sábado, 16 de março de 2019

O que nos disseram todos os Profetas sobre Deus?

Por Maya Bohnhoff.


As escrituras antigas e recentes dizem-nos que, porque Deus é espírito, Ele delega a professores humanos – tal como Cristo e Bahá’u’lláh disseram – a tarefa de manifestar os Seus “nomes”, as Suas qualidades ou atributos, para a humanidade:
Sabei que Deus – exaltado e glorificado seja – de modo algum manifesta a Sua Essência e Realidade. Desde os tempos imemoriais Ele tem estado velado na eternidade da Sua Essência e oculto na infinidade do Seu próprio Ser. E quando Ele pretendeu manifestar a Sua beleza no reino dos nomes e revelar a Sua glória no reino dos atributos, Ele trouxe os Seus Profetas do plano invisível para o visível… (Bahá’u’lláh, Gems of Divine Mysteries, p. 35)
Milhares de anos antes, Krishna explicou este papel: “Pois eu sou a morada de Brahman (Deus), a fonte constante de vida eterna. A lei da rectidão é a minha lei; e a minha alegria é a alegria eterna”. (Bhagavad Gita 14: 27)

A Torá salienta a singularidade desta relação entre Deus e o mensageiro:
Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, e de vista, e não por figuras; pois ele vê a semelhança do Senhor (Números, 12:6-8)

“Assim”, explicou Buda, “o Tathagata (O Justo) conhece o caminho recto que conduz à união com Brahman (Deus). Ele conhece-o como quem entrou no mundo do Brahman e nasceu nele. Não pode haver dúvida no Tathagata.” (Digha-nikaya 9:35)
Cristo referia-se à Torá quando disse:
Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus. Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a mim. Não é que alguém tenha visto o Pai, a não ser aquele que tem a sua origem em Deus: esse é que viu o Pai. (João 6:45-46)
Então o que é que estes mensageiros nos dizem sobre este ser de quem dizem ser representantes?

Krishna falou bastante sobre isto no Bhagavad Gita, abordando primeiramente a natureza incognoscível do Espírito Supremo:
Mas para lá desta criação visível e invisível, existe um Eterno invisível e superior; e quando todas as coisas falecerem, este permanecerá para todo o sempre. Este invisível é chamado o Perpétuo e é o Fim supremo mais elevado. E aqueles que O atingem, nunca regressam. Esta é a Minha morada suprema. Este Espírito Supremo, Arjuna, é alcançado por um amor sempre vivo. Nele todas as coisas têm a sua vida, e Dele todas as coisas vieram. (Bhagavad Gita 8:20-22)
Seguidamente, ele fala da relação desse Ser com o universo:
Todo o universo visível vem do meu Ser invisível. Todos os seres encontram apoio em mim, mas Eu não Me apoio neles, e, na verdade, eles não se apoiam em Mim. Considera o meu mistério sagrado: Eu sou a fonte de todos os seres, Eu apoio todos mas não Me apoio neles. (Bhagavad Gita 9:4)
Como escritora, “compreendo” perfeitamente o que Krishna que dizer. Posso não compreender Deus directamente, mas compreendo o que é estar e não estar nas minhas criações. Aqui fica a minha perspectiva: Eu estou nos livros que escrevo e nas personagens que crio, mas não na minha totalidade. Eles são reflexos do meu intelecto; sem mim, não existiriam, mas eu não estou ligada a eles pelas leis do universo que criei. Porque é que haveríamos de imaginar que Deus está limitado pelas leis do universo que Ele criou?

Penso que isto é um erro fundamental que fazemos quando pensamos em Deus como sendo um ser como nós, limitado pelas leis da física. Isto faz com que pessoas inteligentes coloquem questões simplistas do tipo “Quem criou Deus?” ou “Será que Deus consegue criar uma pedra tão pesada que Ele próprio não consiga levantar?”.

Isso seria como se uma das personagens dos meus livros perguntasse “Quem escreveu a Autora?” ou “Será que a Autora consegue escrever sobre uma pedra imaginária que ela própria não consegue levantar?” Este tipo de questões é insignificante porque eu não fui criada da mesma forma que elas. As suas vidas estão limitadas pelas palavras do livro, enquanto a minha vida não tem essa limitação. Eu existia antes delas e continuarei a existir quando terminar de escrever o livro.

As questões também são insignificantes porque partem de um pressuposto sobre a dimensão em que vive o Criador/autor. Mesmo na dimensão dos meus mundos imaginários com as suas pedras imaginárias, o conceito de levantar fisicamente um objecto não tem qualquer sentido, pois o mundo em que actuam as minhas personagens é uma realidade intelectual e não uma realidade física.

Compreendo o que isso significa para as personagens e mundos que criei para existirem como realidades intelectuais sem existirem no mundo material. Isto é outra coisa que as escrituras têm afirmado repetidamente: as realidades intelectuais e espirituais precedem a realidade material, e não o inverso.

E por isso, Bahá’u’lláh afirmou:
Velado no Meu Ser imemorial e na eternidade antiga da Minha Essência, conheci o Meu amor por ti; por isso, criei-te, gravei em ti a Minha imagem e revelei-te a Minha beleza. (As Palavras Ocultas, do árabe, #3)

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Texto original: What Have All the Prophets Told Us About God? (www.bahaiteachings.org)

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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