Centro Cultural Khavaran, Teerão |
Nessa época vivia-se o momento alto dos Projectos de Desenvolvimento Cultural de Karbaschi, na sede do município de Teerão. O Centro Cultural de Khavaran tinha sido recentemente inaugurado.
Foi decidido que a “Feira do Livro” teria lugar no Centro. No dia anterior, fui com os meus colegas organizar o local, colocar preços nos livros e garantir que apenas havia livros infantis e juvenis em exposição. A caminho do Centro todos falavam como Karbaschi tinha convertido uma zona deserta e um matadouro num Centro Cultural elegante e moderno. Pouco depois cheguei ao local e fiquei surpreendida com a beleza do Centro, com as suas salas e auditórios, naqueles anos tristes e cinzentos.
As pessoas tinham trazido tantas caixas de livros que ficámos durante toda a noite a colocar preços, a elaborar listas de livros e a remover livros que não eram para crianças.
Vinte anos mais tarde estou em 2015 e a quilómetros de distância daqueles dias de trabalho na Secção Infantil e Juvenil do Centro Cultural. Recentemente iniciei no Justice for Iran um projecto de investigação sobre Bahá'ís que desapareceram e foram executados. Numa conversa via Skype com um Baha'i bem informado, ele explicou-me a história do actual cemitério Baha’i de Teerão e afirmou: “Quando o antigo cemitério foi arrasado e destruído, fizeram o novo Centro Cultural nesse local”. Interrompi-o e corrigi-o. Disse-lhe que o Centro Cultural Khavaran tinha sido construído numa zona deserta. A resposta foi clara: “Não, o Centro Cultural foi construído sobre as ruínas do cemitério Bahá’í”. Calei-me. Vieram-me as memórias daquela noite de trabalho no Centro Cultural em que classifiquei e coloquei preços nos livros. Ele continuou: “A minha mãe estava lá sepultada”.
Continuámos a conversa e disse-lhe: “Sempre nos foi dito que Karbaschi converteu um matadouro e um deserto num Centro Cultural.” Ele ficou em silêncio. Ambos recordávamos aqueles dias do passado. Acrescentei: “Fizemos lá uma Feira do Livro”. Ele fez um sorriso amargo e disse: “Desenvolveram a vossa cultura em cima de campas profanadas dos Bahá’ís...” e depois ficámos calados. Passado um momento continuámos a falar sobre o principal tema da nossa conversa.
Nesse dia, e muitos dias depois, pensei naquela frase terrível e na história que tinha sido censurada, sempre distorcida aqui e ali. O passado parecia ter linhas paralelas que nunca se encontravam.
O sentimento de vergonha por não conhecer a história do terreno daquele edifício moderno em que trabalhei tão orgulhosamente nunca me abandonou. E nunca me abandonará.
Será possível que estas linhas paralelas alguma vez se encontrem?
A construção do Centro Cultural Khavaran nas ruínas do cemitério Bahá'í juntou estas linhas paralelas.
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FONTE: Building Khavaran Cultural Centre on Ruins of Baha’i Cemetery! (IranPressWatch)
* O seguinte link mostra o Centro Khavaran. Este edifício ganhou o prémio Agha Khan de Arquitectura em 2007. Este prémio exige que os arquitectos respondam a um questionário detalhado sobre o uso, o custo, os factores ambientais e climáticos, os materiais de construção, o calendário de actividades, o desenho e o significado do projecto.
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Indignada
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