua vida. A maioria encontra-se hoje plenamente integrada na sociedade portuguesa. Há médicos, engenheiros, professores universitários, plenamente integrados na sociedade portuguesa
Nelson Évora é o Baha'i português mais conhecido |
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