Na nossa análise das narrativas da ressurreição nos evangelhos, vamos agora ver o que escreve Lucas.
Vimos que Marcos escreveu que três mulheres tinham ido ao sepulcro de Cristo e ali encontraram um jovem vestido de branco. No evangelho de Lucas existe uma multidão que vai ao sepulcro e descobre dois homens vestidos com roupas brilhantes e curvam-se perante eles. É óbvio que Lucas está a descrever a criação de um mito.
Lucas regista o primeiro aparecimento de Jesus como tendo ocorrido com os dois que foram ao sepulcro. O evento dá-se quando eles caminham para uma aldeia chamada Emaús. Lucas escreve (24:15-16): “E aconteceu que, indo eles, falando entre si e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou, e ia com eles: Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem.”
Segue-se um diálogo e Jesus repreende-os: “Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” Mas mesmo assim os dois não o reconheceram. A conversa continua e por fim eles chegam ao seu destino. Quando partilham o pão com Jesus, finalmente “abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes”; não é claro se isto aconteceu por Ele se ter afastado, desmaterializado ou desaparecido das suas consciências mentais.
Esta narrativa contém todos os ingredientes de uma alegoria. Apenas quando os dois homens raciocinam juntos sobre o ministério e a morte de Jesus é que Ele se aproxima deles. Os dois tiveram que reflectir sobre o que os profetas falaram antes poderem perceber que Cristo podia erguer-se dos mortos. Tiveram de praticar o ritual da comunhão antes de conseguirem lembrar-se e perceber que Ele estava com eles. Assim que descobrem que a realidade de Jesus estava com eles, Ele desaparece dos seus olhos. Essa percepção afasta a necessidade de visão. Um Jesus em carne não desapareceria perante os seus olhos, nem seria necessário raciocinar para o reconhecer.
Lucas prossegue dizendo que os dois homens regressaram a Jerusalém, encontraram os discípulos e os que estavam com eles, “e eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles foi conhecido no partir do pão”. A lembrança do ritual que Cristo tinha ensinado para ser recordado fez com que os homens O reconhecessem. Lucas afirma então: “E, falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou, no meio deles”. Note-se que Jesus aparece subitamente; Ele não bateu à porta. Ele aparece como um instante de compreensão. É a consciência da Sua presença espiritual que aparece - não o Seu corpo físico.
Ao “ver” a realidade espiritual do Cristo ressuscitado, Lucas afirma que os discípulos tiveram medo e “pensavam que viam algum espírito”. Note-se que os discípulos não dizem que viram um corpo. Depois Lucas narra que Jesus diz aos Seus discípulos: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.” Lucas descreve que Jesus comeu peixe e favo de mel com os discípulos e depois explicou-lhes que tudo o que tinha acontecido tinha de acontecer pois estava registado nas escrituras. Seguidamente, afirma Lucas, Jesus “abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as Escrituras.”
Mais uma vez, encontramos uma mistura de imagens físicas e espirituais. Os corpos físicos não aparecem de forma súbita; entram e saem através de portas. Por outro lado, os espíritos não têm carne e ossos. Então o que significa o comentário sobre os espíritos? Parece tratar-se de uma afirmação sobre uma crença e um temor antigos sobre espíritos. Se isso for verdade, então o que se segue faz sentido. A presença de Cristo que eles recordavam e sentiam - aquele que eles agora começavam a “ver” não apenas no mundo vindouro mas também entre eles - era a mesma que esteve com eles neste mundo. Não era uma imagem assustadora, mas familiar. Era o mesmo Jesus que eles conheciam, o que tinha carne e ossos. Era o seu amigo e Senhor, aquele que tinha um corpo físico, aquele a quem eles podiam oferecer peixe e favo de mel e lhes permitia viver e celebrar com confiança.
Os ensinamentos Bahá’ís explicam:
Sobre a Ressurreição de Cristo, você cita o capítulo vinte e quatro do Evangelho de S. Lucas, onde a narrativa salienta o facto da realidade do aparecimento de Jesus aos Seus discípulos que - segundo afirma o Evangelho - ao princípio pensaram ser um fantasma. Do ponto de vista Bahá’í, a crença de que a Ressurreição foi o regresso à vida de um corpo de carne e sangue, e que posteriormente se elevou aos céus não é razoável, nem é necessária à verdade essencial da experiência dos discípulos, que era que Jesus não tinha deixado de existir quando foi crucificado (como era a crença de muitos Judeus desse tempo), mas que o seu Espírito, libertado do corpo, ascendera à presença de Deus e continuava a inspirar e guiar os Seus seguidores e a presidir aos destinos da Sua dispensação. (The Resurrection of Christ, September, 1987, A Casa Universal de Justiça)----------------------------------
Texto Original: The Gospel of Luke and the Resurrection of Jesus (www.bahaiteachings.org)
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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Baha'i: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press.
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