Alguma vez viram uma miragem? A maioria de nós já testemunhou estes fenómenos ópticos temporários e naturais, onde a luz é refractada para formar uma imagem que parece real.
Um dos tipos mais comuns de miragem – um corpo de água distante que aparece num deserto seco ou ao longe na estrada – acontece geralmente em dias quentes. O intenso azul cintilante do céu reflete-se no chão e de repente parece surgir um lago.
Mas as miragens não são alucinações. Em vez disso, são criadas pelos raios de luz, porque viajam através de diferentes camadas de ar com temperaturas diferentes e curvam-se em conformidade. A luz que vem do topo de um objecto – o céu, por exemplo – chegará ao olho humano mais abaixo do que a luz que vem de baixo. Cria-se assim uma imagem invertida, que cria a ilusão do céu como água.
Da mesma forma, os problemas, as dificuldades e as provações deste mundo material parecem tão reais – mas os ensinamentos Bahá’ís dizem que são, em última análise, uma miragem:
Não te lamentes pelos infortúnios e aflições neste mundo inferior, nem te alegres em tempos de facilidade e conforto, pois ambos passarão. A vida presente é como uma onda que se eleva, ou uma miragem, ou sombras à deriva. Poderá alguma vez uma imagem distorcida no deserto oferecer águas refrescantes? Não, pelo Senhor dos Senhores! Nunca a realidade e a mera aparência de realidade poderão ser a mesma coisa, e é vasta a diferença entre fantasia e realidade, entre a verdade e a sua ilusão.
Sabe que o Reino é o mundo real, e que este mundo inferior é apenas a sua sombra que se estende. Uma sombra não tem vida própria; a sua existência é apenas uma fantasia, e nada mais; são apenas imagens que se reflectem na água e parecem imagens aos olhos. (Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá, #150)
Numa perspectiva espiritual, podemos considerar a natureza transitória deste mundo, o lugar físico a que chamamos casa, também como uma miragem. Para todos nós, esta miragem não durará mais de cem anos– e então passaremos para o outro mundo, onde os aspectos materiais da vida já não têm qualquer realidade duradoura.
É claro que este mundo em que todos vivemos agora também não é uma alucinação – é demasiado real, como cada sabemos – mas os ensinamentos Bahá’ís dizem que a sua realidade se desvanece em comparação com a existência eterna que está para lá desta existência temporária.
Na verdade, o calendário Bahá’í designa vários dias em cada ano que simbolizam o alcançar o Reino de Deus e habitar esse reino eterno. Ayyam-i-Ha, o nome árabe para os quatro ou cinco Dias Intercalares Bahá’ís que ocorrem nesta época do ano, refere-se simbolicamente à vida eterna da alma, indo além dos atributos e características do Criador e focando-se numa futura existência que ultrapassa todo o tempo:
Ó Filho da Mundanidade! Agradável é o reino da existência, se tu o alcançasses; glorioso é o domínio da eternidade, se passares para lá do mundo da mortalidade; doce é o êxtase sagrado, se beberes do cálice místico das mãos do Jovem celestial. Se alcançares esta condição, serás libertado da destruição e da morte, da azáfama e do pecado. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do persa, #70)
Empenhai-vos e esforçai-vos por alcançar esta condição elevada, e fazer brilhar o seu esplendor por todos estes reinos da Terra, de modo que os seus raios sejam reflectidos a partir de um ponto de alvorada no horizonte da eternidade. Este é o próprio fundamento da Causa de Deus. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #207)
O profeta e fundador da Fé Bahá’í, Bahá’u’lláh, designou os Dias Intercalares anuais “no meio de todas as noites e dias” como um momento para reconhecer directamente e louvar e celebrar com alegria a Essência Divina. Os dias sagrados do Ayyam-i-Ha, separados que estão do ciclo comum de semanas e meses, permitem-nos transcender simbolicamente o calendário – da mesma forma que a realidade infinita do Criador transcende o tempo e o lugar. Ayyam-i-Ha representa a infinitude, as realidades eternas e duradouras da existência, a contemplação do mistério e da essência incognoscível do Ser Supremo:
Ó amados de Deus! Sabei que o mundo é como uma miragem surgindo sobre as areias, que o sedento confunde com água. O vinho deste mundo não passa de um vapor no deserto, a sua piedade e compaixão são apenas azáfama e problemas, o repouso que proporciona é apenas cansaço e tristeza. Abandonai-o para aqueles que lhe pertencem e voltai o vosso rosto para o Reino do vosso Senhor, o Todo-Misericordioso, para que a Sua graça e generosidade possam lançar os Seus esplendores sobre vós, e uma mesa celestial possa ser enviada para vós, e o vosso Senhor possa abençoar-vos, e derramar as Suas riquezas sobre vós para alegrar os vossos seres e encher os vossos corações de felicidade, atrair as vossas mentes, purificar as vossas almas e consolar os vossos olhos. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #157.2)
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FONTE: Is the Material World a Mirage? (www.bahaiteachings.org)
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