sábado, 11 de janeiro de 2025

Não tenho medo da morte, por isso vou viver para um lar de idosos!

Por Mahin Pouryaghma.


Estou em preparativos para me mudar para um lar de idosos. Olho ao meu redor, no meu pequeno apartamento, preparando-me para esta última mudança, antes daquela derradeira mudança que todos devemos fazer.

Vejo tantas coisas que em determinados momentos da minha vida adorei e guardei na memória, que em breve irei abandonar. Olho para trás, para a minha vida, e pergunto-me o que realmente consegui.

Numa das gavetas do meu arquivo, encontro os restos de quatro diplomas académicos, os trabalhos de investigação que escrevi e muito mais. À medida vou deitando fora tudo isto, fico surpreendida por não sentir absolutamente nenhuma dor ou arrependimento. Percebo que guardá-los todos estes anos foi apenas o peso de um amontoado de papéis e livros que, nesta altura da minha vida, não têm valor nem significado.

E por cada coisa que deito fora, sinto-me mais leve. Uma sensação de liberdade apodera-se de mim, e esta libertação do peso da minha alma e das minhas emoções deixa-me feliz. Finalmente, estou em paz.

Por um lado, estes diplomas e trabalhos, são tão antigos que ninguém, no seu juízo perfeito, quereria as minhas descobertas imaturas ou os resultados da minha investigação, uma vez que, desde então, temos assistido a uma enorme explosão de novas informações. No que diz respeito às coisas materiais no meu apartamento, que não posso ou não quero levar para o meu novo lar, percebo que elas não têm absolutamente nenhum significado ou valor - parecem-me estranhas, e mal posso esperar por me livrar delas.

Então, pergunto-me, o que tenho eu agora que posso assumir como meu?

Na verdade, tenho muito coisa, tanta coisa que não consigo contar. No decorrer da minha vida, acumulei uma quantidade enorme de verdadeiros tesouros duradouros – o amor da Fé Bahá’í e de Bahá’u’lláh; os amigos queridos e altruístas que me mantêm no caminho íntegro; e a recompensa vitalícia de servir aos poderosos ideais da minha Fé – a unidade da humanidade, a unidade e a paz globais, e o amor por todos.

À medida que diminui a minha capacidade para ajudar e servir fisicamente os outros, e a minha memória, especialmente a de curto prazo, começou a falhar, também estou a aprender algo novo: que posso tolerar cada vez mais as perdas da minha vida e realmente rir delas, de todo o coração, porque elas são realmente engraçadas.

Estou feliz com a mudança para uma bela unidade de apoio a idosos. Estou feliz também por esta oportunidade que Deus, o Todo-Misericordioso, colocou à minha frente. Então agora é a hora de decidir o que levar comigo – e que será o mínimo – e também como me livrar dos restos do que acumulei durante quase 60 anos de vida nesta parte do mundo. Quando vivermos o suficiente, todos nós acabaremos por enfrentar este tipo de decisão.

Lembro-me de quando deixei o Irão, o meu país natal, com apenas uma mala meio cheia. Lembro-me de há apenas dois anos, quando vendi a minha casa, tive de me desfazer de muitas coisas para me mudar para o apartamento onde vivo agora. Hoje tenho de abdicar da maior parte dos meus bens, porque para onde me vou mudar será o último lugar onde vou viver – para além daquela que será a minha última morada, que como disse uma vez uma grande pessoa com bom sentido de humor, tem apenas um metro e oitenta de comprimento.

Pergunto-me: como me sinto emocionalmente e o que estou a aprender?

Parece-me que nenhum de nós quer realmente morrer, independentemente da condição em que nos encontremos. Mas não temo a morte. Sinto-me muito sortuda por ser Bahá’í, porque Bahá’u’lláh escreveu n’ As Palavras Ocultas que:

Fiz da morte uma mensageira de alegria para ti. Porque te lamentas? Fiz a luz para derramar sobre ti o seu esplendor? Porque te ocultas dela?

Com as alegras novas de luz, Eu te saúdo; regozija-te! À corte da santidade, Eu te chamo; permanece aí para que possas viver em paz para sempre.

Acredito nisto e estou realmente ansiosa para ir onde aquele mensageiro de alegria me possa transmitir a mensagem que desejo.

Por outro lado, todos nós ainda queremos manter um controlo firme sobre a vida neste mundo material. Afinal, é o que conhecemos. Por um lado, uma pequena parte de mim quer ficar com os meus bens, mas por outro lado estou muito feliz por já não fazer tarefas domésticas e estar sobrecarregada com a posse de tantas coisas. Por outras palavras, sinto uma fricção entre o meu ego e o meu eu espiritual.

Acho interessante, enquanto ser humano, observar em primeira mão esta luta tão pessoal. Penso que quanto mais o meu eu espiritual tem sucesso, mais feliz eu sou – e, mais importante, vejo melhor a mão do nosso Criador na minha felicidade. Quando sou forçada a renunciar ao meu ego e a permitir que a vontade de Deus me conduza, é maravilhoso não ter a responsabilidade de tomar essas decisões sozinha. Porquê lutar para seguir o meu próprio caminho, quando o nosso Criador pode fazê-lo por nós em menos de um piscar de olhos e o resultado será um milhão de vezes melhor?

Espero continuar a crescer espiritualmente, por isso peço a todos que rezem por este desejo, por mim e por vós.

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Texto original: I Don’t Fear Death, So Yay! I’m Moving to Assisted Living! (www.bahaiteachings.org)


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Mahin Pouryaghma, tem quase 87 anos, e é iraniana. Desde 1964 que vive na América do Norte e actualmente vive em Marshallville, Geórgia. Mahin comprometeu-se com a Fé Bahá’í desde os seus 30 anos, com o objectivo de servir Deus servindo a humanidade.

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