sábado, 21 de março de 2020

Escolher entre o Amor e o Pânico durante a epidemia de Coronavirus

Por Gouya Zamani.


Tenho notado o quanto ficámos nervosos na última semana – correndo em pânico para os supermercados, açambarcando comida enlatada, comida congelada, papel higiénico e desinfectante para as mãos como se fosse o fim do mundo. Isto fez-me pensar muito sobre a forma como estamos a enfrentar esta crise do coronavírus. Esta enorme incerteza deixou as pessoas muito ansiosas, e assim surgiu a tempestade perfeita.

A cobertura mediática constante mostrando consumidores a comprar freneticamente quantidades insensatas de bens essenciais assusta muitos de nós e leva-nos a fazer a mesma coisa. Mas o que é que se passa realmente? As pessoas estão à procura de uma sensação de controlo fazendo compras desenfreadamente, e isso pode ser uma falsa sensação de controlo. Não me interpretem mal. Todos precisamos de estar preparados com comida e outros bens, mas uma acumulação exagerada mostra que a nossa mentalidade de privilegiados não permite que os outros tenham o suficiente.


Como podemos evitar esta armadilha da ansiedade? Lançarmo-nos ainda mais no consumismo pode não ser aquilo que agora precisamos. Talvez existe uma visão mais clara que possamos adoptar durante esta epidemia para que não fiquemos tão perturbados pela incerteza dos acontecimentos.

Podemos usar este tempo em que estamos a trabalhar em casa ou em quarentena para reflectir e pensar mais profundamente sobre o significado da mensagem que estamos a ser forçados a enfrentar. Como evitamos a armadilha da ansiedade? As Escrituras Bahá’ís dizem-nos claramente que existe uma lição espiritual em tudo o que a humanidade enfrenta. Esta crise do coronavírus pode ser o impulso para ficar espiritualmente preparado para qualquer emergência ou desastre que possa acontecer. Açambarcar ou acumular em excesso não alivia a nossa ansiedade. Na verdade, até pode aumentá-la.

As Escrituras Bahá’ís também nos dizem que existe uma força espiritual em jogo. A força óbvia neste momento é a força da unicidade da humanidade. Bahá’u’lláh, o Profeta fundador da Fé Bahá’í, escreveu que “o bem-estar da humanidade, a sua paz e segurança são inatingíveis excepto quando a sua unidade estiver firmemente estabelecida” (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CXXXI).

Vemos ao nosso redor que a aflição é uma só, e que é uma aflição para todos. Tal como Bahá’u’lláh escreveu, “somos todos frutos de uma só árvore e folhas do mesmo ramo”.

Assim, posso começar por mim própria. Pergunto-me como posso pôr os meus princípios em prática junto da minha família e dos meus vizinhos? Como pode cada um de nós fazer a diferença neste momento?

Em vez de açambarcar, podemos continuar a construir comunidades relações de vizinhança onde partilhamos bondade, sabedoria, alimentos e bens essenciais, para nos ajudarmos uns aos outros durante estes tempos difíceis. A nossa família decidiu contactar os vizinhos, abrir a despensa à comunidade e fazê-los saber que é melhor para todos nós sofrermos um pouco do que uma família sofrer muito. Fizemos saber aos nossos vizinhos que os amamos, e que este vírus é uma advertência de que estamos todos juntos nisto. As Escrituras Bahá’ís dizem-nos:
A interdependência dos povos e nações da terra, independentemente do que os líderes das forças divisivas possam dizer ou fazer, é um facto consumado. A sua unidade na esfera económica é agora compreendida e reconhecida. O bem-estar de uma parte significa o bem-estar do todo, e a aflição de uma parte leva a aflição ao todo. (Shoghi Effendi, The Promised Day Is Come)
Sejamos realistas! É com unidade, amor, empatia e consciência espiritual que aliviamos o medo e a ansiedade que vemos à nossa volta. E com amor que podemos enfrentar os maiores obstáculos neste mundo, mesmo quando se trata do coronavírus.

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Texto original: Choosing Love Over Panic During the Coronavirus Outbreak (www.bahaiteachings.org)

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Gouya Zamani é administradora da Cake Second Skin Jewelry e colaboradora do Tahirih Justice Center. Licenciou-se no Art Institute de Seattle e fez a sua carreira no mundo da moda. Tem uma vasta experiência como empresária tendo gerido operações nos EUA, Brasil, China e Itália. Acredita firmemente que a educação é a única forma de diminuir a ignorância e todas as formas de preconceito. A sua missão como Bahá’í e activista inspira pessoas de todas as religiões na defesa de crianças desfavorecidas.

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