sábado, 31 de maio de 2025

Einstein acreditava num Criador?

Por Vahid Houston Ranjbar.


Há pessoas que adoptam um conceito muito abstrato de Deus, conceito esse que é referido como o Deus de Einstein.

Einstein referiu-se a si próprio como um crente “panteísta” no “Deus de Espinosa” — um Ser Supremo abstrato e impessoal. Sentia também que o problema de Deus era “o mais difícil do mundo” e considerava-o “demasiado vasto para as nossas mentes limitadas”. Ele disse:

Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na harmonia jurídica do mundo, e não num Deus que se preocupa com o destino e as ações da humanidade. (Albert Einstein, entrevista com George Sylvester Viereck, Glimpses of the Great, p. 375)

Embora possa discordar dos detalhes do panteísmo de Einstein, ainda me sinto filosoficamente muito próximo desta abordagem, tal como muitos cientistas modernos. Na verdade, o Deus de Einstein pode ser aplicado ao que eu chamo de “Deus na sua essência”.

Como Bahá'í, negaria qualquer conhecimento pessoal directo de Deus. No entanto, acredito que existe um Criador real manifesto no universo, abstraído sob este "Deus na sua essência", que está consciente, é pessoal, e que tem sido descrito através de mensageiros ao longo da história humana — o mesmo Deus teísta descrito pelos profetas e fundadores das principais religiões. Os ensinamentos Bahá’ís referem-se a este Criador como uma “Essência” incompreensível e incognoscível:

Sabei que a realidade da Divindade e a natureza da Essência divina é a sacralidade inefável e a santidade absoluta; isto é, está exaltado acima e santificado para além de todo o louvor. Todos os atributos conferidos aos mais elevados graus da existência são, em relação a esta condição, mera imaginação. O Invisível e o Inacessível nunca poderão ser conhecidos; a Essência absoluta nunca poderá ser descrita. Pois a Essência divina é uma realidade abrangente, e todas as coisas criadas são abrangidas. O que tudo abrange deve ser certamente maior do que aquilo que é abrangido, e assim este último não pode de modo algum descobrir o primeiro ou compreender a sua realidade. Por muito que as mentes humanas possam evoluir, mesmo que alcancem o mais elevado grau da compreensão humana, o limite máximo desta compreensão é contemplar os sinais e os atributos de Deus no mundo da criação e não no reino da divindade. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 165)

Compare-se esta perspectiva, originalmente expressa por ‘Abdu’l-Bahá em 1904, com a de Einstein, numa entrevista que deu em 1930:

A mente humana, por muito bem treinada que esteja, não consegue compreender o universo. Estamos na condição de uma criança pequena, a entrar numa enorme biblioteca cujas paredes estão cobertas até ao tecto com livros em muitas línguas diferentes. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros. Não sabe quem, nem como. Ele não compreende as línguas em que estão escritos. A criança nota um plano definido na disposição dos livros, uma ordem misteriosa, que não compreende, mas apenas suspeita vagamente. Esta, parece-me, é a atitude da mente humana, mesmo a mais grandiosa e culta, em relação a Deus. Vemos um universo maravilhosamente organizado, obedecendo a determinadas leis, mas compreendemos essas leis apenas vagamente. As nossas mentes limitadas não conseguem compreender a força misteriosa que influencia as constelações. (Albert Einstein, entrevista com George Sylvester Viereck, Glimpses of the Great, pp. 372-373)

Apesar destas visões sofisticadas de um Motor Imóvel no universo, a religião, em particular grande parte do teísmo tradicional, parece estar em total declínio na cultura mais ampla. Cada vez menos pessoas, sobretudo os jovens, querem ter qualquer relação com a fé religiosa tradicional. Na minha experiência, os ataques ao teísmo parecem estar a crescer na natureza da sua crueldade, no ridículo e no escárnio, espalhando-se para além da classe intelectual tradicional e atingindo todas as classes sociais. À medida que este tipo de descrença se espalha, o antagonismo dirigido à religião parece crescer, alimentado por um sentimento de traição e pela raiva de se sentir enganado.

Muitos observadores atribuem esta tendência ao assassinato em massa, à tirania, à corrupção e à celebração da ignorância perpetrados em nome da religião, tanto no passado como no presente. Por vezes, porém, a rejeição do teísmo tornou-se tão dogmática e irrefletida que reflete a mentalidade do literalista ultrarreligioso — sendo qualquer indício de teísmo considerado uma espécie de ilusão anticientífica e tirânica, rejeitado sem qualquer consideração. Por outro lado, aqueles que ainda se agarram às crenças tradicionais literalistas, embora em declínio, tornaram-se agora mais incisivos na sua rejeição da ciência e do intelectualismo.

É claro que muitos teístas aceitam a racionalidade e a autoridade da ciência moderna, mas as suas vozes parecem mais fracas e os argumentos para a crença mais vagos, e por vezes a ciência parece opor-se à sua posição.

Em apoio desta posição — uma fé firme num Criador coerente e coexistente com uma aceitação racional das verdades exemplificadas pela ciência — quero expor as minhas razões lógicas para a crença no segundo ensaio desta série de três partes.

Devo dizer em primeiro lugar, porém, que tenho outras razões mais importantes baseadas na minha experiência pessoal com as Escrituras de Bahá’u’lláh, a oração e a meditação, mas estas podem não ser facilmente compreendidas por outros — pelo que, no próximo ensaio, vou cingir-me à razão, à lógica e à ciência, tal como Einstein fez.

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Texto original: Did Einstein Believe in a Creator? (www.bahaiteachings.org)


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Vahid Houston Ranjbar é um físico que trabalha no Relativistic Heavy Ion Collider no Brookhaven National Labs.

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