sexta-feira, 3 de abril de 2020

O Coronavirus, os nossos Idosos e a nossa Obsessão pela Juventude

Por Michelle Schiefelbein.


Como resultado do recente surto de coronavírus, senti uma necessidade urgente de reflectir sobre os nossos idosos na sociedade americana.

Refiro-me a eles como idosos, e não como velhos, porque muitas vezes a palavra “velho” é usada como sinónimo de decrépito ou frágil. O termo idoso sugere um ser humano que possui um grande conhecimento, sabedoria e experiência de vida para partilhar connosco.

No contexto do vírus, considero como idosos aquelas pessoas com mais de 60 anos, o limite do grupo etário mais vulnerável ao coronavírus. Esta pandemia colocou os nossos idosos no centro das atenções, fazendo-nos pensar colectivamente neles de uma forma que raramente o fazemos. Esta consciência faz-nos pensar no papel dos nossos idosos na nossa sociedade, a forma como os protegemos e evitamos magoá-los.

Apesar de alguns jovens não prestarem atenção a estes idosos, mostrando imprudência, a maior parte dos grupos sociais americanos está agora de olho nos nossos idosos. Sejam pai ou mãe, avós, tios ou tias, ou um colega precioso, ou um mentor ou amigo, todos estamos provavelmente a pensar nos idosos que queremos ajudar a sobreviver a esta pandemia. Tal como sugerem os ensinamentos Bahá’ís, devemos considerar destes idosos nas nossas vidas como parentes próximos:
Não fiqueis satisfeitos enquanto cada um daqueles com vos preocupais seja para vós como um membro da vossa família. Considerai-vos uns aos outros como um pai, ou como um irmão ou como uma irmã, ou como uma mãe, ou como um filho. Se conseguirdes isto, as vossas dificuldades desvanecer-se-ão, e sabereis o que fazer. Este é o ensinamento de Bahá’u’lláh. ('Abdu'l-Bahá, Abdu’l-Baha in London)
Ao reflectir sobre os nossos idosos, penso essencialmente no seu valor, comparado com a posição em que a nossa sociedade os coloca na hierarquia social. De uma forma geral, a nossa cultura, com as suas normas sociais orientadas aos jovens e a sua natureza materialista, não parece valorizar ou respeitar de alguma forma os nossos idosos.

Estou a falar de uma forma geral, porque existem certamente na nossa sociedade indivíduos, famílias e micro-sociedades que valorizam os seus idosos, e que têm um grande respeito pelas suas opiniões, experiência e sabedoria que partilham. Nestas circunstâncias, os idosos são vistos como parte de um todo – um valor que nos leva a procurar os seus conselhos e opiniões.

Mas a sociedade americana em geral não funciona assim. Em vez disso tende a privilegiar os jovens em vez dos idosos, e consequentemente, desvaloriza a sabedoria e a experiência adquirida. Se querem um exemplo, vejam a mentalidade “OK, boomer”, para usar o slogan que despreza e rejeita os pensamentos e opiniões de toda uma geração mais velha.

Claro que os Estados Unidos, devido ao seu colonialismo inicial, são uma sociedade essencialmente materialista, predominantemente liderada homens brancos jovens. Têm dúvidas? Prestem atenção aos programas de TV, filmes, administradores de empresas, apenas como exemplo. Os ensinamentos Bahá'ís dizem-nos que neste momento da história humana temos tendência a centrar as nossas atenções nos aspectos materiais da vida e não nos espirituais.
O amor é o princípio fundamental do propósito de Deus para o homem, e Ele ordenou que nos amassemos uns aos outros tal como Ele nos ama. Todas estas discórdias e litígios que ouvimos em toda a parte apenas tendem a aumentar o materialismo.

A maior parte do mundo está afundada no materialismo, e as bênçãos do Espírito Santo são ignoradas. Existem tão poucos sentimentos espirituais verdadeiros, e o progresso do mundo é maioritariamente material. Os homens estão a tornar-se como bestas mortais, pois sabemos que não têm sentimentos espirituais – não se voltam para Deus, não têm religião! Estas noções pertencem apenas ao homem e se ele não as tiver, ele torna-se um prisioneiro da natureza e não é melhor que um animal. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks)
Embora sempre tenha estado claro para mim, quanto mais velha fico, especialmente sendo mulher, mais óbvio para mim se torna este facto: a desvalorização e minimização dos nossos idosos. A maioria dos idosos confirma isso. Pessoalmente, considero o envelhecimento fascinante, especialmente quando começo a perceber as perspectivas que apenas a idade me pode dar.

Conhecemos uma fórmula que se aplica de forma geral à sociedade americana: Juventude + Beleza = Poder

Há muito tempo que isto é uma verdade. Claro que as definições de beleza variam, assim como as razões para as pessoas idosas terem um papel menos relevante na sociedade. Por exemplo, os idosos em cargos proeminentes na sociedade são maioritariamente homens brancos – incluindo a maioria dos 500 CEOs da revista Fortune – e o seu estatuto sénior pode apenas indicar que já foram jovens naquela mesma posição. Algumas mulheres também chegam lá, mesmo não sendo jovens ou bonitas; mas não são a norma.

Talvez seja necessária uma pandemia para mudar tudo isto - para nos fazer tomar consciência dos contributos poderosos e profundos que os idosos podem ter.

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Texto original: Coronavirus, Our Elders and a Youth-Obsessed Society (www.bahaiteachings.org)

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Michelle Schiefelbein tornou-se Baha’i em 1998. Vive no Missouri com a sua família. É assessora jurídica, proprietária de uma empresa e foi directora executiva da Thunder Eagle Ridge Youth Camp & Retreat, Inc

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