sábado, 19 de setembro de 2020

O Caminho, a Verdade e a Vida

Por Maya Bohnhoff.


Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança. Porque, se, de facto, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras? (5: 45-47)
Quando era Cristã, sempre me pareceu claro que o Judaísmo e o Cristianismo eram etapas reveladas progressivamente da mesma fé. Vários textos bíblicos fazem referência a isto. Um delas, Hebreus 1:1-2, afirma:
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho…
Outra, em Actos 3:20-22, cita o apóstolo Pedro:
... e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade. Disse, na verdade, Moisés: O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser.
Esta passagem é especialmente importante porque mostra a forma como os discípulos entendiam Cristo como “um profeta semelhante a mim”, tal como Moisés profetizara. Na verdade, Pedro cita o livro do Deuteronómio, usando palavras de Moisés.

Isto define a essência da revelação progressiva.

Se o Judaísmo e os Cristianismo são a mesma fé aos olhos de Deus, não será lógico as religiões ensinadas por Krishna, Buda, Zoroastro, Maomé e Bahá’u’lláh sejam também etapas progressivamente reveladas da mesma Fé?

Eu acredito que é assim que trabalha o Deus que Cristo revela nos Evangelhos. O Deus de Cristo é um Pai que ama TODOS os Seus filhos, não apenas alguns favorecidos, Jesus afirma que Deus não alimenta, veste e educa apenas uma criança e deixa outras com fome, com frio e na ignorância. Assim, é lógico que se Deus nos enviou profetas “desde o princípio do mundo”, Ele teria enviado alguns desses profetas aos Seus filhos por todo esse mundo. Ele teria enviado Krishna e Buda à Índia, Zoroastro à Pérsia, Maomé aos povos da Arábia, etc.

Os teólogos Cristãos defendem que Deus tem algumas “providências” para as almas que nunca conheceram Moisés ou Jesus. Os Bahá’ís acreditam que essas providências são semelhantes à providência que Ele ofereceu aos Judeus: o aparecimento de um novo profeta para ensinar a Sua Palavra.

Isto leva-me à segunda questão transmitida por um leitor: “Jesus disse que Ele era o único caminho para conhecer Deus; então como pode existir outro caminho?

Fechámos o círculo na resposta à primeira pergunta sobre como religiões aparentemente diferentes podem ser uma única.

A Bíblia mostra que Deus revela a Sua religião progressivamente, segundo a capacidade da audiência. Mostra que Moisés e Jesus ensinaram a mesma Fé, mas para pessoas com diferentes capacidades e em diferentes momentos. Por isso, esta é a pergunta que se segue: Se Jesus é o único caminho eterno, então os Judeus foram enganados quando seguiram Moisés?

A maioria dos Cristãos rejeita esta ideia. Eles entendem que Moisés era diferentes de outros profetas, conforme se diz explicitamente no Antigo Testamento:
...se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor… (Números 12:6-8)

Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo. (Êxodo 33:11)
Jesus venerava Moisés como o único entre os homens que tinha visto a “forma” de Deus. Jesus afirma esta mesma distinção, conforme registado em João 6:45-46:
Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. Não que alguém tenha visto o Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto.
Nesta passagem e noutras, Jesus afirma – tal como Moisés – que Ele viu Deus face a face. Tal como Moisés, Ele fala com a autoridade de Deus. Seria de admirar que que Ele tivesse enfurecido os Fariseus?

Então, vamos assumir que Deus queria ensinar os Seus outros filhos – os não-Judeus que vivam noutras partes do mundo. Não iria Ele enviar-lhes mensageiros e profetas como Moisés ou Jesus? Vamos supor que sim. Se Moisés e Jesus não são rivais, então porque poderíamos supor que os outros profetas seriam rivais?

Assim, não é surpreendente que cada um desses Mensageiros tenha usado expressões semelhantes para definir a sua relação com Deus e com os seres humanos.
Eu sou o Caminho e o Mestre que ensina em silêncio; o teu amigo e teu abrigo e a tua morada da paz. Eu sou o princípio, o meio e o fim de todas as coisas; a sua semente de Eternidade e seu Tesouro supremo. (Krishna, Bhagavad Gita 9:16-18)

Em verdade, este é o caminho – não existe outro – para a purificação da visão. Segui este Caminho. Ensinei-vos o Caminho… fazer o esforço é convosco. (Gautama Buddha, Dhammapada vs. 274-276)

Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. (João 14:6-7)

Este é o caminho do Senhor, que conduz à rectidão: detalhámos os sinais para aqueles que receberam a advertência. Para eles haverá um lar de paz na presença do seu Senhor: Ele será amigo deles porque eles praticaram [a rectidão]. (Alcorão 6:126-127)

...Ele manifestou aos homens as Estrelas da Sua orientação Divina, os Símbolos da Sua unidade divina, e decretou que o conhecimento destes Seres santificados fosse idêntico ao conhecimento do Seu próprio Ser. Quem os reconheceu, reconheceu Deus. Quem deu ouvidos aos Seus chamamentos, deu ouvidos à voz de Deus, e quem testemunhou a verdade das Suas revelações, testemunhou a verdade do próprio Deus… Cada um deles é o Caminho de Deus que liga este mundo aos reinos do alto… Eles são os Manifestantes de Deus entre os homens, as evidências da Sua Verdade, os sinais da Sua glória. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXI)
Por isto, todas as fés podem ser uma única, e todas conduzem ao bem – da mesma forma que a fé ensinada por Abraão, José, Moisés e Jesus era apenas uma.

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Texto original: The Way, the Truth, the Life (www.bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.


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