sábado, 10 de dezembro de 2022

O Vale das Lágrimas – Sofrimento e Alegria no Mundo Material

Por David Langness.


Ó FILHO DO HOMEM!
Não te entristeças salvo por te encontrares longe de Nós; não te regozijes salvo por te estares a aproximar e a regressar a Nós.

Ó FILHO DO HOMEM!
Regozija-te na alegria do teu coração, para que possas ser digno de Me encontrar e de espelhar a Minha beleza. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do árabe, #35, #36)

O mundo está repleto de sofrimento, disse-nos Gautama Buda há alguns milhares de anos. Os Cristãos chamam “Vale de Lágrimas” a este conceito. Inúmeros poetas e profetas descreveram esta existência material como uma luta constante, uma batalha árdua e perpétua contra a morte, um lugar onde todos nós somos atingidos pela tristeza e pela dor. Parece maravilhoso, não é?

Qualquer pessoa pode dizer que o sofrimento é uma parte inevitável da existência humana. Todos nós passamos por isso. Mas aqui, nestas duas citações das Palavras Ocultas de Bahá'u'lláh, percebemos como transcender o nosso sofrimento e alcançar a alegria.

Nestas duas breves frases Bahá’u’lláh pede-nos que nos regozijemos, que vivamos com alegria e felicidade apesar do sofrimento que encontramos aqui na Terra. O Seu conselho tem a mesma origem que os conselhos de Buda e Cristo - entender o sofrimento da vida e, ainda assim, pede-nos que lhe demos uma resposta alegre:

Somos formados e moldados pelos nossos pensamentos. Aqueles cujas mentes estão moldadas por pensamentos puros dão alegria quando falam ou agem. A alegria segue-os como uma sombra que nunca os abandona. (Buddha, The Tipitaka)

Que Deus, de quem vem a esperança, vos encha de toda a alegria e de paz na fé, para que essa esperança seja cada vez maior, pelo poder do Espírito Santo. (Romanos 15:13)

“Regozija-te com a alegria do teu coração”, pede-nos Bahá'u'lláh. Mas podemos encontrar essa alegria e júbilo? Vem da proximidade com Deus, Bahá'u'lláh diz-nos nas primeiras linhas d’O Livro da Certeza:

Nenhum homem alcançará as margens do oceano da verdadeira compreensão excepto se se desprender de tudo o que está no céu e na terra. Santificai as vossas almas, ó povos do mundo, para que, porventura, consigais alcançar a posição que Deus vos destinou...

A essência destas palavras é esta: aqueles que percorrem o caminho da fé, aqueles que estão sequiosos pelo vinho da certeza, devem purificar-se de tudo o que é terreno – os seus ouvidos das conversas fúteis, as suas mentes das imaginações frívolas, os seus corações dos afectos mundanos, os seus olhos daquilo que perece. Devem colocar a sua confiança em Deus e, segurando-se firmemente a Ele, seguir o Seu caminho. Então tornar-se-ão dignos das glórias fulgurantes do sol do conhecimento e compreensão divinas e serão recipientes de uma graça que é infinita e invisível, pois o homem nunca pode esperar atingir o conhecimento do Todo-Glorioso, nunca poderá sorver do rio do conhecimento e sabedoria divinas, nunca poderá entrar na morada da imortalidade, nem partilhar o cálice da proximidade e favor divinos, a menos que deixe de considerar as palavras e actos dos homens mortais como padrão para a verdadeira compreensão e reconhecimento de Deus e dos Seus Profetas. (Kitab-i-Iqan, ¶1-2)

Esta mensagem mística significa mais do que apenas meditar e orar para nos aproximarmos de Deus. Em vez disso, significa dedicar as nossas vidas a um propósito mais elevado e mais espiritual. Significa dedicarmo-nos ao serviço à humanidade. Significa construir a unidade com os outros através do amor e da bondade. Significa investigar a verdade de forma cuidadosa e inteligente; desenvolver virtudes e um carácter louváveis, e trabalhar pela causa da paz universal. Aproximarmo-nos de Deus, diz Bahá'u'lláh, significa sacrificar os níveis inferiores do eu para atingir os níveis superiores de separação e crescimento espiritual. Proximidade com Deus, ensina-nos Bahá'u'lláh, significa adquirir e reflectir as qualidades divinas.

Neste mundo, contamos o nosso dinheiro e os nossos bens para medir a riqueza. No outro mundo, dizem os ensinamentos Bahá'ís, a riqueza é a proximidade de Deus.

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Texto original: The Valley of Tears – Suffering and Joy in the Material World (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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