Por David Langness.
Segundo os ensinamentos Bahá’ís, a
humanidade chegou a um ponto do seu desenvolvimento evolutivo em que o mundo
necessita de um governo mundial:
Virá o tempo em que a necessidade imperativa de realizar uma vasta e ampla
assembleia de homens será universalmente percebida. Os governantes e reis da
terra devem estar presentes e, participando nas suas deliberações, considerar
as formas e os meios que estabelecerão as fundações da Grande Paz mundial entre
os homens. Essa paz exige que as Grandes Potências resolvam, para bem da
tranquilidade dos povos da terra, reconciliar-se plenamente entre si. Se algum
rei pegar em armas contra outro, todos se devem levantar unidos e impedi-lo. Se
isto for feito, as nações do mundo não necessitarão de quaisquer armamentos,
salvo com o propósito de salvaguardar a segurança dos seus reinos e de manter a
ordem interna nos seus territórios. Isto garantirá a paz e a serenidade de
todos os povos, governos e nações. (Baha’u’llah, Tablets of Baha’u’llah, p.164)
A Fé de Bahá’u’lláh foca-se na criação de
um mundo onde pessoas pacíficas vivem num planeta sem guerra.
Como característica central desta visão
sagrada – e crucial para a sua realização – os ensinamentos Bahá’ís advogam a
criação de uma federação de nações do mundo que assegure a paz mundial. No
livro “O Segredo da Civilização Divina”, escrito em 1875, ‘Abdu’l-Bahá delineou
plenamente a visão Bahá’í de um mundo pacífico e sustentável:
A verdadeira civilização desfraldará o seu estandarte no centro do coração
do mundo, quando um certo número de soberanos distintos de carácter nobre –
exemplos brilhantes de devoção e determinação – decidirem, para o bem e para a
felicidade de toda a humanidade, levantar-se com determinação firme e visão
clara, e estabelecer a Causa da Paz Universal. Devem fazer da Causa da Paz o
objecto de consulta geral e procurar por todos os meios ao seu alcance
estabelecer a União das nações do mundo. Devem concluir um tratado vinculativo
e estabelecer um pacto, cujas provisões sejam claras, invioláveis e
definitivas. Devem proclamá-lo a todo o mundo e conseguir-lhe a aprovação de
toda a raça humana. Este empreendimento nobre e supremo – a verdadeira fonte de
paz e bem-estar para todo o mundo – deve ser considerado sagrado por todos os
que habitam na terra. Todas as forças da humanidade devem ser mobilizadas para
garantir a estabilidade e permanência deste Mais Grandioso Pacto. Neste Pacto
global, os limites e fronteiras de todas as nações devem ser claramente
fixadas, os princípios subjacentes às relações entre governos devem ser
definitivamente estabelecidos, e todos os acordos e obrigações internacionais cumpridos.
De igual modo, o volume de armamentos de cada governo deve ser estritamente
limitado, pois se for permitido aumentar os preparativos de guerra e forças
militares de qualquer nação, isso levantará suspeitas das outras. O princípio
fundamental subjacente a este Pacto solene deve ser tão forte que se qualquer
governo violar posteriormente as suas provisões, todos os governos da terra se
levantarão para o reduzir à completa submissão; ou melhor, a raça humana, como
um todo, deve decidir, com todo o poder ao seu dispor, destruir esse governo.
Se este que é o maior de todos os remédios for aplicado ao corpo doente do
mundo, este certamente recuperará das suas enfermidades e permanecerá
eternamente são e salvo.
Veja-se que, se essa feliz situação acontecer, nenhum governo necessitará
de armazenar continuamente armas de guerra, nem se sentirá obrigado a produzir
constantemente novas armas militares para dominar a raça humana. Uma pequena
força para fins de segurança interna, punição do crime e de elementos
desordeiros e prevenção de desordens locais, seria necessária – não mais do que
isso. Desta forma toda a população ficará, primeiramente, libertada do fardo
esmagador das despesas impostas para fins militares, e, posteriormente, um
grande número de pessoas deixaria de dedicar o seu tempo à concepção contínua
de novas armas de destruição – esses testemunhos de ganância e sede de sangue
tão inconsistentes com o dom da vida – e, em vez disso, voltariam os seus
esforços para a produção de tudo o que pudesse fomentar a paz, o bem-estar e a
existência humana, e pudesse tornar-se causa de desenvolvimento e prosperidade
universais. Então toda a nação na terra reinaria em honra, e todo o povo seria
criado na tranquilidade e contentamento. (‘Abdu’l-Bahá, The Secret of Divine Civilization, pag. 65-67)
Será que esse “maior de todos os remédios”
é eficaz - ou parece um sonho distante e inimaginável? Há quem não acredite que
a humanidade possa alcançar uma civilização assim tão segura, pacífica e tranquila
- mas os Bahá’ís acreditam:
Alguns, desconhecendo o poder latente no esforço humano, consideram este
tema altamente impraticável, ou melhor, para lá do âmbito do maior esforço
humano. Contudo, este não é o caso. Pelo contrário, graças à infalível graça de
Deus, à amorosa bondade de Seus favorecidos, aos esforços incomparáveis de
almas sábias e capazes, e aos pensamentos e ideias dos líderes inigualáveis
desta era, absolutamente nada pode ser considerado inatingível. Esforço -
incessante esforço - é necessário. Nada menos do que uma determinação invencível
poderá consegui-lo. Numerosas causas que em tempos passados eram consideradas puramente
visionárias, neste dia tornaram-se muito acessíveis e praticáveis. Por que
deveria esta mais grandiosa e sublime Causa – o sol do firmamento da verdadeira
civilização e a causa da glória, do progresso, do bem-estar e do sucesso de
toda humanidade – ser considerada um feito impossível? Seguramente, virá o dia
virá em que a sua bela luz irradiará esplendor sobre a assembleia do homem.
Com os preparativos continuarem ao ritmo actual, o aparato do conflito
atingirá um ponto em que a guerra se tornará algo intolerável para a
humanidade.
É claro, a partir do que já foi dito, que a glória e grandeza do homem não
consiste em ser ávido por sangue e ter garras afiadas, em arrasar cidades e
espalhar devastação, em massacrar militares e civis. O que seria um futuro
brilhante para ele seria a sua reputação pela justiça, a sua bondade para com
toda a população, fosse rica ou pobre, a sua atitude de edificar países e
cidades, aldeias e bairros, tornar a vida fácil, pacífica e feliz aos seus
semelhantes, estabelecer os princípios fundamentais para o progresso, elevar os
padrões e incrementar a riqueza de toda a população. (Idem)
O mundo continua a mover-se para esta
visão de realização da paz universal. A comunidade das nações fez a sua
primeira dessas tentativas com a Sociedade das Nações, após a Primeira Guerra
Mundial; e tentou de forma mais empenhada, com mais países e criando o conceito
de direitos humanos universais, ao criar as Nações Unidas, após a Segunda
Guerra Mundial. No entanto, nenhuma destas organizações implementou plenamente
a visão de Bahá’u’lláh de um mundo verdadeiramente unido, desarmado e pacífico.
Ainda temos um longo caminho à nossa frente antes de conseguirmos a verdadeira
unidade global.
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Texto
original: A Baha’i Blueprint for Peace (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de
literatura na revista Paste. É também editor e autor do site
www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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