sábado, 27 de abril de 2024

O Universo teve um início?

Por David Langness.


Hoje, muitos cientistas aceitam que o universo começou com um “Big Bang” – uma expansão massiva de matéria e energia que ocorreu quando uma singularidade hiper-densa e sobreaquecida se tornou o universo conhecido.

Esse modelo cosmológico resulta do rastreamento da expansão contínua do Universo no tempo, há 13,8 mil milhões de anos, onde toda a matéria e energia podem ter emergido de um estado inicial de densidade e temperatura extremas, onde as leis da física tal como as conhecemos hoje não se aplicavam.

Como é que a ciência vê um passado tão distante? Bem, actualmente a teoria do Big Bang ainda é apenas uma teoria, mas oferece aos cientistas uma explicação abrangente e adequada para toda uma série de observações e medições envolvendo luz, calor, radiação cósmica de fundo e a Lei de Hubble, a observação de que as galáxias mais distantes se estão a afastar umas das outras numa velocidade mais elevada.

A teoria do Big Bang faz sentido quando se considera um facto importante: sabemos hoje que a distância entre as galáxias está a aumentar, o que deve significar que as galáxias estavam mais próximas umas das outras no passado.

Mas nem todos os cientistas acreditam na teoria do Big Bang.

Primeiro, o modelo cosmológico do Big Bang não explica o motivo da existência da energia, do tempo e do espaço – em vez disso, apenas descreve o nascimento do nosso universo actual a partir de um estado inicial ultradenso e de alta temperatura, para lá do qual os cientistas não conseguem “ver”. Esse estado, acreditava o físico Stephen Hawking, pode ter vindo de algo a que ele chamou “proposta sem fronteiras”, em que o tempo e o espaço são finitos, mas não têm quaisquer fronteiras ou pontos de partida ou de chegada. (Quer um quebra-cabeças difícil de resolver? Tente visualizá-lo…)

James Peebles
Em segundo lugar, e talvez mais importante, alguns cientistas conceituados que estudam o começo do universo não gostam muito da teoria do Big Bang, porque apenas podemos inferir a sua existência, em vez de prová-la. Jim Peebles, professor emérito de ciências na Universidade de Princeton e co-vencedor do Prémio Nobel de Física de 2019, disse recentemente que não acredita necessariamente na teoria do Big Bang, devido à falta de evidências concretas de apoio: “É muito lamentável que se pense no começo, quando, na verdade, não temos uma boa teoria sobre algo como sendo o começo.

Isto sugere, tal como dizem os ensinamentos Bahá’ís, que o universo pode não ter tido um início:

Sabe que é uma das questões mais obscuras da divindade a de que o mundo da existência - isto é, esse infinito universo - não teve início…

...a não-existência absoluta não tem capacidade para alcançar a existência. Se o universo fosse um puro nada, a existência nunca teria acontecido. Assim, tal como a Essência da Unidade, ou o Ser divino, é eterno e perpétuo - isto é, não tem início nem fim - sucede que o mundo da existência, este universo ilimitado, da mesma forma, também não tem início… (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pag. 207-208)

O mundo da criação não teve princípio e não terá fim, porque é a arena onde os atributos e qualidades do espírito se manifestam. Podemos limitar Deus e o Seu poder? Da mesma forma não podemos limitar as Suas criações e atributos. Assim como a realidade da divindade é ilimitada, também a Sua graça e generosidade são ilimitadas. (‘Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, p. 169)

Alguns podem ser tentados a comparar estas afirmações dos ensinamentos Bahá'ís com outra teoria científica chamada “modelo do estado estacionário”, que também pressupõe a existência eterna do universo. Mas um grande conjunto de evidências, incluindo a existência de radiação cósmica de fundo omnipresente, até agora desacreditou em grande parte essa teoria. Os ensinamentos Bahá’ís, em vez de aceitarem a teoria do Big Bang ou o modelo do estado estacionário, dizem simplesmente que o Criador não tem princípio nem fim e, portanto, a criação também não tem nenhum dos dois:

Louvado seja Deus, o Possuidor de tudo, o Rei de glória incomparável, um louvor que está incomensuravelmente acima da compreensão de todas as coisas criadas e é exaltado acima do alcance das mentes dos homens. (…) Quão indescritivelmente sublimes são os sinais do Seu poder consumado, do qual um único sinal, por muito insignificante que seja, deve transcender a compreensão de tudo o que, desde o início que não teve início, foi trazido à existência, ou será criado no futuro até ao fim que não tem fim…

As maravilhas da Sua generosidade nunca podem cessar, e o fluxo da Sua graça misericordiosa nunca pode ser interrompido. O processo da Sua criação não teve princípio e não pode ter fim. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXVI)

Mas porque deveríamos preocupar-nos com tudo isso? Qual a importância de uma antiga questão científica e teológica sobre o passado distante, e a origem ou não origem do universo? Tal como salientam os ensinamentos Bahá’ís, estas questões científicas esclarecem um conceito extremamente importante: se o próprio universo não tem fim, então nós também não:

A alma não é uma combinação de elementos, não é composta por muitos átomos; é uma substância indivisível e, portanto, eterna. Está inteiramente fora da ordem da criação física; é imortal!

A filosofia científica demonstrou que um elemento simples (“simples” significa “não composto”) é indestrutível, eterno. A alma, não sendo uma composição de elementos, é, em carácter, um simples elemento e, portanto, não pode deixar de existir. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 90)

Se reflectirmos sobre esta relação entre o universo ilimitado e o nosso espírito humano ilimitado, poderemos ver e começar a compreender o que Bahá’u’lláh e todos os profetas antes dele proclamaram:

Quanto à tua pergunta sobre a origem da criação. Sabe com certeza que a criação de Deus existe desde a eternidade e continuará a existir para sempre. O seu princípio não teve princípio e o seu fim não conhece fim. O Seu nome, o Criador, pressupõe uma criação, assim como o Seu título, o Senhor dos Homens, deve envolver a existência de um servo. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXVIII)

Sabe decerto que a alma após a sua separação do corpo, continuará a progredir até atingir a presença de Deus, num estado e condição que nem a revolução dos séculos e das eras, nem as mudanças e casualidades no mundo, podem alterar. Perdurará enquanto perdurar o Reino de Deus, a Sua soberania, o Seu domínio e poder. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXXI)

Tal como a criação, a alma humana individual existe eternamente. O reconhecimento desse facto, por parte de cada pessoa, cria a realização mais transformadora que podemos alcançar. A Fé Bahá’í lembra-nos a todos que cada um de nós tem uma alma eterna:

O conceito de aniquilação é um factor de degradação humana, uma causa de aviltamento e baixeza humana, uma fonte de medo e abjecção humana. Conduziu à dispersão e ao enfraquecimento do pensamento humano, ao passo que a realização da existência e da continuidade tem elevado o homem à sublimidade dos ideais, ao estabelecimento das bases do progresso humano e ao estimulo do desenvolvimento das virtudes celestiais; portanto, cabe ao homem abandonar os pensamentos de inexistência e morte, que são absolutamente imaginários, e ver-se sempre vivo, eterno no propósito divino da sua criação. Ele deve afastar-se das ideias que degradam a alma humana, para que, dia a dia e hora a hora, ele possa evoluir cada vez mais para a percepção espiritual da continuidade da realidade humana. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 90)

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Texto original: Does the Universe Have a Beginning? (www.bahaiteachings.org)


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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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